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POLÍTICA SALARIAL
Especialistas da área se dividem sobre a proposta do presidente de desvincular a Previdência do mínimo
Seria "dano irreparável", dizem aposentados
VIRGILIO ABRANCHES
DA REDAÇÃO
Representantes dos aposentados atacaram ontem a proposta
defendida pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva de desvincular os benefícios da Previdência
do reajuste do salário mínimo e
disseram que causaria empobrecimento e um "dano irreparável".
"Não concordamos em hipótese alguma", afirmou Antônio
Carlos Domingues da Costa, presidente da Anap (Associação Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos). "Se, mesmo vinculado, o reajuste já é baixo, imagine se não fosse. Qual é a garantia
que os aposentados têm? Seria um
dano irreparável. E o pior é que
essa proposta parte do PT, que
sempre foi contrário. Aliás, tudo o
que eles falavam que eram contra,
hoje são a favor. E vice-versa."
Para o presidente da Federação
dos Aposentados e Pensionistas
de Minas Gerais, Hermélio Soares
Campos, com a medida, o salário
dos aposentados vai achatar. "A
gente vai ficar em situação de impossibilidade de sobrevivência."
A proposta ainda dividiu especialistas no assunto. Para o economista Marcelo Néri, da Fundação
Getúlio Vargas, a medida é "supérflua". Ele diz que o governo
deveria se preocupar em ampliar
os recursos do Bolsa-Família
(programa de transferência de
renda) e deixar nas mãos dos Estados a "pressão" pelo reajuste do
salário mínimo: "A legislação permite que o governo diga aos Estados: "Vocês querem um mínimo
maior? Então aumentem vocês'".
Já para o especialista em previdência Kaizô Beltrão, do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), desvincular o mínimo dos benefícios previdenciários é um avanço. "Poderia haver
reajuste para o mínimo e para os
benefícios da Previdência. Mas só
o do mínimo viria acompanhado
de ganhos [acima da inflação]."
Ele faz, porém, uma ressalva: "Se
o governo diminuísse o informalismo, teria resultado melhor".
Na avaliação de Jorge Arbache,
professor de economia da UnB
(Universidade de Brasília), a proposta pode ser positiva, uma vez
que a discussão sobre a desvinculação implicaria num debate sobre a regionalização do mínimo.
"Se o Brasil fosse a Finlândia, o
valor poderia ser igual. Mas o país
é muito heterogêneo. Não dá para
ter um preço único", afirmou.
Colaborou JULIA DUAILIBI, da Reportagem Local
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