São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÍTICA SALARIAL

Especialistas da área se dividem sobre a proposta do presidente de desvincular a Previdência do mínimo

Seria "dano irreparável", dizem aposentados

VIRGILIO ABRANCHES
DA REDAÇÃO

Representantes dos aposentados atacaram ontem a proposta defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de desvincular os benefícios da Previdência do reajuste do salário mínimo e disseram que causaria empobrecimento e um "dano irreparável".
"Não concordamos em hipótese alguma", afirmou Antônio Carlos Domingues da Costa, presidente da Anap (Associação Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos). "Se, mesmo vinculado, o reajuste já é baixo, imagine se não fosse. Qual é a garantia que os aposentados têm? Seria um dano irreparável. E o pior é que essa proposta parte do PT, que sempre foi contrário. Aliás, tudo o que eles falavam que eram contra, hoje são a favor. E vice-versa."
Para o presidente da Federação dos Aposentados e Pensionistas de Minas Gerais, Hermélio Soares Campos, com a medida, o salário dos aposentados vai achatar. "A gente vai ficar em situação de impossibilidade de sobrevivência."
A proposta ainda dividiu especialistas no assunto. Para o economista Marcelo Néri, da Fundação Getúlio Vargas, a medida é "supérflua". Ele diz que o governo deveria se preocupar em ampliar os recursos do Bolsa-Família (programa de transferência de renda) e deixar nas mãos dos Estados a "pressão" pelo reajuste do salário mínimo: "A legislação permite que o governo diga aos Estados: "Vocês querem um mínimo maior? Então aumentem vocês'".
Já para o especialista em previdência Kaizô Beltrão, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), desvincular o mínimo dos benefícios previdenciários é um avanço. "Poderia haver reajuste para o mínimo e para os benefícios da Previdência. Mas só o do mínimo viria acompanhado de ganhos [acima da inflação]." Ele faz, porém, uma ressalva: "Se o governo diminuísse o informalismo, teria resultado melhor".
Na avaliação de Jorge Arbache, professor de economia da UnB (Universidade de Brasília), a proposta pode ser positiva, uma vez que a discussão sobre a desvinculação implicaria num debate sobre a regionalização do mínimo.
"Se o Brasil fosse a Finlândia, o valor poderia ser igual. Mas o país é muito heterogêneo. Não dá para ter um preço único", afirmou.


Colaborou JULIA DUAILIBI, da Reportagem Local

Texto Anterior: Oposição propõe salário de R$ 275
Próximo Texto: Racha na base: Presidente afirma que reeleição no Congresso não é assunto do governo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.