São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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QUEDA-DE-BRAÇO

Declaração foi resposta à promessa do ministro da Casa Civil de aumentar tom das críticas dirigidas ao PSDB

Dirceu age como líder estudantil, diz Tasso

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma das principais lideranças do PSDB e opositor moderado do governo Lula, o senador Tasso Jereissati (CE) disse ontem à Folha que o ministro José Dirceu (Casa Civil) faz "política com o fígado" e que isso "é prejudicial ao governo e principalmente ao país".
"Um homem de governo, de Estado, não pode fazer política com o fígado. Por definição, deve ser um pacificador, um conciliador, e não alguém que estimule conflitos e atraia atritos para o governo", afirmou Tasso, ao comentar as recentes declarações de Dirceu de que aumentaria o tom das críticas aos tucanos.
"O ministro José Dirceu está confundindo as coisas. Ele não é mais um líder estudantil. Um homem de Estado tem de deixar o fígado em segundo plano."
Em jantar com intelectuais na semana passada, Dirceu disse: "Vamos mostrar tudo de errado que eles [tucanos] fizeram [no governo FHC, de 1995 a 2002]". No encontro, o ministro da Casa Civil disse que, "aos poucos", aumentaria o tom crítico em relação ao PSDB. O ministro atribui a tucanos parte da ampla repercussão do caso Waldomiro Diniz.
O caso Waldomiro gerou a pior crise do governo Lula. Ex-homem-forte de Dirceu, Waldomiro apareceu em vídeo pedindo propina a um empresário de jogos. Na época da gravação (2002), ele ainda não estava no governo federal, mas ocupava a subchefia de Assuntos Parlamentares do Planalto quando o vídeo foi revelado.
Procurado pela Folha, o ministro Dirceu não respondeu às críticas até a conclusão desta edição.
Tucano que ajudou o governo a aprovar reformas constitucionais em 2003, Tasso afirmou que é um erro Dirceu, pelo "alto posto que ocupa", abandonar o diálogo com a oposição, posição que ele vê nas recentes declarações do ministro.
Os ataques de Dirceu ao PSDB reaproximaram os moderados do partido da ala que defende críticas mais duras à gestão Lula. Na visão de Tasso, Dirceu estimula isso ao elencar os tucanos como inimigos prioritários do governo e do PT nas eleições municipais.

Mínimo e bingos
Nesse contexto, Tasso, que preside a comissão especial mista do Congresso que analisará a medida provisória do salário mínimo de R$ 260, afirmou que vai trabalhar por um novo aumento para o mínimo. O aumento real foi de 1,2% -o mínimo era de R$ 240.
"O governo tinha a obrigação de vir a público e pedir desculpas. Fazer uma mea-culpa em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso por ter dado um aumento tão pequeno", declarou.
Segundo Tasso, é legítimo que a oposição cobre a incoerência do PT. "Até por uma questão de credibilidade dos políticos. É muito ruim defender uma coisa o tempo todo e depois mudar de posição. Por isso, não faremos nenhuma proposta irresponsável, mas achamos que há espaço para chegar a R$ 275", disse.
Indagado se descartava manter o salário mínimo em R$ 260, o valor fixado por Lula com o argumento de que era o possível do ponto de vista de impacto negativo nas contas públicas, Tasso respondeu: "Não descarto. Mas a tendência é aumentarmos".
A respeito da votação de anteontem na qual o governo saiu derrotado ao tentar aprovar a MP que proibia os bingos no país, Tasso fez um comentário irônico: "Com os discursos do pessoal do próprio governo, seria impossível o presidente Lula aprovar a medida provisória".


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