São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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FORÇAS ARMADAS

Militares estudam como evitar crise na defesa aérea; decisão de prorrogar negócio ocorreria pela 3ª vez

Governo deve adiar de novo compra de caças

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal deverá adiar a decisão de comprar novos aviões supersônicos de caça para a FAB (Força Aérea Brasileira) pela terceira vez desde o começo do processo de aquisição, um negócio de pelo menos US$ 700 milhões, em 2001. Segundo a Folha apurou, o adiamento está praticamente decidido. Há um conjunto de fatores que o determinam.
O primeiro é político. O governo está sob intenso bombardeio por ter como um dos únicos gastos efetivos neste ano a compra do novo avião presidencial, um Airbus Corporate Jetliner de US$ 56,7 milhões. Isso porque o governo resolveu pagar o avião em três parcelas, com recursos orçamentários. O avião chegará em dezembro já pago, algo raro em contratos desse tipo -que geralmente envolvem financiamentos menos dolorosos ao erário.
A compra dos caças é de natureza diferente, sendo feito um financiamento de longo prazo e cujos primeiros desembolsos só ocorreriam em dois anos. Além disso, os atuais Mirage estão caducando rapidamente, pondo em risco a defesa do espaço aéreo brasileiro -já o presidente, se quisesse, poderia escolher outras formas de se deslocar.
De todo modo, o que interessa politicamente é que, aos olhos da população, fica a impressão de um governo pão-duro, exceto no quesito aviões. O governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), já explorou em declarações essa contradição.
Além disso, na própria comunidade militar há resistências porque o gasto viria numa hora em que o Ministério da Defesa tem dificuldades de cuidar de gastos mais simples, como o reajuste da tropa. Um ponto final, mas não menos importante, foi detectado durante uma inconclusiva reunião entre o presidente Lula e ministros no mês passado.
Descobriram o óbvio: qualquer que seja o vencedor da licitação, haverá descontentes. E como as últimas notícias antes de o processo decisório entrar no Palácio do Planalto davam conta de um mau posicionamento da proposta da Embraer, terceira maior exportadora brasileiras (US$ 2 bilhões em 2003), há dúvidas políticas sobre a repercussão de uma derrota da empresa.
A Embraer, que tem 20% de capital europeu (majoritariamente francês), oferece o caça Mirage-2000, da francesa Dassault.
O governo Fernando Henrique Cardoso iria tomar a decisão em dezembro de 2002, mas deixou o veredicto para seu sucessor. Ao assumir, Lula suspendeu o F-X alegando que o combate à fome era prioritário, uma jogada para reavaliar as propostas -que, de fato, foram tornadas mais apetitosas quando reapresentadas, em novembro passado.
O governo criou então uma comissão interministerial com participação do Congresso para debater o aspecto de compensações tecnológicas e comerciais ao país. O relatório, favorável aos candidatos Sukhoi-35 (oferecido pela russa Rosoboronexport e a brasileira Avibras) e Gripen (consórcio anglo-sueco Saab/BAe Systems), chegou ao Planalto no fim de março para decisão em abril -segundo queria a Defesa.
Agora, tudo pode voltar à estaca zero, o que deverá trazer à tona planos alternativos. O menos provável é a discutível e cara (US$ 1,2 milhão por unidade) revitalização dos atuais Mirage por três anos, o que apenas adiaria o problema. Outra idéia que vai ressurgir é a de compra de aviões usados.


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