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FORÇAS ARMADAS
Militares estudam como evitar crise na defesa aérea; decisão de prorrogar negócio ocorreria pela 3ª vez
Governo deve adiar de novo compra de caças
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal deverá adiar a
decisão de comprar novos aviões
supersônicos de caça para a FAB
(Força Aérea Brasileira) pela terceira vez desde o começo do processo de aquisição, um negócio de
pelo menos US$ 700 milhões, em
2001. Segundo a Folha apurou, o
adiamento está praticamente decidido. Há um conjunto de fatores
que o determinam.
O primeiro é político. O governo está sob intenso bombardeio
por ter como um dos únicos gastos efetivos neste ano a compra do
novo avião presidencial, um Airbus Corporate Jetliner de US$
56,7 milhões. Isso porque o governo resolveu pagar o avião em três
parcelas, com recursos orçamentários. O avião chegará em dezembro já pago, algo raro em contratos desse tipo -que geralmente envolvem financiamentos menos dolorosos ao erário.
A compra dos caças é de natureza diferente, sendo feito um financiamento de longo prazo e cujos primeiros desembolsos só
ocorreriam em dois anos. Além
disso, os atuais Mirage estão caducando rapidamente, pondo em
risco a defesa do espaço aéreo
brasileiro -já o presidente, se
quisesse, poderia escolher outras
formas de se deslocar.
De todo modo, o que interessa
politicamente é que, aos olhos da
população, fica a impressão de
um governo pão-duro, exceto no
quesito aviões. O governador
paulista, Geraldo Alckmin
(PSDB), já explorou em declarações essa contradição.
Além disso, na própria comunidade militar há resistências porque o gasto viria numa hora em
que o Ministério da Defesa tem
dificuldades de cuidar de gastos
mais simples, como o reajuste da
tropa. Um ponto final, mas não
menos importante, foi detectado
durante uma inconclusiva reunião entre o presidente Lula e ministros no mês passado.
Descobriram o óbvio: qualquer
que seja o vencedor da licitação,
haverá descontentes. E como as
últimas notícias antes de o processo decisório entrar no Palácio
do Planalto davam conta de um
mau posicionamento da proposta
da Embraer, terceira maior exportadora brasileiras (US$ 2 bilhões em 2003), há dúvidas políticas sobre a repercussão de uma
derrota da empresa.
A Embraer, que tem 20% de capital europeu (majoritariamente
francês), oferece o caça Mirage-2000, da francesa Dassault.
O governo Fernando Henrique
Cardoso iria tomar a decisão em
dezembro de 2002, mas deixou o
veredicto para seu sucessor. Ao
assumir, Lula suspendeu o F-X
alegando que o combate à fome
era prioritário, uma jogada para
reavaliar as propostas -que, de
fato, foram tornadas mais apetitosas quando reapresentadas, em
novembro passado.
O governo criou então uma comissão interministerial com participação do Congresso para debater o aspecto de compensações
tecnológicas e comerciais ao país.
O relatório, favorável aos candidatos Sukhoi-35 (oferecido pela
russa Rosoboronexport e a brasileira Avibras) e Gripen (consórcio
anglo-sueco Saab/BAe Systems),
chegou ao Planalto no fim de
março para decisão em abril
-segundo queria a Defesa.
Agora, tudo pode voltar à estaca
zero, o que deverá trazer à tona
planos alternativos. O menos provável é a discutível e cara (US$ 1,2
milhão por unidade) revitalização
dos atuais Mirage por três anos, o
que apenas adiaria o problema.
Outra idéia que vai ressurgir é a de
compra de aviões usados.
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