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Sem-terra são detidos após invadir e depredar Câmara
Ato foi promovido pelo Movimento de Libertação dos Sem-Terra, grupo dissidente do MST
Pelo menos 549 pessoas que
participaram de ato foram
presas pela PM; 11 supostos
líderes devem ser autuados
por tentativa de homicídio
RANIER BRAGON
LETÍCIA SANDER
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Manifestantes do MLST
(Movimento de Libertação dos
Sem Terra), um grupo dissidente do MST, protagonizaram
ontem um dos maiores atos de
vandalismo contra o Congresso
ao invadir e depredar parte da
Câmara dos Deputados.
No confronto com seguranças da Câmara, pelo menos 41
pessoas -entre policiais, manifestantes e servidores- ficaram feridas, uma delas gravemente. Um carro foi jogado pelos sem-terra contra uma das
entradas do Congresso.
A oposição usou o incidente
para atacar o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e o PT, que
tem um de seus dirigentes no
comando do MLST -Bruno
Maranhão, detido ontem pela
segurança da Câmara.
Pelo menos 549 manifestantes, sendo 42 menores de 18
anos, foram detidos e levados
pela Polícia Militar para um ginásio. Onze supostos líderes do
movimento seriam autuados
por tentativa de homicídio. Os
demais poderiam ser indiciados por tentativa de corrupção
de menores, formação de quadrilha, dano ao bem público e
lesão corporal.
O conflito teve início pouco
antes das 15h, quando integrantes do movimento chegaram de ônibus a uma das entradas laterais da Câmara, o chamado anexo 2. Segundo seguranças e testemunhas, os integrantes do MLST, ao serem
barrados por cerca de vinte policiais, deram início ao confronto. Eles negam e dizem que foram agredidos primeiro.
Paus e pedras
O confronto se acirrou quando manifestantes empurraram
e viraram contra a portaria de
vidro um Fiat Uno que estava
estacionado nas proximidades.
O veículo seria sorteado na festa junina dos servidores do
Congresso.
Enquanto seguranças e policiais tentavam impedir a entrada, manifestantes atiravam
paus, pedras e cones de sinalização. Após alguns minutos, os
sem-terra romperam o cerco e
entraram na Câmara.
Após a invasão, os manifestantes destruíram tudo o que
encontraram pela frente no
percurso de cerca de 150 passos
até o Salão Verde, local de acesso ao plenário. Balanço preliminar mostra que foram depredadas várias luminárias, quatro
computadores, três portas de
vidro, um busto de bronze do
ex-governador Mario Covas
(1930-2001) e duas exposições
-uma de pássaros e plantas e
outra de fotos.
"Tentamos entrar pacificamente, mas não deixaram entrar na casa do povo, que é nossa. Tivemos que usar a força.
Quem perdeu o controle foi a
segurança", disse Valmir Macedo, que se apresentou como
coordenador do MLST.
Plenário
Segundo alguns seguranças,
os sem-terra só não invadiram
o plenário porque não sabiam
direito onde era a entrada. No
momento, começava a sessão
plenária da tarde e havia poucos deputados presentes.
No Salão Verde, manifestantes ameaçaram novo quebra-quebra e subiram no anjo de
bronze que enfeita o local, obra
de Alfredo Ceschiatti (1918-1989). "Essa casa é do povo, foi
construída com o dinheiro do
povo, a gente tem que entrar
aqui na hora que quiser. Se não
deixam entrar por bem, a gente
entra por mal. Aqui entram
banqueiros, usineiros, empresários, só não pode entrar trabalhador?", afirmou Marcos
Praxedes, 30, que se disse da direção do MLST de São Paulo.
O último tumulto de proporções significativas no Congresso aconteceu em agosto de
2003, quando servidores públicos depredaram parte do prédio em protesto contra a reforma da Previdência. Cinco seguranças da Câmara e dois manifestantes ficaram feridos.
Em abril do ano passado, o
MLST invadiu o prédio do Ministério da Fazenda, permanecendo no local por seis horas.
Os integrantes do movimento foram recebidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva
em julho de 2004. No encontro,
Lula repetiu um gesto feito anteriormente com o MST e colocou um boné do movimento.
Tropa de choque
A invasão gerou uma onda de
discursos de repúdio no plenário e de pedidos para que fosse
usada a força. O presidente da
Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), se recusou a autorizar a entrada da tropa de choque da PM
no Congresso, mas determinou
que a polícia da Câmara prendesse todos os manifestantes.
Ao saber da ordem de detenção, os sem-terra deixaram o
prédio e se concentraram no
gramado em frente ao Congresso, onde foram cercados por
centenas de seguranças e integrantes da tropa de choque da
PM e da polícia montada.
"Tenho certeza de que esse
tumulto não foi iniciado por
gente nossa. Não estamos na
época da barbárie. Quem faz
barbárie é o PCC", afirmou
Bruno Maranhão. Ele disse que
tentou falar com Aldo nos últimos dias, mas não conseguiu.
Após o tumulto, foi levado ao
gabinete do presidente da Câmara, que se limitou a dizer que
determinaria sua prisão.
Já fora do Congresso, Maranhão foi preso por quatro policiais da Câmara. Ao ser imobilizado, no chão, ele tremia e gritava que tinha ponte de safena.
Acabou levado para atendimento médico.
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