São Paulo, quarta-feira, 07 de junho de 2006

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Sem-terra são detidos após invadir e depredar Câmara

Ato foi promovido pelo Movimento de Libertação dos Sem-Terra, grupo dissidente do MST

Pelo menos 549 pessoas que participaram de ato foram presas pela PM; 11 supostos líderes devem ser autuados por tentativa de homicídio


RANIER BRAGON
LETÍCIA SANDER
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Manifestantes do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), um grupo dissidente do MST, protagonizaram ontem um dos maiores atos de vandalismo contra o Congresso ao invadir e depredar parte da Câmara dos Deputados.
No confronto com seguranças da Câmara, pelo menos 41 pessoas -entre policiais, manifestantes e servidores- ficaram feridas, uma delas gravemente. Um carro foi jogado pelos sem-terra contra uma das entradas do Congresso.
A oposição usou o incidente para atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT, que tem um de seus dirigentes no comando do MLST -Bruno Maranhão, detido ontem pela segurança da Câmara.
Pelo menos 549 manifestantes, sendo 42 menores de 18 anos, foram detidos e levados pela Polícia Militar para um ginásio. Onze supostos líderes do movimento seriam autuados por tentativa de homicídio. Os demais poderiam ser indiciados por tentativa de corrupção de menores, formação de quadrilha, dano ao bem público e lesão corporal.
O conflito teve início pouco antes das 15h, quando integrantes do movimento chegaram de ônibus a uma das entradas laterais da Câmara, o chamado anexo 2. Segundo seguranças e testemunhas, os integrantes do MLST, ao serem barrados por cerca de vinte policiais, deram início ao confronto. Eles negam e dizem que foram agredidos primeiro.

Paus e pedras
O confronto se acirrou quando manifestantes empurraram e viraram contra a portaria de vidro um Fiat Uno que estava estacionado nas proximidades. O veículo seria sorteado na festa junina dos servidores do Congresso.
Enquanto seguranças e policiais tentavam impedir a entrada, manifestantes atiravam paus, pedras e cones de sinalização. Após alguns minutos, os sem-terra romperam o cerco e entraram na Câmara.
Após a invasão, os manifestantes destruíram tudo o que encontraram pela frente no percurso de cerca de 150 passos até o Salão Verde, local de acesso ao plenário. Balanço preliminar mostra que foram depredadas várias luminárias, quatro computadores, três portas de vidro, um busto de bronze do ex-governador Mario Covas (1930-2001) e duas exposições -uma de pássaros e plantas e outra de fotos.
"Tentamos entrar pacificamente, mas não deixaram entrar na casa do povo, que é nossa. Tivemos que usar a força. Quem perdeu o controle foi a segurança", disse Valmir Macedo, que se apresentou como coordenador do MLST.

Plenário
Segundo alguns seguranças, os sem-terra só não invadiram o plenário porque não sabiam direito onde era a entrada. No momento, começava a sessão plenária da tarde e havia poucos deputados presentes.
No Salão Verde, manifestantes ameaçaram novo quebra-quebra e subiram no anjo de bronze que enfeita o local, obra de Alfredo Ceschiatti (1918-1989). "Essa casa é do povo, foi construída com o dinheiro do povo, a gente tem que entrar aqui na hora que quiser. Se não deixam entrar por bem, a gente entra por mal. Aqui entram banqueiros, usineiros, empresários, só não pode entrar trabalhador?", afirmou Marcos Praxedes, 30, que se disse da direção do MLST de São Paulo.
O último tumulto de proporções significativas no Congresso aconteceu em agosto de 2003, quando servidores públicos depredaram parte do prédio em protesto contra a reforma da Previdência. Cinco seguranças da Câmara e dois manifestantes ficaram feridos.
Em abril do ano passado, o MLST invadiu o prédio do Ministério da Fazenda, permanecendo no local por seis horas.
Os integrantes do movimento foram recebidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em julho de 2004. No encontro, Lula repetiu um gesto feito anteriormente com o MST e colocou um boné do movimento.

Tropa de choque
A invasão gerou uma onda de discursos de repúdio no plenário e de pedidos para que fosse usada a força. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), se recusou a autorizar a entrada da tropa de choque da PM no Congresso, mas determinou que a polícia da Câmara prendesse todos os manifestantes.
Ao saber da ordem de detenção, os sem-terra deixaram o prédio e se concentraram no gramado em frente ao Congresso, onde foram cercados por centenas de seguranças e integrantes da tropa de choque da PM e da polícia montada.
"Tenho certeza de que esse tumulto não foi iniciado por gente nossa. Não estamos na época da barbárie. Quem faz barbárie é o PCC", afirmou Bruno Maranhão. Ele disse que tentou falar com Aldo nos últimos dias, mas não conseguiu. Após o tumulto, foi levado ao gabinete do presidente da Câmara, que se limitou a dizer que determinaria sua prisão.
Já fora do Congresso, Maranhão foi preso por quatro policiais da Câmara. Ao ser imobilizado, no chão, ele tremia e gritava que tinha ponte de safena. Acabou levado para atendimento médico.


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