São Paulo, quarta-feira, 07 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dirigente "enforcou" reunião no PT para invadir Congresso

Cúpula do PT sinaliza que será aberto um processo para expulsar Bruno Maranhão, que liderou invasão do MLST

"O caminho natural seria ele [Maranhão] já ter marchado para o PSOL. A permanência dele no PT foi acidente", diz o tesoureiro Paulo Ferreira


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A invasão de ontem da Câmara dos Deputados teve como um dos líderes o pernambucano Bruno Maranhão, integrante da Executiva Nacional do PT que tem assento na comissão política (espécie de coordenação de campanha) do partido.
O envolvimento de um dirigente tão graduado no quebra-quebra, às vésperas de uma campanha eleitoral, irritou os petistas. Preocupados com a repercussão política, líderes foram duros nas críticas a Maranhão, que deverá ser punido.
No momento da depredação, a direção petista reunia-se para debater a campanha lulista. Curiosamente, o próprio Maranhão, que ocupa o cargo de secretário nacional de Movimentos Populares, foi convocado, mas "enforcou" a reunião para participar da invasão.
"A obrigação dele era estar aqui [na reunião da comissão política]. Esse não é o método com o qual nós trabalhamos", disse o secretário de Organização do PT, Romênio Pereira.
A conduta dele deverá ser analisada pela Comissão de Ética do PT. Ele provavelmente perderá o cargo que ocupa na Executiva e sofrerá uma punição. "O PT primeiro vai cobrar explicações [de Maranhão] e reunir as informações. A depender disso, irá tomar medidas disciplinares", disse o presidente do partido, Ricardo Berzoini: "Algum tipo de exploração política deve acontecer, mas não se pode confundir uma conduta individual com a conduta institucional do partido".

Expulsão
Maranhão chegou à Executiva petista no final do ano passado, quase por acaso. Líder de uma facção baseada em Pernambuco, o "Brasil Socialista", ele apoiou a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio a presidente do PT. Plínio e boa parte de seus apoiadores migraram para o PSOL logo após a eleição, mas Maranhão, que decidiu ficar, "sobrou" como alternativa para compor a Executiva.
Os dirigentes do PT sinalizam claramente que será aberto um processo de expulsão de Bruno Maranhão. "O caminho natural seria ele [Maranhão] já ter marchado para o PSOL. A permanência dele no PT foi mero acidente", afirmou ontem o secretário nacional de Finanças do PT, Paulo Ferreira.
Durante a invasão, foram os deputados do PSOL Luciana Genro (RS) e João Alfredo (CE) que levaram Maranhão para conversar com o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, que se recusava a recebê-lo. Aldo disse então: "Eu não vou te receber porque não converso com invasor. Tire esse pessoal daqui. Você vai ser autuado e preso".
Aldo contou aos deputados que estava irritado, pois há uma semana encontrou-se com Maranhão nas dependências da Câmara. No rápido contato, o presidente da Câmara disse que esperava por uma visita dele para conversarem. Já Maranhão disse que tentava falar com Aldo há alguns dias.
Aldo disse que os movimentos sociais perdem credibilidade a partir do momento em que "a invasão chega antes da reivindicação". O deputado Dr. Rosinha (PT-PR), presente na conversa, apoiou Aldo e desvinculou o PT das ações: "Não procuraram ninguém do PT".

Tarefa
A invasão na Câmara mobilizou ontem toda a direção do PT. Os petistas, que estavam reunidos em Brasília para discutir o formato final da estrutura de campanha de Lula à reeleição, suspenderam as definições e marcaram outro encontro para hoje. A determinação dos dirigentes petistas era deixar claro que o Maranhão agiu sem orientação do PT. "Essa ação não foi discutida com o PT. Se tivesse sido, seríamos contra. Nós não respondemos por isso e não convalidamos. O episódio na Câmara é razoável para discutirmos a presença dele na esfera de representação do PT", disse Ferreira.
O PT espera que o estrago seja restrito e não atinja Lula em cheio, como já ocorreu no passado, quando o presidente estava na oposição. "Lula hoje tem consolidada a percepção junto à sociedade de ser um ponto de equilíbrio", afirmou Berzoini.
Representante do Planalto na direção petista, Marco Aurélio Garcia procurou distanciar o governo do caso: "Esse episódio não corresponde à maneira como o governo tem tratado os movimentos sociais. Não havia necessidade nenhuma disso".


Texto Anterior: Sem-terra são detidos após invadir e depredar Câmara
Próximo Texto: Confronto deixa pelo menos 41 feridos; dois são sem-terra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.