São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2005

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Valério diz que não mais trabalhará com político

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

LEILA SWANN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em meio às dezenas de negativas que apresentou na CPI dos Correios, Marcos Valério fez duas promessas: a de não trabalhar mais com políticos e a de abandonar a vida de publicitário depois de resolver na Justiça o "imbróglio" em que está metido. O depoimento que começou às 10h terminou às 23h10.
"Tenho consciência de que, no final das contas, o relacionamento que eu tive de forma transparente, mas que virou um lamaçal colocado na imprensa, não valeu a pena. Eu sou um homem hoje que não posso sair na rua, não posso ir na escola dos meus filhos."
"Quem tem de julgar é Deus. E quem tem de dizer se eu sou culpado será a Justiça. Deus dá a cruz de acordo com o tamanho das costas, de acordo com o que cada um consegue carregar. Deus está me provando", acrescentou, em resposta ao deputado Magno Malta (PL-ES), que perguntou se ele se sentia injustiçado.
Valério disse que as denúncias que pesam contra ele já trazem prejuízo a seus negócios, com a perda de clientes da iniciativa privada, que representam 80% do faturamento da SMPB e 50% da DNA. "Depois que resolver esse imbróglio na Justiça, deixarei de ser publicitário e de ter essas empresas", declarou o empresário.
Mesmo sob pressão dos parlamentares, Valério manteve a calma e abusou de "nunca" e "não". Declarou-se disposto a colaborar e repetiu, quando dizia não saber as respostas de imediato, que enviaria os documentos à CPI.
O empresário negou rumores de que estaria prestes a ir para Portugal e afirmou que entregaria seu passaporte à CPI, o que inviabiliza sua saída do país.
Também se dispôs a se submeter a um detector de mentiras, desde que o mesmo procedimento seja aplicado a Roberto Jefferson, que o acusa de ser um dos operadores do "mensalão". "Aí vamos ver de quem é a mala."
No início da noite, o anúncio de que o deputado Geraldo Thadeu (PPS-MG) daria um depoimento secreto sobre suas relações com Valério acabou provocando tumulto na Câmara. Quando ele entrou no plenário, Thadeu foi cercado por colegas, que pensavam que ele iria denunciar quem recebia o "mensalão".
Thadeu acabou voltando à CPI e antecipou as "revelações" que havia prometido para hoje: afirmou que foi procurado por Valério em 1999 quando era prefeito de Poços de Caldas (MG) e que o empresário se ofereceu para arrecadar recursos para sua eventual campanha de reeleição. A proposta acabou não se concretizando, já que o então prefeito desistiu de se candidatar.

SMPB e DNA
Além disso, Marcos Valério falou sobre duas principais empresas de Valério não estão registradas em seu nome, e sim de sua mulher Renilda. Ele afirmou que passou as agências SMPB e DNA para o nome dela porque estava enfrentando uma disputa judicial com seu ex-sócio e depois não reverteu a situação. "Minha esposa achou que eu poderia me separar dela, por isso deixei no nome dela. Não tem nada de ilícito", disse ele, provocando risos na platéia.

CORREIOS
Valério negou também que tenha obtido facilidades para ganhar licitação nos Correios e afirmou que não é possível superfaturar contratos na estatal devio ao controle existente na própria empresa e no TCU (Tribunal de Contas da União). "Proponho que suspendam os meu contrato por uma semana e vasculhem", desafiou ele.

OPPORTUNITY
O publicitário afirmou que intermediou um encontro entre Carlos Rodemburg, sócio de Daniel Dantas no banco Opportunity, com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Valério presta serviço para a Telemig Celular, do grupo de Dantas. "A imagem do grupo com o PT era muito ruim e o Rodemburg queria fazer uma explicação sobre o grupo para o PT, não para o governo", disse ele, ressaltando que o encontro não deve ter sido bem-sucedido porque o Opportunity está sendo destituído do controle da Telemig Celular, Brasil Telecom e Amazônia Celular.


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