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O ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CAIXA 2
Eventual superfaturamento de contratos publicitários não bastaria para explicar movimentação de R$ 500 milhões por SMPB e DNA
Governo suspeita que Valério seja "laranja"
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na tentativa de se antecipar a
eventuais fatos novos que possam
complicar a situação do governo e
do PT na crise política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
discutiu nos últimos dias com ministros e auxiliares a origem de
eventuais recursos financeiros
das empresas do publicitário
Marcos Valério que possam ter irrigado partidos políticos.
A principal conclusão é que dificilmente, como disse o próprio
Valério ontem na CPI dos Correios, os recursos do suposto
"mensalão" vieram do superfaturamento de contratos de publicidade oficial. A principal hipótese
para explicar recursos sem origem identificada é que as empresas das quais Marcos Valério é sócio tenham atuado como laranjas
para que outras companhias privadas dessem recursos a partidos
políticos na forma de caixa dois.
Um relatório do Coaf (Conselho
de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da
Fazenda, indicou créditos de R$
500 milhões sem origem identificada entre 1999 e 2005 em operações de Valério, sócios e empresas
do publicitário, que é suspeito de
ser um dos operadores do suposto "mensalão" -mesada do PT a
deputados do PL e do PP.
A cúpula do governo chegou à
conclusão de que seria impossível
que os contratos oficiais de publicidade alimentassem o eventual
esquema de Valério após Lula pedir explicações ao ministro Luiz
Gushiken (Comunicação de Governo) a respeito dos gastos de
propaganda do governo.
A DNA e a SMPB, empresas que
têm o publicitário como sócio, teriam tido, nas contas do governo,
um lucro líquido (o que sobra
descontadas todas as despesas e
impostos) de cerca de R$ 10,5 milhões em 2004. A quantia é pequena na comparação com as movimentações financeiras que estão
chegando ao conhecimento da
CPI dos Correios e do governo.
Em 2004, o governo federal gastou cerca de R$ 1,240 bilhão em
publicidade. Desse montante, R$
870 milhões se referem à chamada "veiculação de mídia", dinheiro que o governo repassa às agências para que comprem espaço
publicitário. Outros R$ 370 milhões se referem aos gastos para
produzir a propaganda.
Sobre os R$ 870 milhões, as
agências de publicidade ganham
uma comissão que chega a 15%.
Em relação aos R$ 370 milhões,
estima-se um lucro bruto de 8%.
Respectivamente, as 40 agências
que servem ao governo federal teriam uma receita bruta de R$ 160
milhões. Descontadas despesas, o
lucro líquido cairia para R$ 80 milhões -R$ 2 milhões em média
por agência.
Os contratos das empresas de
Valério com órgãos públicos renderiam ao final de 2004 um lucro
líquido de R$ 10,5 milhões. Somente em espécie, empresas de
Valério no Banco Rural sacaram
R$ 20,9 milhões em dois anos.
Caixa dois
Essa análise trouxe uma notícia
boa e outra ruim para o governo,
disse à Folha um auxiliar de Lula
que acompanha o dia-a-dia da
crise. A boa é que, se ficar provada
a existência do "mensalão", os recursos desse esquema não teriam
origem em contratos públicos, o
que reforça a versão de que Lula
não saberia de nada.
A má notícia, segundo esse auxiliar, é que o PT, ao captar recursos, possa ter operado com caixa
dois de empresas privadas usando Valério como laranja.
Hoje, há divisão na cúpula do
governo. Alguns ministros e auxiliares avaliam que Lula deve fazer
manifestação pública mais incisiva, mesmo que tenha de bater em
petistas como Delúbio Soares, tesoureiro afastado do partido.
Outro grupo acha mais prudente aguardar o desenrolar da crise,
cuja previsão do próprio governo
é de agravamento, para que o presidente venha eventualmente a
dizer de público o que diz reservadamente sobre alguns petistas.
Eles teriam traído sua confiança.
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