|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Novo titular
chega com
duas imagens
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
Alcides Tápias chega ao governo com uma imagem de duas faces, até certo ponto antagônicas: a
do banqueiro, função em que fez
o nome (no Bradesco), e a de empresário que, nos últimos tempos,
aproximou-se do Iedi (Instituto
de Estudos de Desenvolvimento
Industrial), o mais notório banco
de cérebros desenvolvimentista
do empresariado paulista.
Talvez tenha sido escolhido exatamente por essa dupla imagem:
não é um pensador, um formulador, capaz de contrapor-se ao ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Mas é uma ponte perfeita entre
o governo central e o empresariado paulista, o que mais verbaliza o
seu desconforto com a política
econômica.
Crítica
A propósito: seu antecessor,
Clóvis Carvalho, caiu pelo desastrado discurso a respeito da "covardia" de Malan, mas já não vinha agradando o presidente Fernando Henrique exatamente por
ter tido desempenho pífio em
eventos em São Paulo, sempre na
avaliação colhida junto ao Palácio
do Planalto.
É óbvio que o fato de Tápias ter
se aproximado do Iedi não significa que sua política será a do Iedi,
de contornos muito mais nacionalistas e desenvolvimentistas do
que qualquer outra proposta do
establishment.
Significa apenas que o governo
central quer ter uma boa ponte
com essa fatia descontente do empresariado -e Tápias pode executar o papel à perfeição.
Equidistante
O novo ministro, aliás, é tido como equidistante dos dois grandes
nomes simbólicos do empresariado industrial, o "monetarista"
Eduardo Eugênio, presidente da
Firjan (a Federação das Indústrias
do Rio de Janeiro), e o "desenvolvimentista" Horácio Lafer Piva,
seu colega da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
Como banqueiro e também
presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos, entre
1991 e 1994), no entanto, Tápias
foi o arquétipo do liberalismo, até
antes de que as receitas neoliberais se tornassem tão hegemônicas (no governo José Sarney, por
exemplo).
Logo, jamais dirá que o equilíbrio orçamentário, a menina dos
olhos do ministro Pedro Malan,
deve ser relaxado em benefício de
um crescimento mais acelerado.
Por extensão, não há risco aparente de outra colisão tão frontal
entre ministros como a que aconteceu na quinta-feira da semana
passada -quando, num seminário promovido pelo PSDB, partido do próprio presidente, Clóvis
Carvalho sugeriu que a política
econômica defendida por Malan
poderia ser confundida com covardia.
Atritos
A escolha de Tápias, ao menos
pelo que a Folha pôde apurar, deveu-se exatamente ao desejo do
presidente de não criar nenhum
potencial foco de atrito com Malan, que poderia ser desestabilizador para o ministro da Fazenda e,
por extensão, para a própria política econômica.
O que não significa que Tápias
vá ser figura decorativa no Ministério, uma espécie de subministro, subordinado a Malan.
O presidente sabe que a pressão
política, em especial de seus aliados, e empresarial não vai dar trégua nos próximos meses.
O discurso que causou a queda
de Clóvis Carvalho é o discurso de
incontáveis aliados do presidente
(para não falar de quase todos os
líderes da oposição).
Tais aliados são apenas mais hábeis do que o ex-ministro do Desenvolvimento -uma habilidade
que não falta tampouco ao novo
titular da pasta.
Texto Anterior: Ex-banqueiro, escolhido é defensor da indústria Próximo Texto: Trajetória inclui banco e privatização Índice
|