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JANIO DE FREITAS
O problema das provas
A possibilidade de que
Osama bin Laden seja o chefe do ataque aos Estados Unidos
é real, sem que isso elimine outras possibilidades, mas o que foi
apresentado como conclusão das
investigações é insuficiente para
justificar uma operação de guerra e, no caso do Brasil, qualquer
envolvimento, mesmo que apenas moral.
As tais provas referidas ao Parlamento inglês pelo primeiro-ministro Tony Blair e o que foi
aqui transmitido ao governo
brasileiro, por intermédio dos
ministros José Gregori, Geraldo
Quintão e Celso Lafer, suscitam
perguntas, em vez de dar a resposta esperada.
Os acusados pela operação de
ataque, segundo as investigações, agiram sob seus nomes verdadeiros. Também sob seus nomes verdadeiros entraram nos
Estados Unidos legalmente, lá
viveram legalmente, tinham
movimentação financeira e até
cursos de aviação alguns deles fizeram. Como seria isso possível
se as autoridades americanas os
identificaram entre os "autores
de atentados anteriores contra
os Estados Unidos na África e no
Oriente Médio"? Não está explicado nem se pode imaginar uma
resposta, sabendo-se como são
atentas as inspeções do serviço
americano de imigração, na chegada de estrangeiros, e as caçadas policiais aos procurados.
O pormenor de uma conversa
de Bin Laden, na véspera do ataque, chega a ser grotesco, como
está posto até aqui. Os constantes telefonemas de Bin Laden para sua mãe postiça eram captados, mas não entendidos porque
ele usava de metáforas e outros
subterfúgios. Mas uma das provas é seu aviso à mãe de que, no
dia seguinte, iria fazer algo muito importante e sumiria por uns
tempos. Essa dica, logo essa, é
que, segundo as conclusões investigatórias, Bin Laden iria dar
com toda a clareza no telefonema.
O horror que é o terrorismo
precisa ser encarado sobretudo
com inteligência. Do jeito como
as coisas vão, o lapso de Bush em
discurso no Departamento de
Estado -"Não tenho a menor
dúvida de que fracassaremos"-
se transmitirá a muita gente, e
não como lapso. Se, no caso dele,
Freud explica, no dos outros, o
próprio Bush e seu governo já estão explicando.
Outra derrota
Na queda de Jader Barbalho
(uff!), do ponto de vista político,
o governo é o grande perdedor. O
empenho de Fernando Henrique
Cardoso para elegê-lo presidente
do Senado e, depois, para mantê-lo tinha razão política de ser.
As aprovações obtidas pelo governo, mesmo nos temas mais
contraditados, só foram possíveis pela existência, no Congresso, dos chamados operadores, os
parlamentares que têm condições de induzir a ação de seus
grupos, e não só desses. Luís
Eduardo Magalhães, no comando da Câmara, foi decisivo ali.
Antonio Carlos Magalhães, nas
horas decisivas, manobrou com
o Senado sempre na direção da
vitória do governo. Jader Barbalho, em numerosas ocasiões,
mostrou sua capacidade de
aglutinador, decidindo paradas
para o governo.
Sarney, como presidente do Senado e do Congresso quando o
governo começava, não atrapalhou, mas não fez manobras governistas. Por isso Fernando
Henrique agiu contra sua indicação para substituir Antonio
Carlos e favoreceu Jader. E agora? Na Câmara há a habilidade
de Inocêncio Oliveira. Mas, com
a queda de Jader, na bancada
governista do Senado não sobrou nem o aprendiz de cacique
José Roberto Arruda.
Pela história
Está chegando às livrarias "A
Era de Vargas" (Casa Jorge Editorial). O autor, José Augusto Ribeiro, está entre os primeiros dos
mais brilhantes, cultos e íntegros
jornalistas de nossa geração, do
que posso dar testemunho até
por o haver levado a trabalharmos juntos em duas grandes (à
época) redações do Rio.
Não é possível dizer por quantos anos José Augusto pesquisou
para o livro, porque ele o fez,
aparentemente, desde sempre.
"A Era de Vargas" não é um livro de historiador de universidade. A sensibilidade especial de
José Augusto para a política e
sua análise, a mesma que o fez
assessor de Tancredo Neves na
batalha para encerrar o regime
militar em 84, trouxe à dimensão real motivações e situações
perdidas na desmemória, dando
novo sentido a inúmeros episódios e ao próprio percurso de Getúlio. Tanto mais que José Augusto pôs em questão um a um
os clichês pespegados no período
e na personagem, e "A Era de
Vargas" -dos primórdios formadores do trabalhismo ao
grande gesto brasileiro do suicídio de Getúlio- colhe o resultado extraordinário.
Segunda via
O Tony Blair que é o maior
pregador da guerra, para justiçar o assassinato de 5.000 pessoas no ataque às torres e ao
Pentágono, é o mesmo que libertou e devolveu ao Chile o general
Augusto Pinochet, que está sob
processo criminal como mandante de pelo menos 4.000 assassinatos políticos quando ditador.
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