São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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IANOMÂMIS

Redução no índice chega a 50%; casos de malária diminuíram de 4.152, em 1998, para 55, neste ano até setembro

Ação de ONGs baixa mortalidade de índios

Cláudio Esteves de Oliveira/Divulgação
Ianomâmis são atendidos por profissionais de saúde de ONG


JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA

A tragédia das centenas de mortes de índios ianomâmis no Brasil, iniciada na década de 60 e considerada como um escândalo internacional, dá sinais de estar no fim. A entrega da responsabilidade da saúde indígena a ONGs está conseguindo frear a mortalidade, de acordo com as próprias autoridades governamentais.
De 1987 a 1992, segundo a CCPY (Comissão Pró-Yanomami), 15% da população ianomâmi do Brasil morreu vítima de epidemias e doenças que têm condições de ser curadas a partir de tratamentos básicos de saúde.
Em meados de 1999, a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), passou à ONG (organização não-governamental) Urihi, com sede em Roraima, a obrigação dos cuidados de saúde de 45% dos 12.765 índios ianomâmis que vivem no país, a maior parte localizada no território de Roraima.
Em menos de três anos de trabalho, os números mostram que o que faltava para amenizar a tragédia dos índios, segundo os diretores da instituição e antropólogos ouvidos pela reportagem, era sistematização dos atendimentos, aplicação de métodos básicos de cuidados com a saúde, diagnósticos precoces e tratamentos completos às doenças.
"A redução das doenças é muito substancial. Isso ocorre porque eles [da Urihi] conseguem manter dentro da área ianomâmi, mesmo com todas as dificuldades, uma equipe de quase 150 pessoas, ininterruptamente. A decisão política da Funasa é a de manter esses convênios, pois esse é o caminho," afirmou Ubiratan Pedrosa Moreira, diretor do Departamento de Saúde Indígena da Funasa.
Nos últimos dez anos, de acordo com dados da fundação, pelo menos 500 ianomâmis morreram vítimas de malária, pneumonia e tuberculose, doenças propagadas por garimpeiros, no final dos anos 80, e por não-índios que visitavam ou trabalhavam em contato próximo com as aldeias.

Comparação
Os números, mesmo subnotificados, conforme assume o órgão, são significativos diante dos dados nacionais de óbitos pelas mesmas doenças.
Em 1991, por exemplo, dos 743 casos de morte provocadas por malária no Brasil, segundo a Funasa e o Datasus, 110 foram entre os ianomâmis -15%.
Os casos de malária baixaram de 4.152, em 1998, para 55, neste ano até setembro. É o menor índice desde que a Funasa começou a manter um registro oficial os dados, em 1991.
A mortalidade de menores de um ano, que em 1998 estava em 197,4 para cada mil nascidos vivos, caiu para 38,4 para cada mil. A redução no índice de mortalidade geral é de 50%. Todos os outros indicadores de doenças também diminuíram.
"Algumas aldeias estavam havia dois anos sem receber a visita de um médico ou agente de saúde. A situação era de precariedade total", afirmou Cláudio Esteves de Oliveira, presidente da ONG.
A intenção da Urihi não é somente tentar controlar epidemias e oferecer cuidados pontuais às doenças. Os ianomâmis estão em um programa para a formação de microscopistas e agentes de saúde. Até agora, 30 índios foram capacitados.
"A nossa idéia é fazer com que, a médio e longo prazos, os ianomâmis sejam capazes de dar conta sozinhos da assistência à saúde. Para isso, é preciso intensificar a alfabetização (quatro escolas foram construídas) e tentar, aos poucos, mostrar a nossa forma (de não-índios) de tratar e evitar doenças", disse Deise Alves Francisco, vice-presidente da Urihi.

Custos
São altos os custos para cuidar dos ianomâmis. Para ter acesso a pelo menos 1.500 índios, a Urihi precisa do uso de helicópteros. O custo de cada hora de vôo sai por R$ 2.000. No ano passado, a ONG teve orçamento de cerca de R$ 7 milhões, valor mantido para este ano. A coordenação da Funasa em Roraima vistoria a aplicação dos recursos.
"A nossa expectativa é que o próximo presidente eleito tenha a sensibilidade de olhar para o projeto, ver seus resultados e ter vontade política de manter o trabalho", disse Oliveira.


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