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VENDA DA CESP
Para especialistas, BNDES mudou as regras de venda da companhia
Advogados questionam privatização
da Reportagem Local
O governo do Estado de São
Paulo deveria ter suspenso o leilão da energética paulista Tietê e
reaberto o prazo de habilitação
para empresas interessadas, após
o BNDES ter anunciado que financiaria grupos estrangeiros.
Essa é a opinião de quatro advogados ouvidos pela Folha. Eles
afirmam que o leilão das ações da
Tietê foi irregular.
As ações da empresa foram leiloadas em 28 de outubro. Na véspera, o BNDES anunciou que financiaria 50% do preço mínimo
(cerca de R$ 360 milhões) a grupos estrangeiros. As empresas nacionais já tinham a possibilidade
de receber o empréstimo.
Para os advogados, as regras do
jogo mudaram quando ele já estava em andamento, o que é proibido pela legislação.
Segundo eles, grupos estrangeiros que não se interessaram pelo
leilão poderiam ter querido apresentar propostas quando souberam da possibilidade de financiamento do BNDES.
A empresa norte-americana
AES arrematou as ações da Tietê
por R$ 938 milhões e admitiu que
o financiamento do BNDES foi
"fundamental" para o negócio.
O advogado Ives Gandra Martins, professor da Universidade
Mackenzie, afirma que "se o
anúncio do financiamento é feito
na última hora, ele propiciou para
as estrangeiras já inscritas um benefício concorrencial".
Para ele, "nesse particular, houve ferimento do princípio da livre
concorrência. O governo deveria
ter aberto novamente o prazo de
habilitação".
Já o advogado Celso Antônio
Bandeira de Mello, professor da
PUC-SP, diz que o anúncio do financiamento "torna a licitação
nula". Para ele, foi violado o princípio da igualdade. "Na licitação
não deve haver surpresa alguma,
por isso existem prazos."
Ele afirma que "a publicidade
(do financiamento) foi feita em
época que não poderia aproveitar
a quaisquer". O advogado ressalta, ainda, que "nada pode garantir
que outros já não tinham ciência
do financiamento".
Para o advogado Dalmo de
Abreu Dallari, professor da Universidade de São Paulo, o financiamento "é um escândalo" porque "interfere na competição".
"Isso é ilegal. A lei proíbe qualquer interferência na livre competição", afirma.
Na opinião do advogado Laércio José dos Santos, professor da
Universidade Paulista, outros
grupos estrangeiros que não participaram do leilão foram lesados
pelo anúncio do financiamento.
"O Estado de São Paulo foi prejudicado, à medida que a oferta
poderia ter sido maior se o número de concorrentes fosse maior."
Todos os advogados criticaram
o fato de o BNDES conceder empréstimo a empresas estrangeiras.
"O governo atrai o investidor externo, mas não o dinheiro do investidor. É uma atração besta",
diz Dallari.
(ROBERTO COSSO)
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