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CONTAS PÚBLICAS
Estado deixou de receber US$ 170 milhões em financiamentos do Banco Mundial até setembro
Minas perdeu US$ 88 mi com moratória
CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte
Minas Gerais perdeu mais do
que ganhou com a moratória decretada no início do ano pelo governador Itamar Franco (PMDB).
Até o final de setembro, o governo de Minas teve uma perda de
recursos de US$ 88 milhões, cerca
de R$ 174,2 milhões.
No total, o governo estadual
deixou de gastar US$ 59 milhões
com pagamentos de eurobônus e
US$ 23 milhões com amortizações e juros devidos ao Banco
Mundial, mas perdeu US$ 170 milhões de financiamentos do mesmo Banco Mundial, resultando
em um saldo negativo de US$ 88
milhões.
Além disso, o governo mineiro
tem uma dívida vencida de cerca
de R$ 500 milhões com fornecedores e prestadores de serviço,
cuja renegociação de pagamento
ficou praticamente parada desde
o início do ano. Nesse período, o
governo federal conseguiu receber o que o governo mineiro lhe
devia retendo repasses de recursos para o Estado.
"Fato político"
Com a moratória, Itamar decidiu parar os pagamentos da dívida com a União, das amortizações
e juros de empréstimos com organismos internacionais, dos eurobônus (títulos negociados no
mercado europeu) e das dívidas
da administração passada com
credores.
Para o economista Lamartine
Sacramento Filho, professor da
Faculdade de Ciências Gerenciais
da UNA (União de Negócios e
Administração de Belo Horizonte), porém, a moratória é "um fato
político que, do ponto de vista das
finanças, não trouxe mudanças,
porque os compromissos com
Brasília estão sendo honrados".
Sacramento Filho afirma isso
pois, desde janeiro, a União continua a receber as parcelas do acordo da dívida, assinado com o governador anterior, Eduardo Azeredo (PSDB), já que retém os repasses que deveria fazer ao Estado
e tem o direito de sacar o restante
diretamente na conta bancária do
governo mineiro, como previsto
no contrato assinado em 1998.
Itamar Franco está tentando
derrubar esta cláusula do acordo
na Justiça, até agora sem sucesso.
Após a moratória, o Estado perdeu receitas com a decisão da
União de enviar uma carta aos organismos multilaterais de crédito
comunicando que o Estado estava
inadimplente, o que levou ao bloqueio de financiamentos e repasses externos para o governo mineiro que já tinham sido acertados com o Banco Mundial.
Com isso, o Banco Mundial não
concluiu um financiamento previsto de US$ 170 milhões, que poderia ser gasto livremente, pois
era uma compensação de despesas realizadas na reforma da administração estadual.
O governo federal decidiu assumir uma dívida de US$ 59 milhões em eurobônus, mais da metade do valor de US$ 108 milhões
em títulos lançados pelo governo
de Minas no mercado europeu
cujo resgate venceu em 10 de fevereiro. Esse dinheiro pago a investidores estrangeiros não tem, a
princípio, como ser recuperado
pela União.
O valor já depositado pelo governo de Minas, desde o ano passado, numa conta do Banco do
Brasil, para cobrir os eurobônus,
deu para pagar US$ 49 milhões
dos títulos já vencidos.
Os US$ 59 milhões restantes, ou
R$ 114 milhões pelo dólar da época, foram pagos pela União, para
não prejudicar o crédito do Brasil
no mercado financeiro mundial.
Há cerca de um mês, o governador Itamar anunciou o fim da
moratória aos organismos internacionais, com a retomada dos
pagamentos ao Banco Mundial e
ao BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento).
Retenção
A previsão da escala de pagamento da dívida, feita pela Secretaria de Estado da Fazenda no governo passado e obtida pela
Agência Folha, mostra que o governo mineiro deixou também de
pagar R$ 74 milhões do previsto.
De acordo com a estimativa,
Minas teria de pagar R$ 685 milhões entre janeiro e setembro
deste ano, mas, segundo a assessoria da Secretaria de Estado da
Fazenda, a União tinha retido,
nesse período, R$ 611 milhões.
A diferença entre a previsão e o
valor efetivamente retido é atribuída por especialistas ouvidos
pela Agência Folha e pela Secretaria de Estado da Fazenda à queda
no crescimento econômico do
país, o que fez com que a receita
do Estado fosse menor do que a
prevista.
As parcelas da dívida variam segundo a efetiva arrecadação do
Estado, pois não podem ultrapassar 12,5% da arrecadação bruta.
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