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NORDESTE
60% dos 3,3 milhões de habitantes do Estado são atingidos; dos 223 municípios, 193 estão em situação crítica
Paraíba sofre a pior estiagem do século
PATRÍCIA ANDRADE
enviada especial ao Cariri (PB)
A paraibana Maria Aparecida
Torres tem uma vida difícil. Aos
30 anos e grávida de sete meses, é
mãe de cinco filhos, três dos quais
sofrem de desnutrição. Tenta sobreviver com R$ 60 por mês, dinheiro que o marido ganha na
frente de trabalho de Soledade, cidade situada na área mais seca do
Nordeste -o Cariri da Paraíba.
Aparecida, os filhos e o marido
estão entre os cerca de dois milhões de paraibanos que têm sofrido os efeitos da pior estiagem
do século no Estado, uma população que representa 60% do total
de 3,3 milhões de habitantes da
Paraíba.
Dos 223 municípios do Estado,
193 estão em situação crítica devido à seca: 1999 é o terceiro ano
consecutivo de poucas chuvas em
terras paraibanas.
A seca prolongada já comprometeu o abastecimento de água
em praticamente todo o Estado e
causou prejuízos para a agricultura e a pecuária.
Calcula-se que um contingente
de 1,2 milhão de pessoas dependa
de carros-pipa e poços perfurados
para ter água em suas casas. Segundo estimativas do governo estadual, cerca de 70% do rebanho
bovino foi dizimado entre 98 e 99.
As perdas para a agricultura no
ano passado foram de R$ 850 milhões.
A falta d'água deixou grande
parte da população paraibana
sem perspectivas econômicas. Na
maioria dos municípios afetados
pela seca, as principais fontes de
renda são as aposentadorias rurais, o dinheiro das frentes de trabalho e as cestas básicas distribuídas pelo governo federal. Estão
alistados no programa de combate à estiagem 110 mil pessoas e recebem cestas 298 mil famílias.
Mas os salários das frentes e as
cestas têm sido entregues com um
atraso médio de dois meses. Segundo a secretaria de Infra-Estrutura do Estado, até maio elas eram
distribuídas em dia, depois veio o
atraso e agora devem ser regularizadas pelo governo federal.
Os danos sociais causados pela
seca também são evidentes. A família de Aparecida é um exemplo.
Por causa da escassez de comida e
da falta de água de qualidade, as
crianças ficaram desnutridas. O
filho mais novo dela, de um ano e
um mês, tem sete quilos. Há três
meses, ele pesava 5,5 quilos. Está
conseguindo engordar aos poucos graças ao trabalho dos agentes
comunitários de saúde.
""Catástrofe"
"Vivemos uma catástrofe. Temos dificuldades para obter água
para beber. Se essa situação perdurar, a população não terá mais
como permanecer no seu habitat", afirma o deputado Francisco
Quintans (PSDB), presidente de
uma comissão da Assembléia Legislativa da Paraíba que discute o
problema da seca.
O quadro no Estado é, de fato,
preocupante. Segundo dados do
governo estadual, dos 123 sistemas de abastecimento de água, 43
estão em colapso.
Até a capital João Pessoa e Campina Grande, segunda maior cidade da Paraíba, foram afetadas
pela seca. O açude que abastece
Campina Grande está operando
com 16% de sua capacidade original. O que supre João Pessoa está
funcionando com 28% de sua
condição inicial.
Por esse motivo, Campina
Grande vive racionamento de
água desde o ano passado. João
Pessoa adotou a mesma política
no início de 99 e vai começar a racionar água a partir de dezembro.
Um dos motivos para o agravamento da seca é que a quantidade
de chuvas tem diminuído ao longo dos anos.
A média pluviométrica das regiões do Cariri e Curimataú, as
mais áridas da Paraíba, é de 500
mm por ano. Em 97, choveu nessas áreas 434,2 mm. Em 98, 136
mm. Neste ano, a quantidade aumentou um pouco (265 mm),
mas ficou bem abaixo da média
histórica.
O volume de chuvas também
diminuiu no agreste e no litoral,
cuja média é de 1.042 mm. Em 97,
choveu 936 mm. Em 98, 628 mm,
e neste ano, 599 mm. A perspectiva para um futuro próximo não é
animadora. Segundo um estudo
do CTA (Centro Tecnológico da
Aeronáutica), feito em 1982, no
semi-árido nordestino há um ciclo de secas a cada 26 anos. Essa
previsão diz que os períodos de
estiagem são de cinco anos e o
próximo começaria em 2002.
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