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NORDESTE
Crescimento de óbitos entre crianças causados pela doença foi de 77% de 95 a 99; maior taxa foi em 98
Mortes por diarréia crescem com seca
da enviada especial ao Cariri
A seca prolongada na Paraíba
está provocando aumento nos casos de mortes de crianças por
diarréia e crescimento das taxas
de desnutrição infantil.
Em 1995, os casos de óbitos por
diarréia no Estado eram de 6,4 para cada mil crianças que nasciam
vivas. Até setembro de 99, esse
número era de 8,3 -um crescimento da ordem de 77% num período de quatro anos.
O quadro mais grave de incidência de mortes de crianças por
diarréia foi verificado no ano passado, quando esse indicador atingiu 9,4 por mil.
Os dados são do Pacs (Programa de Agentes Comunitários de
Saúde). O programa está presente
em 222 dos 223 municípios da Paraíba e o atendimento atinge
aproximadamente 75% do total
da população.
Apesar do crescimento do número de mortes por diarréia, a taxa total de mortalidade infantil na
Paraíba tem diminuído.
Há quatro anos, era de 50,7
mortes para cada mil crianças que
nasciam vivas. Até setembro deste ano, o índice foi de 41,5. Isso
pode ser explicado pelo fato de
que os óbitos de crianças por outros motivos, como infecção respiratória aguda, estão em ritmo
de redução.
"Ficamos preocupados com o
dado de 98 (de mortes por diarréia) porque foi o único indicador
de mortalidade infantil que cresceu. Não dá para afirmar que foi
por causa da seca, mas é um forte
indício de que o aumento tenha
sido influenciado pela estiagem.
Devemos levar em conta também
que esse indicador agora em 99 dá
sinais de queda", avalia o epidemiologista Ricardo Rodrigues, assessor técnico do Pacs.
O secretário de Saúde da Paraíba, José Maria de França, diz que,
apesar da seca, a mortalidade infantil no Estado tem caído nos últimos anos e atribui a queda ao
trabalho dos agentes de saúde.
Mas ele acredita que a desnutrição tem aumentado.
Os números do Pacs comprovam isso. Em 95, não foram registrados casos de desnutrição em
menores de um ano em 95. Neste
ano, o número foi de 13,3% do total de crianças atendidas pelos
agentes de saúde.
No universo de crianças entre 12
e 23 meses, também não houve
ocorrência de desnutrição em 95.
Já em 99, a incidência foi de
25,2%.
Moradora da zona rural de Soledade, no Cariri, Iracema Miguel
dos Santos, de 32 anos, vive com o
marido e nove filhos em condições precárias. Sua caçula, Josielle, de quatro meses, ficou desnutrida, perdeu peso e teve de ser
hospitalizada na última semana.
Ficou três dias no hospital. Ela está com cerca de 3,5 quilos, considerado um peso abaixo do normal para sua idade.
Há um mês, seu outro filho, de
um ano e dois meses, foi hospitalizado com diarréia e vômito e teve de ficar internado por uma semana.
"Eu não tinha dinheiro para dar
leite em pó e aí dei de gado mesmo. Esse menino vive com verme", diz Iracema. Seu marido ganha R$ 35 por semana para trabalhar em uma fazenda.
Os indicadores de mortalidade
infantil nos 193 municípios afetados pela seca são piores. A taxa é
de 46 por mil, mais elevada que a
média paraibana. Desse total, o
número de óbitos por causa de
diarréia até setembro deste ano
foi de 9,6 por mil, maior também
que o índice médio do Estado.
Em alguns municípios, a taxa de
mortalidade infantil é ainda
maior. Em Soledade, é de 85,7 para cada mil crianças nascidas vivas. Já nas cidades não prejudicadas pela estiagem, o indicador é
de 32,9 por mil.
As mortes por desidratação
também foram verificadas em
menor escala: 5,9 por mil nascidos vivos.
(PATRÍCIA ANDRADE)
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