São Paulo, Domingo, 07 de Novembro de 1999
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NORDESTE

Crescimento de óbitos entre crianças causados pela doença foi de 77% de 95 a 99; maior taxa foi em 98

Mortes por diarréia crescem com seca

da enviada especial ao Cariri

A seca prolongada na Paraíba está provocando aumento nos casos de mortes de crianças por diarréia e crescimento das taxas de desnutrição infantil.
Em 1995, os casos de óbitos por diarréia no Estado eram de 6,4 para cada mil crianças que nasciam vivas. Até setembro de 99, esse número era de 8,3 -um crescimento da ordem de 77% num período de quatro anos.
O quadro mais grave de incidência de mortes de crianças por diarréia foi verificado no ano passado, quando esse indicador atingiu 9,4 por mil.
Os dados são do Pacs (Programa de Agentes Comunitários de Saúde). O programa está presente em 222 dos 223 municípios da Paraíba e o atendimento atinge aproximadamente 75% do total da população.
Apesar do crescimento do número de mortes por diarréia, a taxa total de mortalidade infantil na Paraíba tem diminuído.
Há quatro anos, era de 50,7 mortes para cada mil crianças que nasciam vivas. Até setembro deste ano, o índice foi de 41,5. Isso pode ser explicado pelo fato de que os óbitos de crianças por outros motivos, como infecção respiratória aguda, estão em ritmo de redução.
"Ficamos preocupados com o dado de 98 (de mortes por diarréia) porque foi o único indicador de mortalidade infantil que cresceu. Não dá para afirmar que foi por causa da seca, mas é um forte indício de que o aumento tenha sido influenciado pela estiagem. Devemos levar em conta também que esse indicador agora em 99 dá sinais de queda", avalia o epidemiologista Ricardo Rodrigues, assessor técnico do Pacs.
O secretário de Saúde da Paraíba, José Maria de França, diz que, apesar da seca, a mortalidade infantil no Estado tem caído nos últimos anos e atribui a queda ao trabalho dos agentes de saúde. Mas ele acredita que a desnutrição tem aumentado.
Os números do Pacs comprovam isso. Em 95, não foram registrados casos de desnutrição em menores de um ano em 95. Neste ano, o número foi de 13,3% do total de crianças atendidas pelos agentes de saúde.
No universo de crianças entre 12 e 23 meses, também não houve ocorrência de desnutrição em 95. Já em 99, a incidência foi de 25,2%.
Moradora da zona rural de Soledade, no Cariri, Iracema Miguel dos Santos, de 32 anos, vive com o marido e nove filhos em condições precárias. Sua caçula, Josielle, de quatro meses, ficou desnutrida, perdeu peso e teve de ser hospitalizada na última semana. Ficou três dias no hospital. Ela está com cerca de 3,5 quilos, considerado um peso abaixo do normal para sua idade.
Há um mês, seu outro filho, de um ano e dois meses, foi hospitalizado com diarréia e vômito e teve de ficar internado por uma semana.
"Eu não tinha dinheiro para dar leite em pó e aí dei de gado mesmo. Esse menino vive com verme", diz Iracema. Seu marido ganha R$ 35 por semana para trabalhar em uma fazenda.
Os indicadores de mortalidade infantil nos 193 municípios afetados pela seca são piores. A taxa é de 46 por mil, mais elevada que a média paraibana. Desse total, o número de óbitos por causa de diarréia até setembro deste ano foi de 9,6 por mil, maior também que o índice médio do Estado.
Em alguns municípios, a taxa de mortalidade infantil é ainda maior. Em Soledade, é de 85,7 para cada mil crianças nascidas vivas. Já nas cidades não prejudicadas pela estiagem, o indicador é de 32,9 por mil.
As mortes por desidratação também foram verificadas em menor escala: 5,9 por mil nascidos vivos.
(PATRÍCIA ANDRADE)


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