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Filas e espera por
água são cotidianas
da enviada especial ao Cariri
Filas para pegar água em poços,
longas esperas pela passagem dos
carros-pipa, açudes, rios e lagoas
completamente secos. Essas cenas são a realidade do cotidiano
dos moradores das três regiões
mais áridas da Paraíba: Cariri,
Curimataú e Seridó, onde vivem
cerca de 457 mil pessoas.
Com uma média de chuvas de
500 mm por ano, essas áreas são o
retrato do drama da estiagem. A
seca de 98, que se estendeu por 99,
praticamente eliminou a possibilidade de plantio e reduziu o rebanho bovino em cerca de 80%. A
caprinocultura é ainda a atividade
que mais resiste.
Na maioria das cidades, já não
há água nas torneiras das casas e o
abastecimento se dá pela captação em poços e por carros-pipa. O
açude que abastecia o município
de Soledade, que tem 13 mil habitantes, está seco desde 1995. Hoje,
virou campo de futebol. "Eu nunca vi nada igual. A estiagem no
Cariri dura mais de cinco anos",
constata o prefeito de Soledade,
Fernando Araújo Filho (PDT).
Com a seca, nessas regiões desenvolveu-se o comércio de água.
Em Cabaceiras, cidade de 4,2 mil
habitantes localizada no Cariri, o
desempregado Severino Henrique de Araújo, 38, vive de pegar
água no poço da cidade e levar as
latas cheias às casas de quem não
pode buscá-las. Ele cobra entre R$
1 e R$ 2 por balde. Pai de cinco filhos, complementa a renda com
os R$ 60 da frente de trabalho.
"Meu meio de vida é botar água.
Mas, juntando com o dinheiro da
emergência, não dá um salário."
Em Soledade, Raimundo Marques Dionísio, de 30 anos, e sua
mulher, Josélia Vasconcelos, 23,
engordam a renda familiar vendendo água que trazem de Juazeirinho, cidade vizinha. O preço
que eles cobram é de R$ 35 por 15
mil litros de água. "Quando a gente consegue vender bem, dá para
tirar uns R$ 200 por mês", diz
Dionísio, que também trabalha
como eletricista.
Um fator ambiental vem agravando a situação dessas localidades. Segundo técnicos em meio
ambiente, há um processo de desertificação em 74% da área da
Paraíba. Essas três regiões são a
maior parte dessa zona que está
virando deserto. De acordo com
dados do governo estadual, cerca
de 2,3 milhões de paraibanos estão sofrendo os efeitos desse fenômeno, direta ou indiretamente.
São 113 cidades afetadas.
"A nossa situação aqui não é
mais de calamidade. É de desespero", diz Arnaldo Júnior (PFL),
prefeito de Cabaceiras.
(PA)
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