São Paulo, Domingo, 07 de Novembro de 1999
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Filas e espera por água são cotidianas

da enviada especial ao Cariri

Filas para pegar água em poços, longas esperas pela passagem dos carros-pipa, açudes, rios e lagoas completamente secos. Essas cenas são a realidade do cotidiano dos moradores das três regiões mais áridas da Paraíba: Cariri, Curimataú e Seridó, onde vivem cerca de 457 mil pessoas.
Com uma média de chuvas de 500 mm por ano, essas áreas são o retrato do drama da estiagem. A seca de 98, que se estendeu por 99, praticamente eliminou a possibilidade de plantio e reduziu o rebanho bovino em cerca de 80%. A caprinocultura é ainda a atividade que mais resiste.
Na maioria das cidades, já não há água nas torneiras das casas e o abastecimento se dá pela captação em poços e por carros-pipa. O açude que abastecia o município de Soledade, que tem 13 mil habitantes, está seco desde 1995. Hoje, virou campo de futebol. "Eu nunca vi nada igual. A estiagem no Cariri dura mais de cinco anos", constata o prefeito de Soledade, Fernando Araújo Filho (PDT).
Com a seca, nessas regiões desenvolveu-se o comércio de água. Em Cabaceiras, cidade de 4,2 mil habitantes localizada no Cariri, o desempregado Severino Henrique de Araújo, 38, vive de pegar água no poço da cidade e levar as latas cheias às casas de quem não pode buscá-las. Ele cobra entre R$ 1 e R$ 2 por balde. Pai de cinco filhos, complementa a renda com os R$ 60 da frente de trabalho. "Meu meio de vida é botar água. Mas, juntando com o dinheiro da emergência, não dá um salário."
Em Soledade, Raimundo Marques Dionísio, de 30 anos, e sua mulher, Josélia Vasconcelos, 23, engordam a renda familiar vendendo água que trazem de Juazeirinho, cidade vizinha. O preço que eles cobram é de R$ 35 por 15 mil litros de água. "Quando a gente consegue vender bem, dá para tirar uns R$ 200 por mês", diz Dionísio, que também trabalha como eletricista.
Um fator ambiental vem agravando a situação dessas localidades. Segundo técnicos em meio ambiente, há um processo de desertificação em 74% da área da Paraíba. Essas três regiões são a maior parte dessa zona que está virando deserto. De acordo com dados do governo estadual, cerca de 2,3 milhões de paraibanos estão sofrendo os efeitos desse fenômeno, direta ou indiretamente. São 113 cidades afetadas.
"A nossa situação aqui não é mais de calamidade. É de desespero", diz Arnaldo Júnior (PFL), prefeito de Cabaceiras. (PA)



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