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CELSO PINTO
Boas notícias em euros
A emissão adicional de 200 milhões de euros em bônus, sexta-feira, elevou o total captado pelo
Brasil em euros para 2 bilhões
neste ano, ou mais de US$ 2,1 bilhões. É uma marca expressiva,
por várias razões.
Em primeiro lugar, pelo momento em que essa emissão se
deu. Até uns dois meses atrás, havia um quase consenso de que os
países emergentes não iriam conseguir emitir papéis além de outubro. O medo dos efeitos do chamado "bug do milênio" levaria a
uma forte retração na liquidez e a
uma fuga do risco, por parte dos
investidores internacionais. Até
agora, isso não aconteceu e alguns começam a duvidar que venha a acontecer em grande proporção.
Outro ponto importante é o
prazo, de sete anos. O Brasil já havia emitido, neste ano, 800 milhões de euros em bônus de três
anos e 500 milhões em bônus de
cinco anos, mas quando pensou
em tentar sete anos, em setembro,
acabou desistindo. A Argentina
captou este ano um total de 5,25
bilhões em euros (US$ 5,6 bilhões), mas o prazo máximo que
conseguiu foi cinco anos.
A atual emissão foi pensada para 300 milhões de euros mas, ao ir
para o mercado, na quinta-feira,
28 de outubro, acabou subindo
para 500 milhões de euros. Os bônus renderam 12,11% ao ano,
com um prêmio ("spread") de
6,85 pontos percentuais.
Nesta quinta-feira, quando o
Banco Central Europeu aumentou as taxas básicas de juros de
2,5% para 3%, acima do esperado, houve uma imediata reação
positiva dos investidores em bônus. Alemanha e Itália, cujas economias estão começando a se recuperar, eram contra o aumento.
Ele ainda pode ser prejudicial para o ritmo de recuperação européia, mas os investidores viram a
alta dos juros como garantia de
inflação baixa e juros mais competitivos em relação ao esperado
aumento adicional dos juros
americanos.
Ao ver a boa reação no mercado, o Deutsche Bank, líder da
emissão brasileira, sugeriu a reabertura dos bônus, o que foi feito
na sexta-feira. Os 200 milhões de
euros adicionais foram facilmente colocados, segundo Tim Dowling e Sandy Severino, do Deutsche Bank de Nova York, mesmo
rendendo um pouco menos
(11,81%, com "spread" de 6,82
pontos percentuais).
As emissões em euros têm uma
boa colocação no varejo, ao contrário das emissões americanas
em dólares, absorvidas por investidores institucionais. Por essa razão, é mais comum reabrir a venda de papéis em euros, se houver
demanda.
O fato é que o euro, criado em
janeiro, gerou um mercado muito
bem sucedido de bônus. As emissões em euros neste ano, equivalentes a US$ 389 bilhões, são quase quatro vezes superiores aos
US$ 102 bilhões emitidos em 98,
nas moedas originais dos 11 países que passaram a usar o euro. A
razão é simples: o mercado conjunto, por ter muito mais liquidez, é muito mais atraente.
O interesse dos europeus por papéis latino-americanos é real e há
um potencial para reduzir ainda
mais os "spreads", disse Andrea
Burgtorf, chefe da Análise de Risco de Países Emergentes do
Deutsche Bank, em Frankfurt, em
conversa com o colunista, semana passada. "Mas os investidores
estão muito mais atentos ao risco
e questionando as políticas dos
países", observou. "O fluxo de recursos não vai voltar a ser tão
abundante quanto era antes da
crise da Rússia", prevê.
Apesar deste final de ano estar
sendo, por enquanto, melhor do
que se previa, ela acredita que o
ciclo econômico futuro, com altas
de juros nos Estados Unidos e na
Europa, aponta para menos liquidez em geral. Os países emergentes terão que contar mais com
sua poupança interna.
Burgtorf diz que seria "imprudente" dizer que a crise latino-americana já acabou, mas acha
positivo que o contágio da crise
tenha sido limitado. Entre os países emergentes, ela vê duas áreas
de potencial confusão. Uma é a
China, menos pelo impacto externo de uma eventual desvalorização cambial, que será pequeno,
do que pelas dificuldades nas reformas internas. Outra vem de alguns países do Leste Europeu, como Polônia, que ainda têm déficits nas contas externas muito
elevados.
O principal problema no Brasil,
a seu ver, é fiscal. As metas primárias serão atingidas, mas o déficit
nominal é muito alto e sua queda
depende da conquista de confiança que permita reduzir os juros. O
nível da dívida interna não é tão
alto, mas sua dinâmica preocupa
pelo alto nível dos juros e curto
prazo de vencimento.
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