São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2000

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Meta de Abin é acompanhar todo setor da sociedade

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Documento classificado como "secreto" e preparado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) indica que a instituição estabeleceu como meta de trabalho um amplo e geral acompanhamento das atividades de praticamente todos os setores da sociedade brasileira, desde as lideranças políticas até as religiosas e sociais, passando por ONGs, centrais sindicais e imprensa.
O documento, obtido pelos procuradores federais que investigam denúncias de irregularidades e de abusos cometidos pela Abin, indica que a agência -em algum momento- considerou esses setores como "elementos essenciais de inteligência" e recomendou seu monitoramento.
Parte da autenticidade do documento foi confirmada pelo ex-diretor-geral da Abin, coronel Ariel de Cunto, durante seu depoimento ao Ministério Público Federal.
Sem saber que os procuradores Guilherme Schelb e Luiz Francisco de Souza dispunham de cópia do documento, intitulado "Plano de Busca", De Cunto foi confirmando ao longo do interrogatório que parte das estratégias estabelecidas em seu texto são realmente diretrizes da agência.
Ele afirmou, por exemplo, que entre "as prioridades" da Abin está a de acompanhar movimentos sociais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), organizações internacionais como o Greenpeace e a America's Watch, e que a agência considera "importantíssimas" as consequências das privatizações.
De Cunto só negou os trechos do documento que indicam que à Abin interessa o acompanhamento dos trabalhos dos líderes políticos no Congresso, dos membros do Ministério Público e de formadores de opinião pública, como jornalistas. Também negou acompanhamentos com intenções eleitorais, como as que teriam sido feitas sobre o governador de Minas, Itamar Franco.

"Só esboço"
Quase ao final do depoimento, ao ser confrontado com a cópia do documento secreto, De Cunto demonstrou surpresa. "Ele disse que era um documento lá de dentro, que não deveria ter sido retirado", afirmou à Folha o procurador Luiz Francisco.
No depoimento -distribuído à imprensa pelos procuradores-, De Cunto classifica o documento secreto como sendo "esboços ou exercícios" do Plano Nacional de Inteligência, que nem sequer existe ainda. Para ser realizado o plano, é necessária antes a aprovação da Política Nacional de Inteligência, que está parada no Congresso desde maio deste ano.
Segundo o ex-diretor, há mais de dois anos a assessoria de inteligência da Abin vem trabalhando para fazer esse plano, tendo chegado a várias versões -que terão de ser submetidas em última instância ao presidente da República. (WILLIAM FRANÇA)



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