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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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CASO SANTO ANDRÉ

Conclusões conflitantes da Polícia Civil e do Ministério Público não eliminam mistérios sobre episódio

Morte de Daniel segue cercada de dúvidas

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após quase dois anos do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT) algumas dúvidas da família sobre as circunstâncias do crime ainda persistem. O corpo do petista foi encontrado no dia 20 de janeiro do ano passado, em uma estrada de terra em Juquitiba (a 78 km de SP), com sete tiros e sinais de tortura.
Desde então, a arma do crime nunca foi localizada, não é possível afirmar se o prefeito foi morto no local em que foi encontrado nem mesmo quem foi o autor dos disparos. Os depoimentos colhidos pela Polícia Civil e pela Promotoria, de forma independente, são conflituosos.
Durante sua apuração, o Ministério Público afirmou ter esclarecido algumas das dúvidas apresentadas pela família, como a questão da falta de sangue em ferimentos encontrados no corpo de Daniel. A ausência de sangue poderia indicar que o prefeito teria sido atingido depois de morto, para despistar as investigações.
Os promotores criminais de Santo André recorreram ao perito de medicina legal da USP (Universidade de São Paulo) Daniel Muñoz para elucidar o mistério.
O perito afirmou que todos os ferimentos no corpo do petista tinham sinais vitais, ou seja, que nenhum disparo foi feito depois da morte. Disse ainda que os tiros foram disparados com Celso Daniel de frente para o assassino.
Essa conclusão levanta outra dúvida. Na reconstituição do crime, o adolescente que assumiu os disparos mostrou que atingiu Daniel pelas costas.
"Nenhuma das versões apresentadas pelos presos bate com o laudo", afirmou o promotor criminal Roberto Wider Filho.
Continua sendo um enigma a questão das roupas de Daniel.
Ivone de Santana, namorada do petista, reconheceu como sendo do prefeito a calça jeans que ele vestia quando foi encontrado morto. Porém, pouco antes de ser sequestrado, o prefeito foi filmado saindo do restaurante Rubaiyat, em São Paulo, com uma calça bege social.
Outra dúvida: Daniel foi encontrado com um ferimento provocado por uma bala que ricocheteou e atingiu sua coxa. Entretanto, a calça com a qual foi encontrado não tinha perfuração compatível no tecido.
Ainda com relação aos disparos, os cartuchos da arma que atingiram o prefeito petista foram encontrados no chão em uma disposição que não coincide com a reconstituição do crime.
De acordo com o Ministério Público, a elucidação desse fato fica prejudicada pois não é possível ter certeza se Daniel morreu no local onde foi encontrado ou se foi levado para lá depois.

Sem ajuda
Para os promotores criminais que investigam o assassinato de Daniel desde agosto do ano passado -quando os familiares pediram a reabertura do caso-, muitos mistérios não são solucionados porque os seis presos que teriam participado da morte não colaboram. Eles dizem temer algum tipo de retaliação.
Dionízio de Aquino Severo, por exemplo, apontado pelo Ministério Público como o elo entre o empresário Sérgio Gomes da Silva e a quadrilha da Favela Pantanal, foi morto na prisão dois dias depois de dizer que tinha informações sobre o sequestro de Daniel.
Para os presos, o destino de Severo foi um aviso, como narraram aos promotores que os procuraram na cadeia.
Anteontem, Gomes da Silva foi denunciado pela Promotoria como um dos mandantes do assassinato de Daniel -outras pessoas também estariam envolvidas no crime, porém não há provas sólidas contra elas. Por meio de seu advogado, o empresário nega as acusações.


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