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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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Cúpula do PT não crê que Gomes tenha participação

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As cúpulas do PT e do governo não crêem que o empresário Sérgio Gomes da Silva seja mandante do assassinato do prefeito Celso Daniel, como denunciou o Ministério Público paulista. Será uma surpresa a eventual prova da culpa de Silva, dizem dirigentes do PT e membros do governo, em conversas reservadas.
Não era segredo no PT o relacionamento próximo entre Daniel e Silva, amigos íntimos que frequentemente saíam juntos. Essa proximidade leva o PT a duvidar da culpa de Silva. Os petistas também vêem com desconfiança novos depoimentos colhidos pelo Ministério Público.
"Como o Celso Daniel, o PT é vítima desse crime. O PT apóia as investigações para esclarecê-lo porque não tem nada a temer. O Sérgio Gomes da Silva não é filiado ao PT", diz o presidente do partido, José Genoino. Entretanto, Genoino afirma que a nova investigação do Ministério Público, que resultou na denúncia contra Silva, desautoriza a investigação feita pela Polícia Civil no ano passado, cujo inquérito concluiu se tratar de crime comum.
Para o Ministério Público paulista, Daniel teria sido morto por tentar desmontar suposto esquema de corrupção na Prefeitura de Santo André, do qual Silva seria beneficiário. Na denúncia dos promotores, Silva teria encenado o sequestro. Seu advogado diz que a denúncia é "vazia" e que deverá ser rejeitada pela Justiça.
Segundo petistas, Sérgio Gomes da Silva, na época do crime, estava feliz com o convite feito a Daniel para coordenar o programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, numa campanha que o partido julgava a mais bem preparada para disputar a Presidência.
Na noite do sequestro de Daniel, em 18 de janeiro de 2002, Silva e o prefeito tiveram um jantar para comemorar a indicação à missão eleitoral. Daniel, que coordenou durante algum tempo o grupo de economistas do PT, era tido como nome certo para o primeiro escalão do governo Lula. Silva sabia disso e, segundo petistas, não faria sentido se envolver na morte de um prefeito que poderia virar ministro.
O substituto de Daniel foi Antonio Palocci Filho, então prefeito de Ribeirão Preto (SP), hoje ministro da Fazenda.
Em relação aos novos depoimentos colhidos pelo Ministério Público, as cúpulas do PT e do governo vêem com desconfiança alguns pontos. Exemplo: a versão de que Silva teria contratado Dionízio Severo, um dos criminosos que teriam participado do sequestro e do assassinato. Severo morreu na prisão em abril de 2002.
José Cicote, vice de Daniel no primeiro mandato do petista (1989-1992), diz ter visto Severo duas vezes na Prefeitura de Santo André. Cicote, segundo a cúpula petista, transformou-se em inimigo de Daniel e Silva.
A Folha apurou que petistas que atuaram na administração de Santo André, como o atual chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, e a assessora especial do presidente, Miriam Belchior, nunca viram Severo na prefeitura e indagaram a colegas se o conheciam. Ouviram que ninguém o conhecia ou o vira. No mês passado, Carvalho se reuniu com promotores para uma conversa informal a respeito dos novos depoimentos colhidos pelo Ministério Público.
Na cúpula do PT, considera-se frágil o depoimento do preso Ailton Alves Feitosa, que disse que ouviu Dionízio Severo falar do sequestro e da morte de um "peixe grande".
Para petistas, novos depoimentos colhidos como forma de trocar colaboração por abrandamento de pena devem ser avaliados com cautela.
Feitosa e Severo foram companheiros de fuga da cadeia de Guarulhos na véspera do sequestro de Daniel. Entre os dias 18 e 20 de janeiro de 2002, quando o corpo do prefeito foi encontrado, Feitosa e Severo estavam foragidos juntos.
Para dirigentes do PT, é "espetaculosa e conspiratória" a tese de que Sérgio Gomes da Silva se envolveu com Feitosa e Severo. Petistas afirmam que Silva conhecia em detalhes a rotina de Daniel, que frequentemente dirigia sozinho seu carro, e que seria mais simples para ele eliminá-lo do que participar diretamente de uma encenação.


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