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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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Natal sem Fome perde doadores para Fome Zero

DA SUCURSAL DO RIO

A concorrência involuntária do Fome Zero e a crise econômica reduziram a arrecadação de alimentos para a campanha Natal Sem Fome, promovida há 10 anos pela Ação da Cidadania, ONG criada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho [1935-1997].
Segundo Maurício Andrade, coordenador da Ação da Cidadania, a campanha recolheu até a semana passada apenas 15% do total obtido no mesmo período de 2002. "O que aconteceu é que os empresários estão doando menos. Acreditamos que isso se deve ao marketing em torno do Fome Zero. Muitos dos nossos parceiros acham que o Estado já está conseguindo resolver o problema da fome e estão doando menos. Queremos fazer um alerta e chamá-los a cumprir com a sua responsabilidade social", afirmou.
Em pouco mais 40 dias de campanha, a ONG arrecadou 850 toneladas, das quais 70 toneladas em São Paulo. Em 2002, a arrecadação nacional chegou a 6.000 toneladas. Em São Paulo, a arrecadação foi de 400 toneladas. "Se continuarmos neste ritmo, fecharemos a campanha com a arrecadação de, no máximo, 2.000 toneladas de alimentos", disse ele.
Hoje, a Ação da Cidadania promove a primeira corrida nacional contra a fome, às 9h, na orla da zona sul do Rio. O objetivo é chamar a atenção para a campanha.
A Metrô S/A, empresa responsável pela administração do metrô do Rio e uma das maiores doadoras do Natal Sem Fome, confirma a queda na arrecadação. No ano passado, a empresa arrecadou 20 toneladas de alimentos em postos espalhados por cinco estações. Deste total, oito toneladas foram bancadas pela empresa.
Neste ano, a 19 dias do Natal, as doações chegaram a apenas 1,5 tonelada, mesmo com postos espalhados em 10 estações. "Acho que há a concorrência do Fome Zero, sim, mas também a crise econômica está fazendo com que as pessoas doem menos, porque estão sem dinheiro", disse o diretor de Relações Institucionais da Metrô S.A., Luiz Mário Miranda.
A Telemar, outra tradicional doadora do Natal Sem Fome, também teve reduzida a arrecadação de alimentos entre seus funcionários. Segundo Márcia Arletti, gerente do Instituto Telemar, neste ano já foram doadas 70 toneladas, das quais 50 toneladas fornecidas pela direção. No ano passado, foram 144 toneladas.
"As pessoas ouvem falar do Fome Zero e ficam acomodadas, acham que o governo está resolvendo tudo", disse. Arletti tem esperança de que as doações melhorem nesta semana, quando haverá uma mobilização na empresa.
Segundo Maurício Andrade, apesar da queda na arrecadação de alimentos, o número de parceiros continua praticamente igual ao do ano passado. Até agora, 590 parceiros doaram alimentos. Em 2002, foram 600. O coordenador da Ação da Cidadania disse que o Fome Zero está concentrado no Norte e Nordeste, deixando desassistidas famílias carentes que vivem em outras regiões do país. "Os programas sociais do governo atendem apenas a 3 milhões de famílias. Outras 7 milhões estão fora da rede social do Estado. É aí que nós atuamos", disse Andrade.



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