São Paulo, quarta-feira, 07 de dezembro de 2005

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OUTRO LADO

Corretoras e fundos afirmam ignorar critérios da CPI; Prece contesta dados

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO


O principal argumento de fundos de pensão e corretoras citados pela CPI dos Correios é o de que eles desconhecem os critérios usados pelos parlamentares para chegar aos prejuízos apontados em operações na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) nos últimos cinco anos. Outro grupo afirma não ter tido prejuízo no período. Há ainda os que não se manifestaram ou não foram encontrados pela reportagem.
Já a Prece (fundo dos funcionários da Cedae), por meio de nota, contestou os dados da CPI, classificando o relatório de "absurdo" e de conter "inconsistências tão gritantes que serão facilmente provadas em qualquer tribunal". A Prece informou que superou a meta atuarial (rentabilidade mínima a ser alcançada num ano) em 2003 e 2004 e que seus ativos subiram de R$ 433,2 milhões para R$ 714,6 milhões de 2001 a 2005.
"A análise de todas essas informações mostra-nos estar havendo uma intenção de uso político de dados com o objetivo de causar prejuízo de imagem à Prece e, certamente, tentar atender a interesses políticos partidários inconfessáveis", diz o texto.
O presidente do Postalis (Correios), José Teixeira, estranhou a conclusão do relatório porque a entidade não operaria na BM&F. "A única explicação que encontro para isso é que temos fundos de investimento terceirizados, que são autônomos, e podem ter feito essas operações", disse ele.
Teixeira disse que estava "chocado" com o prejuízo de R$ 41,9 milhões apontado pela CPI. E completou: "Há dez anos, éramos o 34º fundo em patrimônio e hoje crescemos para 15º. Isso não se constrói com prejuízo".
A Centrus (Fundação Banco Central de Previdência Privada) afirmou que teve um ganho total de R$ 6 bilhões nesse período e o suposto prejuízo de R$ 2 milhões, caso tenha ocorrido, representa 0,0057% do patrimônio do fundo.
A Geap -fundação de seguridade social da administração federal- disse que já apresentou à CPI um relatório mostrando que não houve prejuízos nos investimentos de 2003 a 2005.
O operador de mercado financeiro Lúcio Bolonha Funaro disse que só vai se pronunciar quando conhecer o teor do relatório e negou envolvimento societário com as corretoras citadas pela CPI. Lembrou que sua empresa é a Royster e que ele obteve ontem uma liminar no STF para impedir a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da empresa.
A Folha deixou recado no escritório de Christian Almeida Rego, mas ele não ligou de volta. Não foram localizados representantes da Serpros (Serviço Federal de Processamento de Dados) nem do Portus (sistema portuário).
Eliana Bertorello, advogada da corretora São Paulo, informou que a corretora só vai se pronunciar caso seja instada formalmente pela CPI. A Socopa, por meio de seus assessores, afirmou que só irá se manifestar depois de tomar ciência do relatório da CPI.
Por meio de sua assessoria, a Planner confirmou a existência de apenas uma empresa, a Planner Corretora de Valores S/A. A empresa lembrou que, como em qualquer corretora, as ordens partem dos clientes donos das carteiras que a corretora gerencia.
Na Laeta, não havia ninguém que pudesse atender a reportagem, que também não conseguiu contatar as corretoras Clicktrade, Walpires, Fator Doria, Novinvest e Cruzeiro do Sul, Euro DTVM e José Car.
A Bônus-Banval, por meio de sua assessoria, reiterou sua disposição em ajudar a CPI.
A Petros (Petrobras) informou em seu boletim eletrônico que atingiu desde janeiro de 2003 uma rentabilidade de 72%, acima da meta atuarial de 43%. Em relação à "carteira de renda variável (gestão da Petros) de ativos negociados na Bovespa e na BMF, a rentabilidade na atual gestão foi de 239%, cinco vezes maior do que a meta atuarial", diz o boletim.
A Petros informou também que realizará amanhã uma entrevista coletiva para "esclarecer com detalhes a série de informações infundadas que ferem a imagem da Fundação Petrobras de Seguridade Social".
A direção do Nucleos (dos funcionários das estatais de energia nuclear) não comentou os números da CPI dos Correios. Informou, no entanto, que a consultoria KPMG já havia detectado prejuízos de cerca de R$ 22,7 milhões em operações com títulos públicos feitas na gestão anterior.
O presidente da fundação Real Grandeza (dos empregados de Furnas), Sérgio Wilson Ferraz Fontes, disse que não teve acesso aos dados da CPI, e desconhece a metodologia de cálculo usada pelos parlamentares.
A Fundação Sistel de Seguridade Social informou que não comentaria o relatório da CPI por desconhecer o seu teor. A reportagem procurou também a diretoria do Eletros (fundo de pensão dos empregados da Eletrobrás) às 17h30, mas o expediente já havia terminado às 17h. A Folha tentou ainda entrar em contato com a Refer, mas os telefones que constavam da lista telefônica estavam sempre ocupados.
O Funcef informou que poderia enviar uma nota explicativa, mas, até o fechamento desta edição, ela ainda não havia sido enviada. A corretora Quality, que teria ganho R$ 5,609 milhões com operações realizadas pelo Prece (Cedae), não ligou de volta até o fechamento desta edição.
O ex-secretário de Comunicação do PT Marcelo Sereno nega ter exercido ingerência política sobre fundos de pensão. Ele diz que apenas repassava currículos, com indicações políticas, aos fundos.


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