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QUARTO MUNDO Mortes atingem famílias inteiras no RN
do enviado especial
A pesca da lagosta no litoral do
Rio Grande do Norte está dizimando famílias inteiras. A Folha
levantou casos de uma mesma família em que há morte e paralisia.
As maiores vítimas são jovens com
idade média de 23 anos, mas também há menores entre eles.
Em São Miguel do Gostoso (110
km a leste de Natal), o paralítico
Marcone Iran Ferreira, 29, casado
e com dois filhos, tem um concunhado que morreu há cinco anos,
deixando viúva e quatro filhos. Em
Rio do Fogo (75 km a leste de Natal), a mesma história se repete.
Geovásio Quirino, 31, com problemas de locomoção, tem um irmão paralítico e um tio com problemas neurológicos. Na mesma
praia, Benivaldo Silva, 43, paralítico, é irmão de Francisco Gomes da
Silva, 46, igualmente paraplégico.
Em Cajueiro (100 km a leste de
Natal), dois menores morreram
há sete anos -um deles tinha 16
anos; o outro, 17. Na mesma praia,
Pedro Veloso, 29, ficou paralítico
aos 17 anos. Pedrinho, como é
mais conhecido, anda de muletas,
tem problemas de impotência sexual e usa sonda para urinar.
Pedrinho é aposentado pelo
INSS. Seu caso é uma raridade,
pois o INSS só aposenta um deficiente quando ele se torna totalmente inválido. Silas Baracho, da
Colônia de Pescadores de Cajueiro, diz que a tendência é o INSS
considerar a morte dos pescadores
que mergulham um suicídio.
Segundo Baracho, é o mesmo argumento usado por empresas que
dão cobertura de seguro a alguns
dos barcos em que há acidentes. A
Capitania dos Portos, segundo Baracho, também cria obstáculos para dar atestado à família da vítima.
"A capitania quer evitar a pesca
predatória e evita dar documentos
sobre esses acidentes. Entende que
isso estimula a atividade ilegal",
diz Baracho. O quadro é agravado
pela fragilidade financeira dos
proprietários de barcos.
Ao contrário do Ceará, onde a
pesca da lagosta é feita em parte
por grandes barcos pesqueiros, no
Rio Grande do Norte a pesca é
quase artesanal. Os proprietários
dos pequenos barcos que pescam
lagosta dizem não ter dinheiro para dar assistência aos acidentados
de suas embarcações.
Os donos de barcos não cobrem
nem as despesas funerárias.
"Quando um pescador morre, a
prefeitura dá o caixão e nós damos
o atestado da morte para a viúva
pedir aposentadoria ao INSS", diz
Manoel Lourenço, da Colônia de
Pescadores de Rio do Fogo.
(EMANUEL NERI)
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