São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2001

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A MORTE DE COVAS

Por 105 quilômetros, populares assistiram a passagem de 400 carros; trajeto teve choro, aplausos, faixas e chuva de pétalas de rosas

Multidão faz cordão humano em cortejo

DA REPORTAGEM LOCAL

DOS ENVIADOS A SANTOS

A população fez um corredor humano nas ruas da capital e na estrada que liga a cidade a Santos para ver o cortejo do governador Mário Covas. Foram cerca de 105 quilômetros de homenagens entre o Palácio dos Bandeirantes e o cemitério do Paquetá. Mais de 400 carros seguiram na comitiva.
O velório terminou às 9h20 de ontem, quando o caixão foi fechado. Pouco antes, o novo governador do Estado, Geraldo Alckmin, ficou cerca de dez minutos a observar o corpo de Covas. Sozinho, em pé, mãos baixas e cruzadas.
A viúva, Lila Covas, apareceu nesse momento. Chorava. Amparada por Alckmin, passou as mãos na testa do marido e abriu o tule que cobria o corpo para arrumar um terço nas mãos de Covas.
Como chefe do Executivo, Alckmin presenciou a colocação da bandeira do Estado sobre o caixão. Tocou a urna, fez o sinal da cruz e autorizou que os cadetes a retirassem sob gritos da multidão: "Vamos ficar órfãos", "Dona Lila, a senhora não está sozinha".
O cortejo deixou o palácio às 9h40. Na avenida Brasil, encontrou a primeira grande aglomeração de pessoas. Algumas choravam ao acenar lenços brancos.
Às 10h40, a comitiva pôde se avistada pelas pessoas que estavam no Obelisco aos Heróis de 32, ponto escolhido para a troca da escolta. Havia cerca de 1.500 pessoas no local, muitas com faixas pretas na cabeça, em sinal de luto. Nas mãos, todas agitavam bandeiras entregues por militantes do PSDB durante todo o trajeto -amarelas, elas tinham o nome do governador em letras azuis, as cores do partido. Cerca de 50 mil foram distribuídas ontem.
O cortejo passou pelo Obelisco sob bandeiras a meio pau e foi recebido por uma salva de palmas.
A maioria dos mais de 400 veículos que seguiam o carro aberto dos bombeiros, com o corpo de Covas, levava paulistanos comuns ao som de "Canção da América", tocada por uma kombi. Havia ainda 20 ciclistas e mais de 300 motoboys. Em seis ônibus, viajaram as autoridades.
Em movimento, a escolta fúnebre do Regimento de Cavalaria foi substituída por motociclistas do Pelotão de Escolta (leia ao lado).
A passagem pelo Obelisco durou 15 minutos. Em seguida, seis ônibus do PSDB arrecadaram populares e seguiram para o enterro.
Na rodovia dos Imigrantes, admiradores de Covas atiravam pétalas de rosa e papel picado sobre os carros. A rodovia foi interditada. Passarelas estavam cheias e traziam faixas: "Covas, o exemplo" e "Você foi um guerreiro".
Nos luminosos da Imigrantes as mensagens de orientação aos motoristas foram substituídas por frases de despedida: "Valeu, Covas" e "Adeus, governador". O cortejo foi liberado dos pedágios, e nas cabines havia faixas pretas.
Na altura de São Bernardo do Campo, militares estavam perfilados, e a banda da PM tocou para o governador. Houve queima de fogos e revoada de balões brancos.
O cortejo chegou a Santos às 12h50. Na entrada da cidade, operários esperavam a comitiva com capacetes levantados e uma faixa: "Nós realizaremos o seu sonho".
No percurso, o último grupo de admiradores era formado por crianças que, rodeadas por dezenas de bandeiras do Santos Futebol Clube -do qual Covas foi torcedor fanático-, cantarolavam o refrão: "Governador, cadê você, eu vim aqui só pra te ver".
(FABIO ZANINI, JULIA DUAILIBI, FLAVIA DE LEON, SÍLVIA CORRÊA)

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