São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Pefelista também foi alvo de ataques do líder do PMDB, Renan Calheiros; senador baiano rebateu críticas

Senadora petista ataca ACM no plenário

DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Durou apenas um dia a trégua entre os políticos no Congresso. Ontem, menos de quatro horas depois do enterro do governador Mário Covas, o Senado retomou o bate-boca na sessão e a troca de acusações. A senadora Heloísa Helena (PT-SP) fez um discurso duro contra o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), ex-presidente da Casa, alvo também do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).
Durante 15 minutos, o plenário ficou em silêncio acompanhando o discurso de Heloísa Helena. Tratando ACM por vossa excelência, como manda o regimento no Legislativo, a senadora rebateu as declarações do senador de que ela teria votado contra a cassação de Luiz Estevão (PMDB-DF).
"Vossa excelência (ACM) foi muito mal acostumado neste país, assustando muitas pessoas com a síndrome do capitão do mato. Nasci negrinha neste mundo e não me dobro a ninguém. Vim negrinha neste mundo para arrombar a porta da senzala se preciso for, jamais para ser arrastada para ela. Fui educada, e não domesticada para servir aos grandes e poderosos", afirmou.
As declarações de ACM foram feitas em conversa com três procuradores no mês passado. A senadora repetiu citação chinesa para dizer que os rumores estão entre as coisas mais temíveis, porque quando repetidos com frequência podem criar um fato.
Heloísa Helena disse que os rumores sobre o seu voto na sessão de cassação do senador seriam de que ela teria tido um romance com Estevão ou que teria feito acordo com o senador Renan Calheiros por interesses regionais.
Do primeiro rumor, disse: "É um argumento machista. Uma ousadia. É o costume nojento de submissão das mulheres a homenzinhos ricos. Eu não cuspo, eu vomito em cima desses homens". Do segundo: "Deus me deu um comportamento insuportável, uma intolerância crônica contra acordos espúrios". A senadora cobrou a apresentação da lista com os votos da sessão. "É fundamental que essa lista apareça. A tal lista tem de aparecer com o meu voto sim (pela cassação)."
ACM classificou o discurso da senadora de "destempero verbal" e disse que também não se "dobra" a ninguém. ACM afirmou que também quer uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar as denúncias envolvendo o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas Pereira.
"Eu também quero a CPI. Ampla, geral e irrestrita." No discurso, também tratando a senadora por vossa excelência, ACM negou que haja lista com os votos dos senadores na sessão de julgamento de Estevão.
"Vossa excelência vai se arrepender bastante das afirmações caluniosas e difamantes que eu não merecia. Não mereço pela luta que estou fazendo pela moralização do país", disse.
Depois do bate-boca entre ACM e a petista, foi a vez do ataque de Calheiros. O peemedebista pediu que ACM encaminhasse a quebra de seu sigilo telefônico e bancário ao Ministério Público de São Paulo, que apura denúncias da ex-primeira-dama Nicéa Pitta.
Entre as denúncias, a ex-mulher de Pitta afirma que ACM pressionava para que o então prefeito, Celso Pitta, liberasse recursos para a empreiteira OAS, na época em que o Senado aprovava a antecipação de recursos orçamentários para São Paulo. Um dos sócios da OAS é o genro de ACM César Matta Pires.
ACM afirmou que permitia a quebra de seu sigilo, mas replicou que Calheiros "é quem entende de empreiteiros", procurando constranger o líder do PMDB.
"Conheço empreiteiros, mas não tenho negócios com eles. O senhor tem. Não me faça repetir o que o senador Jader Barbalho disse, mandar o senhor ficar caladinho", respondeu Renan, referindo-se à sessão no ano passado em que ACM e Jader trocaram acusações, no início das divergências públicas entre os dois.


Colaborou ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de Brasília


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