|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OMBUDSMAN
A ingenuidade à sua disposição
RENATA LO PRETE
Das conversas que tive com
leitores e colegas desde que
aceitei o convite para ser ombudsman da Folha, há uma
frase em especial que não me
sai da cabeça. "Para assumir
essa função, é preciso ser um
pouco ingênuo", disse-me
Caio Túlio Costa, o primeiro a
ocupar o cargo no jornal.
Dele e dos outros ombudsmen ouvi ainda palavras de
estímulo e demonstrações
sinceras de apreço pela instituição que consolidaram.
Mas não é difícil descobrir o
que Costa quer dizer. No meio
do caminho entre o jornal e o
leitor, o ombudsman existe
para apresentar ao primeiro
falhas e arbitrariedades apontadas pelo segundo.
A pressa com que é feito
condena o jornal a uma certa
dose de erros e distorções.
Muitos jornalistas consideram que essa imposição tudo
desculpa e os exime de dar explicações ao público.
Já foi pior. Hoje, alvo da
mesma intensidade crítica
que dedica aos outros, a imprensa -ou ao menos parte
dela- revê procedimentos e
busca o aperfeiçoamento.
A Folha está nesse caminho,
o que é um bom começo. Por
meio de programa de qualidade, comissões e seminários
internos, seus profissionais
refletem cada vez mais sobre
os limites de sua atividade e as
formas de prestar um serviço
de melhor qualidade.
Mas não é o bastante. O jornal comete mais erros do que
seria saudável aceitar. Vão de
pequenas incorreções, que
poderiam ser evitadas com
um pouco de aplicação e humildade, a falhas graves.
"O jornalismo terá de fazer
frente a uma exigência qualitativa muito superior à do
passado, refinando sua capacidade de selecionar, didatizar e analisar", diz a Folha no
ambicioso projeto editorial
que apresentou em agosto.
O leitor percebe que esse patamar de qualidade ainda
aparece de forma incipiente
nas páginas do jornal.
Mas, se há muito por ser feito, a Folha tem o mérito de expor suas fraquezas ao público
como nenhum outro veículo
da imprensa brasileira.
A instituição do ombudsman, que em setembro completa nove anos no jornal, é
uma das manifestações dessa
política.
Em minha primeira semana
de contato com os leitores,
percebi que está longe de haver unanimidade quanto à
eficácia da função.
Há quem reclame da arrogância nas respostas de alguns jornalistas. Não há como
discordar.
Muitos não entendem por
que as explicações às vezes
demoram tanto a chegar.
Nem eu, que estive por 12
anos na Redação.
Quero, aliás, assumir publicamente o compromisso de
encurtar esse caminho, bem
como o de não deixar ninguém sem resposta.
Agradeço a todos os que me
desejaram boa sorte. Vou precisar. Quanto a você, leitor,
minha ingenuidade está à sua
disposição.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|