São Paulo, domingo, 8 de março de 1998

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ENTREVISTA
Lillian Witte Fibe

(Jornalista, 44 anos)

Quanto de informação e quanto de entretenimento devem compor um telejornal?
Entreter, divertir ou distrair nunca foi tarefa jornalística. Seria patético se a imprensa optasse por reportagens adornadas com "efeitos especiais" apenas para aumentar a tiragem ou a audiência. Já pensou se resolvêssemos que a gravação da novela das oito é notícia e que, portanto, merece espaço num noticiário?
Está provado que jornalismo se alimenta, vive e sobrevive de independência e credibilidade.
A notícia vem perdendo espaço para o que os americanos chamam de "infotainment"?
Você já pensou na tragédia que seria se passássemos a nos pautar pelo que o telespectador quer ver, e não pelo que ele precisa ver?
Os institutos de pesquisa descobrem que o leitor da Folha quer mais bichinhos e mulher nua -e menos políticos, porque está aborrecido com os parlamentares e a imagem do Congresso não é boa. O diretor do jornal então obedece à "receita de bolo" e baixa a ordem: não se fala mais em partidos, políticos e alianças eleitorais.
A democracia não poupa seus cidadãos de decisões difíceis. E, para decidir com responsabilidade, as pessoas precisam ter acesso a todo tipo de informação, mesmo a desagradável. Nem todas as empresas de comunicação se deram conta de que a era do jornalismo escapista ficou para trás. Nos tempos do Médici, imperava o jornalismo chapa-branca e a Copa do Mundo. E olhe que não era culpa dos jornalistas. Isso felizmente acabou. A responsabilidade da imprensa na democracia é infinitamente maior.
Existe algum modelo de telejornalismo que você persegue?
Persigo, há 25 anos, o interesse do público (não o desejo dele). Gostaria de não ter dado a notícia do Plano Collor, por exemplo. Mas era um fato, e mudaria a vida dos brasileiros. Daí em diante, procurei me pautar unicamente pelo que era do interesse de quem estava me vendo na TV. Tenho procurado fazer isso sempre. Se não puder ser assim, não tem graça.
No dia em que nos esquecermos do interesse do público para atender a esse ou a aquele político, ao governo ou a algum ramo empresarial, estaremos todos fritos.
O que é mais importante: transmitir credibilidade ao público ou estabelecer empatia com ele?
Pelo que sempre ouvi dos especialistas, no jornalismo de TV o importante é a credibilidade. Empatia é fundamental nas novelas e na linha de shows. O que não significa que o apresentador de um telejornal tenha o direito de ser arrogante e antipático.
O jornalista pode privar o público da notícia?
Não, não, não. Seria uma grande burrice. Mas a notícia tem que ser bem apurada e responsável. Quando todo mundo no mercado sabe que um banco está quebrado, você tem o direito de anunciar isso? Sim, e é sua obrigação, mas você precisa estar documentado ou ter depoimentos que não dêem margem à dúvida, o que não é fácil. Sou a favor de uma lei de imprensa com punições rigorosas para a notícia leviana. Em contrapartida, gostaria que tivéssemos independência absoluta para trabalhar.



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