São Paulo, Segunda-feira, 08 de Março de 1999
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GOIÁS
Irmão de senador foi preso sob acusação de desviar dinheiro de banco
Promotoria quer que STF autorize apuração sobre Iris

LUCIO VAZ
enviado especial a Goiânia

O Ministério Público Federal solicitou à Justiça Federal o envio de denúncia ao STF (Supremo Tribunal Federal) para que "possam ser aprofundadas as investigações quanto à eventual participação dos senadores Iris Rezende e Maguito Vilela", ambos do PMDB, no caso do desvio de dinheiro do BEG (Banco do Estado de Goiás) durante a última campanha eleitoral.
O STF é que tem poder para determinar que a Polícia Federal instaure inquérito contra Iris e Maguito, por serem parlamentares. Eles negam as irregularidades.
Na última sexta-feira, o irmão e suplente de Iris, Otoniel Machado Carneiro, foi preso sob a acusação de participar do desvio de R$ 5 milhões do BEG (Banco do Estado de Goiás) para o comitê de campanha do PMDB no ano passado.
A prisão preventiva do irmão de Iris foi decretada com base em gravações de conversas telefônicas.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, o dinheiro teria sido desviado "em proveito próprio e da campanha eleitoral dos candidatos às eleições majoritárias pela coligação Goiás Rumo ao Futuro".
Iris era candidato ao governo e seu irmão, o coordenador do comitê de campanha. Maguito se candidatou, e conseguiu se eleger, ao Senado. Os três negam participação nas irregularidades.
Carneiro teria recebido os R$ 5 milhões em espécie do liquidante da Caixego (Caixa Econômica de Goiás), Edivaldo da Silva Andrade, em outubro. O dinheiro estava destinado a pagar ação trabalhista de ex-empregados da Caixego.
Por um acordo trabalhista, 124 ex-funcionários da Caixego deveriam ter recebido R$ 10 milhões referentes à rescisão contratual.
Entretanto, foram convencidos a receber apenas R$ 2,5 milhões sob a alegação de que a Caixego estaria "quebrada". Dos R$ 7,5 milhões desviados, R$ 5 milhões teriam sido usados na campanha de Iris Rezende, segundo o Ministério Público. Os R$ 2,5 milhões restantes teriam sido desviados para pagar os participantes da operação.
Além do irmão de Iris e de Edivaldo da Silva Andrade, preso desde 28 de janeiro, foram denunciados pelo Ministério Público mais seis pessoas que teriam participado do desvio (veja quadro).
Depoimentos importantes também estão ajudando a polícia. O tesoureiro do BEG, Pedro Cosme Viveiros, confirmou à polícia que entregou os R$ 5 milhões em espécie a Andrade em 21 de outubro.
O segurança Aureliano Fonseca Filho depôs e informou que Andrade colocou uma caixa de papelão no porta-malas de um Ômega no mesmo dia. A caixa teria sido usada para levar o dinheiro.

Escutas
Escuta telefônica autorizada pela Justiça registrou conversas entre Carneiro (irmão de Iris), Edivaldo Andrade (liquidante da Caixego) e outros advogados a partir da prisão de Andrade. Após ser preso, Andrade fez dois telefonemas. O primeiro foi pessoal. O segundo foi para Carneiro. "Já fiquei detido. Mas confirmei tudo, não mudei nada", disse o liquidante.
Em outra conversa gravada, com o advogado Ismar Estulano, o irmão de Iris fala sobre a tentativa de convencer o advogado Valdemar Zaiden (um dos indiciados) a assumir a responsabilidade sobre o dinheiro desviado. "Eu vou buscar alguém ligado à família para ver se consegue convencê-lo", diz.
Em nova ligação, Carneiro sugere uma saída para o caso. "E se os advogados todos se unirem e fizeram um documento único? Esses cinco mil ficou distribuído (sic) entre eles. A gente arrumaria uma saída", afirma.
Ismar Estulano faz outra proposta ao irmão de Iris: "Teria que arrumar um dinheiro, chamar esses reclamantes e pagar alguma coisa a eles. Eles assinam uma retificação". O advogado se referia aos reclamantes da Caixego.
Segundo o Ministério Público Federal, Carneiro buscou em seu irmão, Iris Rezende, apoio para convencer o advogado Valdemar Zaiden a aceitar o que chamaram de "solução global": "Eu preciso falar com o Maguito para o Maguito falar com o parente dele. Ele está na mão do parente, só isso", diz Carneiro na transcrição da folha 513, que faz parte do pedido de prisão de Carneiro feito pelo Ministério Público. A mulher de Valdemar Zaiden é prima de Maguito.
Para o Ministério Público, "o fato de Maguito Vilela, um dos integrantes da chapa majoritária da coligação Goiás Rumo ao Futuro, estar nas mãos do seu parente indica, com mais força ainda, a destinação eleitoral dos recursos". O juiz Alderico Santos, que decretou a prisão do irmão de Iris, usou as fitas para embasar a sua decisão.
Iris não respondeu aos recados deixados pela Folha na secretária eletrônica de sua residência. Maguito Vilela estava ontem em uma fazenda em Jataí (GO). Chegaria à noite em Goiânia. Iris deve falar hoje sobre o caso.


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