|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOIÁS
Irmão de senador foi preso sob acusação de desviar dinheiro de banco
Promotoria quer que STF
autorize apuração sobre Iris
LUCIO VAZ
enviado especial a Goiânia
O Ministério Público Federal solicitou à Justiça Federal o envio de
denúncia ao STF (Supremo Tribunal Federal) para que "possam ser
aprofundadas as investigações
quanto à eventual participação dos
senadores Iris Rezende e Maguito
Vilela", ambos do PMDB, no caso
do desvio de dinheiro do BEG
(Banco do Estado de Goiás) durante a última campanha eleitoral.
O STF é que tem poder para determinar que a Polícia Federal instaure inquérito contra Iris e Maguito, por serem parlamentares.
Eles negam as irregularidades.
Na última sexta-feira, o irmão e
suplente de Iris, Otoniel Machado
Carneiro, foi preso sob a acusação
de participar do desvio de R$ 5 milhões do BEG (Banco do Estado de
Goiás) para o comitê de campanha
do PMDB no ano passado.
A prisão preventiva do irmão de
Iris foi decretada com base em gravações de conversas telefônicas.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, o dinheiro teria sido desviado "em proveito
próprio e da campanha eleitoral
dos candidatos às eleições majoritárias pela coligação Goiás Rumo
ao Futuro".
Iris era candidato ao governo e
seu irmão, o coordenador do comitê de campanha. Maguito se
candidatou, e conseguiu se eleger,
ao Senado. Os três negam participação nas irregularidades.
Carneiro teria recebido os R$ 5
milhões em espécie do liquidante
da Caixego (Caixa Econômica de
Goiás), Edivaldo da Silva Andrade,
em outubro. O dinheiro estava
destinado a pagar ação trabalhista
de ex-empregados da Caixego.
Por um acordo trabalhista, 124
ex-funcionários da Caixego deveriam ter recebido R$ 10 milhões referentes à rescisão contratual.
Entretanto, foram convencidos a
receber apenas R$ 2,5 milhões sob
a alegação de que a Caixego estaria
"quebrada". Dos R$ 7,5 milhões
desviados, R$ 5 milhões teriam sido usados na campanha de Iris Rezende, segundo o Ministério Público. Os R$ 2,5 milhões restantes teriam sido desviados para pagar os
participantes da operação.
Além do irmão de Iris e de Edivaldo da Silva Andrade, preso desde 28 de janeiro, foram denunciados pelo Ministério Público mais
seis pessoas que teriam participado do desvio (veja quadro).
Depoimentos importantes também estão ajudando a polícia. O tesoureiro do BEG, Pedro Cosme Viveiros, confirmou à polícia que entregou os R$ 5 milhões em espécie
a Andrade em 21 de outubro.
O segurança Aureliano Fonseca
Filho depôs e informou que Andrade colocou uma caixa de papelão no porta-malas de um Ômega
no mesmo dia. A caixa teria sido
usada para levar o dinheiro.
Escutas
Escuta telefônica autorizada pela
Justiça registrou conversas entre
Carneiro (irmão de Iris), Edivaldo
Andrade (liquidante da Caixego) e
outros advogados a partir da prisão de Andrade. Após ser preso,
Andrade fez dois telefonemas. O
primeiro foi pessoal. O segundo foi
para Carneiro. "Já fiquei detido.
Mas confirmei tudo, não mudei
nada", disse o liquidante.
Em outra conversa gravada, com
o advogado Ismar Estulano, o irmão de Iris fala sobre a tentativa de
convencer o advogado Valdemar
Zaiden (um dos indiciados) a assumir a responsabilidade sobre o dinheiro desviado. "Eu vou buscar
alguém ligado à família para ver se
consegue convencê-lo", diz.
Em nova ligação, Carneiro sugere uma saída para o caso. "E se os
advogados todos se unirem e fizeram um documento único? Esses
cinco mil ficou distribuído (sic)
entre eles. A gente arrumaria uma
saída", afirma.
Ismar Estulano faz outra proposta ao irmão de Iris: "Teria que arrumar um dinheiro, chamar esses
reclamantes e pagar alguma coisa a
eles. Eles assinam uma retificação". O advogado se referia aos reclamantes da Caixego.
Segundo o Ministério Público
Federal, Carneiro buscou em seu
irmão, Iris Rezende, apoio para
convencer o advogado Valdemar
Zaiden a aceitar o que chamaram
de "solução global": "Eu preciso
falar com o Maguito para o Maguito falar com o parente dele. Ele está
na mão do parente, só isso", diz
Carneiro na transcrição da folha
513, que faz parte do pedido de prisão de Carneiro feito pelo Ministério Público. A mulher de Valdemar
Zaiden é prima de Maguito.
Para o Ministério Público, "o fato
de Maguito Vilela, um dos integrantes da chapa majoritária da
coligação Goiás Rumo ao Futuro,
estar nas mãos do seu parente indica, com mais força ainda, a destinação eleitoral dos recursos". O
juiz Alderico Santos, que decretou
a prisão do irmão de Iris, usou as
fitas para embasar a sua decisão.
Iris não respondeu aos recados
deixados pela Folha na secretária
eletrônica de sua residência. Maguito Vilela estava ontem em uma
fazenda em Jataí (GO). Chegaria à
noite em Goiânia. Iris deve falar
hoje sobre o caso.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Leia trechos das gravações Índice
|