|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SÃO PAULO
Mudanças prevêem eleição direta para cargos de direção do Tribunal de Justiça e unificação de tribunais
Emendas opõem base e cúpula do Judiciário
CLÁUDIA TREVISAN
da Reportagem Local
O TJ (Tribunal de Justiça) de São
Paulo ameaça deixar de aplicar
duas emendas à Constituição estadual que, na prática, reduzem o
poder de seus integrantes. Se consumada, a atitude pode desencadear um confronto sem precedentes entre a base e a cúpula do Judiciário paulista.
A primeira emenda, já aprovada,
estabelece a eleição do presidente,
do vice-presidente e do corregedor
do TJ por todos os juízes vitalícios
do Estado (cerca de 1.600). Atualmente, a escolha é restrita aos 132
desembargadores do TJ.
A outra emenda deverá ser votada pela Assembléia na próxima semana e prevê a unificação dos quatro tribunais estaduais no TJ. Isso
significa que o total de desembargadores passaria de 132 para 338.
Inconstitucional
As duas alterações são defendidas pela Apamagis (Associação
Paulista de Magistrados), que representa os juízes estaduais, e pela
Associação Juízes para a Democracia, presidida por Dyrceu Cintra.
Para reforçar sua posição, a Apamagis apresentou aos deputados
pesquisa nacional realizada pela
AMB (Associação dos Magistrados
Brasileiros) na qual 80,4% dos juízes entrevistados se manifestaram
a favor da eleição direta para os
cargos de direção do TJ.
A pedido dos parlamentares, a
entidade realizou novo levantamento, restrito a São Paulo. Segundo o vice-presidente da Apamagis,
Artur Marques da Silva Filho, cerca de 85% dos magistrados defenderam a eleição direta e a unificação dos tribunais superiores.
O TJ ainda não adotou uma posição definitiva sobre o assunto. Mas
um comunicado de seu Órgão Especial, publicado no Diário Oficial
de 1º de março, indica que as
emendas deverão ser ignoradas.
O Órgão Especial é composto pelos 25 desembargadores mais antigos e representa a cúpula do Poder
Judiciário estadual.
Segundo o comunicado, o Órgão
Especial decidiu, por unanimidade, "posicionar-se contrariamente" às duas emendas. A principal
razão é que os desembargadores as
consideram inconstitucionais.
O comunicado sustenta que a
Constituição reserva ao Judiciário
a iniciativa de apresentação de
emendas sobre sua organização.
Como as duas mudanças foram
propostas por deputados estaduais, haveria o que em direito é
chamado de "vício de origem".
Os defensores das emendas afirmam que elas democratizam e racionalizam o Judiciário paulista.
Além do TJ, existem três outros órgãos de segunda instância no Estado: 1º Tribunal de Alçada Civil, 2º
Tribunal de Alçada Civil e Tribunal de Alçada Criminal. Todos têm
autonomia administrativa.
"A unificação traria uma grande
economia de recursos", afirma o
juiz José Renato Nalini, do Tribunal de Alçada Criminal. A medida
eliminaria presidências, vice-presidências e cargos de confiança em
três tribunais, argumenta Nalini.
Outra vantagem, diz, seria o fim
das dúvidas sobre qual tribunal é
competente para julgar determinado tema. Apesar de haver previsão legal sobre o assunto, não é incomum que um processo seja enviado a um tribunal que se considere incompetente para julgá-lo e
o encaminhe a outro tribunal.
O presidente do TJ, desembargador Dirceu de Mello, sustenta que
a unificação criaria um tribunal
excessivamente grande. Ele defende a criação de tribunais de alçada
regionais, que descentralizariam o
Judiciário e abririam novas vagas
para a promoção de juízes de primeira instância.
Segundo ele, os tribunais regionais acabariam com o estrangulamento da carreira e permitiriam
que os juízes se aposentassem no
interior. O desembargador afirma
que as dúvidas sobre competência
podem ser resolvidas com aprovação de legislação que defina claramente o papel de cada tribunal.
Mello acrescenta que a decisão
sobre a aplicação das emendas caberá ao Órgão Especial.
A Apamagis diz que vai aguardar
a decisão do TJ, mas antecipa que
recorrerá ao Judiciário caso as mudanças não sejam implementadas.
O caminho seria pedir ao Supremo
Tribunal Federal a declaração de
constitucionalidade das emendas.
Texto Anterior: FMI: Déficit nominal deve ficar em 8% do PIB Próximo Texto: Artigo - Walter Ceneviva: Emendas agitam o Judiciário Índice
|