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CAMPO MINADO
Foram 40 as ações no mês passado, que só perdem para as 101 no mesmo período de 99; no trimestre, número cresceu 19%
Março tem maior nš de invasões em 5 anos
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No momento em que o governo
enfrenta ações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra) em todo o país, os números oficiais revelam que as invasões de terra aumentaram no
primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2003.
Entre janeiro e março deste ano
foram 56 casos, contra 47 no mesmo intervalo no ano passado, um
crescimento de 19%.
Só em março foram 40 invasões,
o maior número no mês desde
1999, quando ocorreram 101 casos. A maioria dos casos até 31 de
março deste ano ocorreu no Nordeste (25), seguido das regiões Sudeste (19), Centro-Oeste (10),
Norte e Sul (1 cada).
Em 2003, em relação a 2002, último ano do governo FHC, o número de invasões de terra já havia
avançado 115% -passando de
103 para 222 casos, segundo o Ministério do Desenvolvimento
Agrário. Em 2002, o MST deu
uma trégua nas invasões por conta das eleições presidenciais
-apoiou a candidatura de Lula.
Os dados da administração Lula
contradizem seu discurso de
campanha. Em 2002, às vésperas
das eleições, ele chegou a afirmar
que era o "único capaz de fazer
uma reforma agrária tranqüila".
Em 2003, 42 pessoas foram assassinadas em conflitos no campo
-um aumento de 110% sobre os
20 casos de 2002. Entre janeiro e
março deste ano, segundo o ministério, foram duas mortes.
Há duas semanas, o MST deflagrou o que eles chamam de "jornada de luta", com invasões em
todo o país, para pressionar o governo a acelerar o processo de reforma agrária e lembrar, como faz
todos os anos, os 19 trabalhadores
rurais sem terra assassinados pela
Polícia Militar em 1996, na desobstrução de uma estrada em Eldorado do Carajás (PA). Não há
ninguém preso pelo massacre.
A ouvidora agrária nacional
substituta, Maria de Oliveira, que
falou em nome do governo, reconheceu que o número de ações
dos sem-terra neste ano "superou
as expectativas". Isso preocupa,
segundo ela, pois "toda ação gera
uma reação", numa referência a
possíveis conflitos entre trabalhadores rurais e fazendeiros.
"O governo precisa ter a habilidade necessária para abreviar as
etapas de desapropriação e acelerar o processo de reforma agrária.
Hoje, há duas linhas entre os sem-terra: invadir para combater o latifúndio e acampar na porta das
fazendas para pressionar o governo", disse a ouvidora.
Recorde
Os números deste ano superam
todos os registrados desde a edição da medida provisória antiinvasão, em maio de 2000.
A MP, que na prática ainda não
foi cumprida pelo atual governo,
proíbe por dois anos as avaliações
e vistorias em terras invadidas e
exclui do programa de reforma
agrária os assentados que participarem de invasões.
Segundo o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária), não existe hoje no país
nenhuma área impedida de vistoria por causa da MP.
Após a medida, houve uma diminuição nas invasões. Em 1999,
por exemplo, antes de sua edição,
ocorreram 101 invasões em março, 199 no primeiro trimestre e
502 em todo o ano. Sob Lula, nem
a metade do número foi atingida.
Para Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, "há uma
situação grave no campo que justifica" o avanço dos números.
"Até agora não houve uma resposta adequada do governo. Existem as promessas, mas as ações
não estão ocorrendo. A culpa não
é apenas do Lula, mas ele é o presidente", disse.
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