São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2004

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Greve reduz em 54% inquéritos da PF

LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de o governo ter afirmado que a greve da Polícia Federal não afetou a prestação de serviços do órgão, números da própria polícia do mês de março, em comparação ao mesmo período de 2003, mostram que houve reduções nas apreensões de drogas, nos inquéritos instalados, nos indiciamentos e na emissão de passaportes.
A greve começou no dia 9 de março. A apreensão de drogas teve uma queda significativa (63%). Enquanto em março de 2003 foram apreendidas 13,5 toneladas de cocaína e maconha, no último mês foram cinco toneladas.
O número de inquéritos caiu 54%, o de indiciamentos 59%, e o de emissão de passaportes 12,5%. As ações de fiscalização de trabalho escravo também foram paralisadas por causa da greve. Segundo o Ministério do Trabalho, responsável pelos grupos de fiscalização, "dezenas" de denúncias sobre trabalhadores mantidos em situação análoga à escravidão estão paradas.

Termômetro
A assessoria de imprensa da Polícia Federal disse que a apreensão de drogas não é um bom "termômetro" para verificar a produtividade do órgão, pois a venda de entorpecentes pode ter sido inibida pelo desmantelamento de rotas internas. Quanto aos demais itens, disse que o esforço é grande para manter as atividades, uma vez que 80% dos funcionários (90%, segundo o comando de greve) estão parados.
O Ministério da Justiça, por meio de sua assessoria, de imprensa informou que não comentaria os números da ação da Polícia Federal no mês passado.
"É uma infelicidade a sociedade ter um governo que não se preocupa com a criminalidade. Lamentamos estar em um país no qual o governo passa por cima da lei e faz de conta que a lei não existe", afirma Fernando Onorato, presidente do Sindipol/DF (Sindicato dos Policiais Federais).
Agentes, papiloscopistas e escrivães afirmam que o governo não cumpre uma lei de 1996, pois recebem salários de nível médio, mas têm direito a vencimentos de nível superior.
Já o governo diz que os salários foram reajustados quando a lei foi implementada, que a reivindicação é inconstitucional e que não há orçamento para atender o pedido (aumento de 85% e gasto que alcança R$ 600 milhões).
Duas decisões da Justiça Federal -uma da Bahia e uma de Brasília - determinaram o fim da "operação padrão", que vem causando filas nos aeroportos, e que os grevistas mantivessem os serviços essenciais da polícia. As decisões, no entanto, afirmam que a greve da polícia é legal.

Ação de marketing
Na próxima segunda-feira, o movimento diz que iniciará uma companha de marketing por meio de rádios e nos aeroportos. No início da semana, serão chamadas destinadas a explicar ao público o motivo da greve.
Os grevistas estimam gastar mais de R$ 1 milhão com publicidade (o dinheiro virá da venda de um imóvel e de um fundo de greve, informam).
A mudança de tática se deve ao impacto negativo na opinião pública da "operação padrão" nos aerportos.
Com isso, os grevistas ratificam a mudança de tática. Francisco Garisto, presidente da Fenapef (Federação Nacional de Policiais Federais), afirmou à reportagem que a volta da operação padrão está praticamente descartada.


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