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SISTEMA FINANCEIRO
Supostas irregularidades envolvendo bancos serão apuradas
Fraga, Lopes e Franco serão
intimados por Procuradoria
da Sucursal do Rio
O Ministério
Público Federal
em Brasília decidiu ampliar as
investigações
sobre supostas
irregularidades
envolvendo a
desvalorização do real e vai convocar para depor o presidente do
Banco Central, Armínio Fraga,
seus antecessores Francisco Lopes
e Gustavo Franco e o ex-diretor da
instituição Cláudio Mauch.
Também serão chamados a depor dirigentes dos seguintes bancos: Marka, FonteCindam, JP Morgan, ING Barings, BankBoston,
Garantia, Pactual, Banco do Brasil,
Citibank, Boavista, Matrix e Bozano, Simonsen.
Antes, a apuração do Ministério
Público estava restrita à operação
para salvar o Marka e o FonteCindam à época da desvalorização do
real. Agora, as investigações serão
estendidas para checar se outros
bancos receberam informações
privilegiadas no mesmo período.
A ampliação do inquérito foi decidida pelos procuradores da República Luiz Francisco de Souza,
Guilherme Schelb e Valquíria Oliveira Quixadá Nunes, atendendo
representação do Sindicato dos
Bancários de São Paulo e dos deputados federais Aloizio Mercadante e Ricardo Berzoini, ambos
do PT paulista.
Na representação, o sindicato e
os dois deputados levantam suspeitas sobre bancos que, segundo
eles, dias antes da desvalorização
do real, teriam adotado "mudança
radical no comportamento no
mercado de câmbio", com a compra "repentina de volumes expressivos de dólares".
"Ao que tudo indica, e isso deverá ser apurado, houve às vésperas
da desvalorização inegável vazamento de informações consideradas sigilosas para o mercado financeiro", afirma a representação assinada pelos advogados João Piza e
Telma Hayashd.
Ainda não há data para as convocações. Como a representação foi
feita com base na Lei da Improbidade Administrativa, o presidente
do BC e os ex-dirigentes da instituição não podem alegar foro privilegiado, tendo de atender à convocação do Ministério Público.
A Lei de Improbidade Administrativa pode ser aplicada a servidores, ex-servidores e pessoas que tenham operado com instituições
públicas de forma irregular.
As penas previstas são ressarcimento integral do dano, perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco
anos, pagamento de multa e proibição de firmar contratos com o
poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais pelo prazo de três anos.
No Rio de Janeiro
A Procuradoria da República no
Rio também decidiu ontem intimar o ex-presidente do Banco
Central Francisco Lopes a depor
em investigação aberta para apurar eventuais irregularidades no
caso dos bancos Marka e FonteCindam.
A data do depoimento ainda não
foi marcada, mas, segundo a Folha
apurou, ele deverá acontecer na
próxima semana. A investigação
será conduzida pelos procuradores Bruno Caiado de Acioli, Artur
Gueiros, Davy Lincoln Rocha e Raquel Nascimento.
A investigação da Procuradoria é
uma etapa que antecede a abertura
de inquérito policial.
Preliminarmente, os procuradores acham possível que a venda de
dólares baratos àquelas duas instituições configure crime enquadrável no artigo 23 da da lei nº 7.492/
86 (Lei do Colarinho Branco).
O artigo prevê pena de um a quatro anos, mais multa, para funcionário público que "omite, retarda
ou pratica" ato contra o "regular
funcionamento do sistema financeiro nacional" ou contra a "preservação dos interesses econômico-financeiros".
Os procuradores estão solicitando o envio pelo Banco Central, em
cinco dias úteis, de "informações
pormenorizadas, devidamente
acompanhadas dos documentos
correspondentes", sobre a venda
dos dólares aos dois bancos, realizada no dia 14 de janeiro.
Outra solicitação feita, também
para cumprimento em cinco dias
úteis, foi para que a BM&F (Bolsa
de Mercadorias & Futuros) envie
informações detalhadas, acompanhadas de documentos, sobre as
operações de compra e venda de
dólares abaixo da cotação do mercado envolvendo o BC, o Marka e o
FonteCindam.
Além de Francisco Lopes, os procuradores intimam a depor a ex-secretária do Marka Nikko Asset
Management (subsidiária do Marka para gestão de fundos) Sandra
Cupello.
Segundo reportagem publicada
pela revista "IstoÉ Dinheiro", Cupello disse que agendou várias reuniões entre Lopes e dirigentes do
Marka, incluindo o presidente do
banco, Alberto Cacciola, e o ex-diretor Francisco de Assis Moura.
Moura teria sacado, na véspera
da desvalorização cambial feita no
dia 13 de janeiro, cerca de R$ 2 milhões de suas aplicações pessoais
em fundos do Marka.
Após a desvalorização do real, os
cotistas desses fundos que não sacaram antes tiveram prejuízos. Há
suspeita de que Moura e outros dirigentes do banco tiveram informações prévias da mudança no
câmbio para sacar suas aplicações.
A Folha não conseguiu falar com
Lopes e Moura ontem para que comentassem o caso.
(LUCAS FIGUEIREDO E CHICO SANTOS)
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