São Paulo, Quinta-feira, 08 de Abril de 1999
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Marka teria prejuízo, diz presidente

CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

O presidente do banco Marka, Alberto Cacciola, disse ontem à Folha que a perda adicional da instituição caso o Banco Central não lhe tivesse vendido dólares abaixo da cotação máxima do dia 14 de janeiro (R$ 1,32) teria sido de R$ 35 milhões. O BC, segundo ele, vendeu os dólares ao Marka pela cotação de R$ 1,275.
Cacciola disse que o Marka não foi favorecido pelo BC e que o banco fechou suas operações com uma perda total de R$ 110 milhões. Segundo ele, o Marka foi forçado a recorrer ao BC diretamente para acertar suas contas no mercado futuro, no dia 14 de janeiro, porque não havia oferta de dólares no mercado.
Essa foi a mesma versão do episódio defendida pelo presidente do BC na época, Francisco Lopes, em entrevistas nesta semana. "A verdade dos fatos é o que Francisco Lopes relatou", disse o presidente do banco.
"Não existiu socorro. O que acontece é que vocês (os jornalistas) não dominam tudo que ocorre na economia e no mercado. O que aconteceu foi que o BC viabilizou uma operação. O Marka precisava zerar sua posição (fechar as contas do dia no mercado futuro) e não tinha alternativa no mercado", afirmou.
Cacciola disse que, quando o BC negociou com o Marka, que tinha aplicações totais no valor de R$ 1 bilhão, e com o banco FonteCindam -a quem o BC teria vendido dólares a R$ 1,32, o teto da banda cambial-, a posição do governo ainda era a de defender o regime de bandas para o câmbio.
O presidente do Marka disse que está havendo também incompreensão quanto à diferença entre as contas do banco e as dos cotistas dos fundos de investimentos que ele administrava.
Segundo ele, os dólares comprado no Banco Central foram para ajudar no fechamento das posições dos bancos com seus clientes, pessoas físicas e jurídicas.
Cacciola afirmou que apenas os CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) do banco que estavam em poder de dirigentes do Marka e de empresas coligadas e subsidiárias do banco perderam o valor e, por determinação do BC, foram resgatados pelo valor simbólico de R$ 0,10.
Essas aplicações, que incluiriam as pessoais do próprio Cacciola, somavam um total de R$ 30 milhões, de acordo com o presidente do banco.
Em relação aos cotistas dos fundos, Cacciola disse que todos eles sabiam estar aplicando em papéis de alto risco e que não têm agora motivos para reclamar.
Os cotistas dos fundos de derivativos plus perderam 95% do valor das aplicações. "Mas quem estava aplicado em dólar ganhou mais de 50%, e ninguém fala nisso."

Lucro em fevereiro
Cacciola disse que o lucro de R$ 18,3 milhões que aparece no balancete do banco de fevereiro, revelado ontem pela Folha, é decorrente de um erro de um funcionário da contabilidade do campo, que teria colocado no sistema do Banco Central um disquete com números referentes apenas ao lucro de um tipo de operação (conhecida como swap), sem fazer a "conciliação" do lucro com o prejuízo.
Ele afirmou que o disquete seria trocado ainda ontem. "Como pode haver lucro, se o banco quebrou?".
Cacciola também isentou diretores do Marka da acusação de terem retirado dinheiro das suas aplicações pessoais antes da queda do real.
Segundo ele, o diretor Francisco de Assis Moura de Mello resgatou R$ 2 milhões no dia 14 de janeiro, já com o dólar a R$ 1,34, quando o teto da banda estava em R$ 1,32.
Naquele dia, segundo ele, foram feitos todos os resgates pedidos no dia 13, conforme a regra do mercado, num total de R$ 28 milhões, sendo R$ 3 milhões de dirigentes do Marka, incluindo a parte de Moura.
Cacciola disse também que só negociou com o segundo escalão da Diretoria de Fiscalização do BC e que nunca se encontrou com Francisco Lopes, ao contrário do que disse à revista "IstoÉ Dinheiro" a ex-secretária do Marka Sandra Cupello.
O presidente do Marka telefonou para a Sucursal da Folha do Rio e disse que estava falando do seu escritório na cidade, negando ter viajado para o exterior -como havia sido informado anteontem.


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