São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2001

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ROMBO TRANSAMAZÔNICO

Presidente se reúne com ministro hoje, no Alvorada

FHC vê quebra de confiança e aguarda saída de Bezerra

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso quer que o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, peça demissão por entender que houve quebra de confiança na relação dos dois. Além disso, falta a Bezerra sustentação política para permanecer no cargo. A saída do ministro deve ser acertada hoje cedo, em reunião com o presidente.
Segundo auxiliares de FHC, o ministro chegaria à conversa sabendo que FHC espera ouvir dele um pedido de demissão. O porta-voz do desejo presidencial deve ser o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral da Presidência), que poderia receber Bezerra ainda ontem à noite.
Ontem, já se discutia no Planalto um nome para substituí-lo. Um deles era o do ex-presidente da Câmara Michel Temer (PMDB-SP). Fernando Bezerra marcou entrevista coletiva para hoje, a fim de dar suas explicações.
Entre 1989 e 1998, Bezerra teve o controle da Metasa (Metais Seridó S.A), empresa que recebeu R$ 3,9 milhões da recém-extinta Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste).

Corregedora
O projeto da Metasa que recebeu financiamento não foi implementado de acordo com as regras previstas. Levando em conta o período no qual Bezerra não detinha o controle acionário da empresa, ela recebeu, no total, R$ 6,6 milhões da Sudene.
Na avaliação de FHC, o ministro deveria ter lhe dito que uma empresa de sua propriedade recebeu recursos da Sudene. Afinal, estava a cargo de Bezerra investigar a má aplicação de recursos da Sudam e da Sudene por parte de empresas.
A corregedora-geral da União, Anadyr Rodrigues, cobrou formalmente explicações do ministro e deu a ele prazo de dez dias.

Sem apoio
A falta de sustentação partidária também contribui para a provável queda do ministro. Apesar de peemedebista, ele está de saída do partido para o PTB. Quer disputar o governo do Rio Grande do Norte contra o peemedebista Henrique Eduardo Alves.
Com a mudança para o PTB, Bezerra entrou em rota de colisão com a cúpula do PMDB. Ontem, os dirigentes peemedebistas deixaram claro para FHC que não dariam sustentação ao ministro. De manhã, FHC recebeu no Palácio da Alvorada Renan Calheiros (AL) e Sérgio Machado, líderes do PMDB e do PSDB no Senado, respectivamente. Os parlamentares saíram do encontro convencidos de que Bezerra não se sustentaria.
Bezerra passou o dia de ontem em Natal, montando uma espécie de dossiê para apresentar a FHC. Ele deseja provar que todos os desembolsos da Sudene foram legais. Seu principal argumento, porém, será dizer que não foi ele quem pleiteou os recursos da autarquia. Dirá que o pedido da Metasa à Sudene foi apresentado em outubro de 1984 e aprovado em março de 1986 pelo conselho deliberativo da autarquia.
O ministro diz que só entrou na empresa em 1989. Mas quem fez a operação Metasa-Sudene foi Benivaldo Alves de Azevedo, ex-colaborador do ministro.
Benivaldo foi secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional entre entre dezembro do ano passado e abril deste ano. O segundo de Bezerra no ministério caiu na véspera da divulgação de um grampo telefônico da PF (Polícia Federal), no qual era acusado de negociar liberação de verbas da Sudam.
Amigo de infância de Bezerra, Benivaldo foi assessor do ministro na CNI (Confederação Nacional da Indústria). Bezerra é presidente licenciado da entidade.
Ontem, Bezerra chegou a desmarcar uma entrevista em Natal. Sua chegada a Brasília estava prevista para o começo da noite.



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