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RUMO A 2006
Tucano e presidente da Câmara tentam enfraquecer governo no Congresso e minar planos do PT para eleições
FHC e Severino articulam derrotas de Lula
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a articular
derrotas do governo Luiz Inácio
Lula da Silva no Congresso. Em
encontro reservado com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), há uma semana,
em São Paulo, FHC e o pepista fecharam acordo a fim de derrotar
Lula no Congresso e enfraquecer
o governo e o PT para as eleições
de outubro de 2006.
Os contatos telefônicos entre
FHC e Severino continuam freqüentes. O tucano já havia trabalhado pela eleição do pepista para
presidente da Câmara, quando
interveio nos bastidores para impedir que o PSDB apoiasse o candidato de Lula, Luiz Eduardo
Greenhalgh (PT-SP).
A Severino interessa manter
aberta a possibilidade de se unir à
oposição em 2006. Ao mesmo
tempo, faz jogo duplo, arrancando do governo benesses, como
um cargo para um filho. O pepista
tem até um presidenciável de sua
preferência se FHC não concorrer: o tucano Aécio Neves, governador de Minas, como confidenciou ao próprio ex-presidente.
Se ficar inviável a relação de Severino com o governo, FHC ofereceu ao pepista até a oportunidade de trocar de partido. O tucano
se dispôs a intermediar a filiação
de Severino ao PFL. Curiosidade:
quando Lula engavetou a reforma
ministerial em março devido à
exigência de Severino para nomear um ministro do PP, o presidente da Câmara ameaçou se aliar
ao PFL contra o governo.
O recente encontro de Severino
e FHC, confirmado por membros
do PP e do PSDB, rendeu no curto
prazo derrota para o governo na
Câmara e a salvação do presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), com
o arquivamento de um pedido de
sindicância. Anteontem, a Câmara escolheu o representante no
Conselho Nacional de Justiça, órgão para fiscalizar o Judiciário.
Venceu Alexandre de Moraes, secretário da Justiça do governador
de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB) e presidente da Febem
(Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor).
Sua eleição teve apoio fundamental do PFL, partido ao qual é
filiado. Os pefelistas têm jogado
em sintonia política com FHC e
PSDB. FHC tem realizado freqüentes encontros com dirigentes
pefelistas, como o presidente do
partido, Jorge Bornhausen, a fim
de articular uma aliança em 2006
que una PSDB, PFL, PPS e setores
do PMDB e do PP.
Com uma candidatura articulada em dez dias, enquanto houve
até rebelião na Febem, Moraes
bateu o candidato do governo,
Sérgio Renault, secretário de Reforma Judiciária. Partidos da base
do governo ficaram contra interesses de Lula em votação secreta.
O governo diz que fez acordo
com Severino, que não teria cumprido o acerto de levar o PP a votar em Renault. A escolha de um
nome ligado a Alckmin, presidenciável que esteve em Brasília na
quarta em ato no qual tucanos
atacaram o governo, foi vista por
Lula como a chegada "ao fundo
do poço" da articulação política e
pode resultar na saída de Aldo Rebelo (Coordenação Política).
Segundo relato de pepistas, na
conversa com FHC, Severino prometeu apoio a Moraes. Em troca,
queria a eleição pela Câmara de
um apadrinhado seu para o Conselho Nacional do Ministério Público. Severino obteve apoio da
oposição e do governo para eleger
Francisco Maurício Albuquerque
-pai de seu secretário particular,
Eduardo Albuquerque.
A operação para salvar Pedro
Corrêa foi discutida em detalhes
com os tucanos, inclusive com
FHC. Teve como contrapartida o
compromisso de Severino de que
não impediria a cassação do deputado federal André Luiz (RJ),
ex-PMDB, na quarta-feira, o que
acabou acontecendo.
Corrêa é acusado de ter ligações
com a máfia dos combustíveis.
Corrêa, porém, ainda não havia
enfrentado procedimento na Comissão de Ética da Câmara. Existia só pedido de sindicância, que
Severino arquivou na véspera da
cassação de André Luiz. Motivo:
com a cassação do deputado federal fluminense na quarta, baseada
em prova que os parlamentares
consideravam de peso político,
mas de valor legal contestável judicialmente, ficaria difícil impedir
a cassação de Corrêa no futuro se
não houvesse arquivamento do
pedido de sindicância.
As duas situações são muito parecidas. O PSDB, porém, exigiu
que Severino fosse firme na cassação de André Luiz, algo que ele relutava em fazer. Uma evidência é
que a cassação aconteceu sem que
fosse distribuída aos parlamentares a conclusão final da Comissão
de Ética a respeito do caso. Ou seja, os deputados federais votaram
pela pressão da opinião pública,
abafando o acobertamento dado
ao presidente do PP de Severino.
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