|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOCORRO A BANCOS
Órgãos do governo limitaram-se ao socorro e a considerações gerais, sem investigar vazamento de informações privilegiadas
Senado e BC investigaram, sem avanços
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Senado e o Banco Central
abriram investigações próprias
para apurar as supostas irregularidades nos socorros aos bancos
Marka e FonteCindam, mas pouco somaram aos trabalhos conduzidos pelo Ministério Público.
O escândalo foi um dos seis
pontos apurados pela CPI dos
Bancos, que só foi criada em março de 1999 porque o senador Jader
Barbalho (PMDB-PA) queria tomar os holofotes da CPI do Judiciário, proposta pelo presidente
do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
A CPI foi conduzida em alta
temperatura durante apenas dois
meses e teve seu momento mais
espetacular em abril de 1999,
quando o ex-presidente do BC
Francisco Lopes foi preso por se
recusar a assinar documento que
lhe obrigaria a dizer a verdade em
depoimento aos senadores.
Nos casos do Marka e FonteCindam, as investigações se resumiram ao socorro feito pelo BC,
sem avançar nas suspeitas de existência de um esquema que forneceria informações privilegiadas
aos dois bancos.
O Ministério Público fez apurações paralelas durante toda a CPI
e encontrou os documentos mais
relevantes à investigação, como o
bilhete de Lopes que afirmava que
ele tinha US$ 1,675 milhão no exterior. Mas a CPI não conseguiu
encontrar nenhum elo entre o dinheiro e o socorro aos dois bancos quebrados.
Os trabalhos da CPI foram encerrados em novembro de 1999, e
o relatório final apenas apontou
supostos crimes no socorro ao
Marka e FonteCindam que deveriam ser mais bem investigados
pelo Ministério Público.
O dono do Banco Marka, Salvatore Cacciola, foi o único citado
nominalmente pelo relatório da
CPI. O documento trata apenas
genericamente da necessidade de
investigar supostos crimes praticados "por dirigentes e servidores" do BC.
O maior estrago causado pela
CPI dentro da atual diretoria do
BC foi a demissão do então diretor de Fiscalização do BC, Luiz
Carlos Alvarez, que qualificou como "lixo" o relatório final aprovado pelos senadores.
Alvarez foi substituído por Tereza Grossi Togni, que, como interina do Departamento de Fiscalização, conduziu pessoalmente o
socorro aos bancos Marka e FonteCindam.
Seu nome foi aprovado pelo Senado, após uma resistência inicial. Líderes governistas utilizaram os termos genéricos usados
no relatório final da CPI para fazer passar a indicação da atual diretora de Fiscalização do BC.
BC
O BC abriu suas próprias investigações sobre o caso, mas nenhum esforço foi feito para apurar o papel da instituição no socorro. Para o BC, a operação foi
legal e necessária para evitar que a
quebra de bancos criasse uma crise sistêmica quando o governo
implantava um novo regime cambial no país.
A sindicância teve como alvo
apenas a suposta participação de
funcionários do BC em um presumido esquema de fornecimento
de informações privilegiadas.
A comissão não apontou nenhum suspeito e, pelo contrário,
reuniu indícios de que não houve
vazamento de informações.
O BC chegou a tal conclusão observando os movimentos do mercado às vésperas da desvalorização que, segundo seus estudos, foram iguais a movimentos de estresse registrados às vésperas de
outras crises, como a asiática
(1997) e a russa (1998).
O BC também tomou a iniciativa de interpelar judicialmente
Cacciola para que o banqueiro
confirmasse supostas declarações
feitas a investidores sobre a existência de um esquema de informações privilegiadas. O banqueiro negou.
O fato mais forte encontrado
pelo BC foi a suposta maquiagem
de balanço do Marka para evitar
pagamento de impostos.
Até o início da noite de ontem, a
assessoria de imprensa da instituição não havia informado se foram aplicadas punições aos envolvidos.
Texto Anterior: Para advogados, prisão é estranha Próximo Texto: Advogado vai pedir habeas corpus Índice
|