São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2000


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JANIO DE FREITAS
O que as verbas cortam

O absoluto descaso por critérios para o corte de verbas, com o propósito único de reduzir o déficit na medida do acordado com o FMI, está produzindo consequências destrutivas das quais só se tem idéia, na falta de um levantamento abrangente, pela atenção a exemplos isolados.
O gasto de R$ 19 milhões com o estande do Brasil na Feira de Hannover, com a participação de Paulo Henrique Cardoso no empreendimento, foi defendido por Fernando Henrique Cardoso com o argumento de que "o Brasil não pode ficar como avestruz". Não foi propriamente uma explicação de nível intelectual.
Não foi, mas esteve à altura de quem preside um país cuja mais antiga instituição científica, com as melhores coleções em ciências biológicas e um setor de pesquisas admirável, está em processo acelerado de degradação por falta de uma reforma orçada em R$ 19 milhões. É o Museu Nacional, que terça-feira celebrou 182 anos com um lamento.
(Em tempo: os modestos R$ 19 milhões do Museu Nacional são de custo verdadeiro, sem comissões e outros facilitários)
"Após cinco meses esperando ajuda oficial", na informação de Ricardo Boechat, a Rádio Ministério da Educação conseguiu pagar a taxa de armazenamento e liberar, na Alfândega, o piano que importou da Alemanha.
O Ministério da Educação resolveu liberar a fortuna? Não, houve uma doação da Embratel. Valor da fortuna pela qual o Ministério da Educação e o governo do intelectual preferiam perder o piano extraordinário: R$ 11 mil.
A Reserva de Poço das Antas, onde se abrigam os micos-leões dourados escapados da extinção, desde domingo está atacada por um grande incêndio, mais um. A delegacia do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais não tem dinheiro para consertar seus veículos quebrados, nem sequer para o combustível dos que consigam andar.
O Ibama explica: o Orçamento da União só foi sancionado por Fernando Henrique no mês passado, e o dinheiro ainda não chegou. Não chegou aonde? A Hannover chegou, sim. Para o novo tour europeu de Fernando Henrique e sua comitiva, também chegou e com igual fartura.
Cá entre nós, o que falta não é dinheiro, é espírito público dos dirigentes de entidades à mingua. Se tivessem a grandeza de nomear Paulo Henrique Cardoso para cargos honoríficos - mas não só honoríficos, é claro - nessas entidades, todas viveriam como se fossem pavilhões brasileiros em Hannover. Um grupo de empresários já entendeu isso há tempos: pôs Paulo Henrique Cardoso à frente e sua "revista" fatura anúncios mais do que qualquer outra no Brasil. Por coerência, o suposto assunto da "revista" é o desenvolvimento sustentado. Muito bem sustentado.


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