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JANIO DE FREITAS
O que as verbas cortam
O absoluto descaso por critérios para o corte de verbas, com o propósito único de reduzir o déficit na medida do
acordado com o FMI, está produzindo consequências destrutivas das quais só se tem idéia, na
falta de um levantamento
abrangente, pela atenção a
exemplos isolados.
O gasto de R$ 19 milhões com o
estande do Brasil na Feira de
Hannover, com a participação
de Paulo Henrique Cardoso no
empreendimento, foi defendido
por Fernando Henrique Cardoso
com o argumento de que "o Brasil não pode ficar como avestruz". Não foi propriamente
uma explicação de nível intelectual.
Não foi, mas esteve à altura de
quem preside um país cuja mais
antiga instituição científica, com
as melhores coleções em ciências
biológicas e um setor de pesquisas admirável, está em processo
acelerado de degradação por falta de uma reforma orçada em
R$ 19 milhões. É o Museu Nacional, que terça-feira celebrou 182
anos com um lamento.
(Em tempo: os modestos R$ 19
milhões do Museu Nacional são
de custo verdadeiro, sem comissões e outros facilitários)
"Após cinco meses esperando
ajuda oficial", na informação de
Ricardo Boechat, a Rádio Ministério da Educação conseguiu pagar a taxa de armazenamento e
liberar, na Alfândega, o piano
que importou da Alemanha.
O Ministério da Educação resolveu liberar a fortuna? Não,
houve uma doação da Embratel.
Valor da fortuna pela qual o Ministério da Educação e o governo
do intelectual preferiam perder o
piano extraordinário: R$ 11 mil.
A Reserva de Poço das Antas,
onde se abrigam os micos-leões
dourados escapados da extinção, desde domingo está atacada
por um grande incêndio, mais
um. A delegacia do Sistema Nacional de Prevenção e Combate
aos Incêndios Florestais não tem
dinheiro para consertar seus veículos quebrados, nem sequer para o combustível dos que consigam andar.
O Ibama explica: o Orçamento
da União só foi sancionado por
Fernando Henrique no mês passado, e o dinheiro ainda não
chegou. Não chegou aonde? A
Hannover chegou, sim. Para o
novo tour europeu de Fernando
Henrique e sua comitiva, também chegou e com igual fartura.
Cá entre nós, o que falta não é
dinheiro, é espírito público dos
dirigentes de entidades à mingua. Se tivessem a grandeza de
nomear Paulo Henrique Cardoso para cargos honoríficos -
mas não só honoríficos, é claro
- nessas entidades, todas viveriam como se fossem pavilhões
brasileiros em Hannover. Um
grupo de empresários já entendeu isso há tempos: pôs Paulo
Henrique Cardoso à frente e sua
"revista" fatura anúncios mais
do que qualquer outra no Brasil.
Por coerência, o suposto assunto
da "revista" é o desenvolvimento
sustentado. Muito bem sustentado.
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