São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/GOVERNO NA TV

Presidente planeja pronunciamento em cadeia nacional à véspera do horário eleitoral

Lula deve usar TV para exaltar "momento do país" e ajudar PT

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve fazer nesta semana um pronunciamento oficial em rádio e TV. A idéia é que o próprio Lula e os candidatos do PT nas eleições municipais capitalizem o "bom momento da economia", conforme ouviu a Folha no Palácio do Planalto nos últimos dias.
O pronunciamento ocorre dias antes do início do horário eleitoral na TV, em 17 de agosto, o que levanta a interrogação sobre um suposto uso indevido da máquina governamental à véspera da fase decisiva da campanha.
Para tentar evitar, ou ao menos minimizar, essa acusação, o Planalto estuda fazer o pronunciamento o quanto antes. Avalia-se no governo que indicadores econômicos recentes (aumento da produção industrial e geração de empregos) e medidas oficiais (pacote de incentivo tributário a setores da economia) justificam a convocação de cadeia nacional.
Um dos defensores da intervenção televisiva é o publicitário Duda Mendonça, que fez a campanha do presidente em 2002 e que cuida de seus pronunciamentos, além de ser o responsável por cinco candidaturas petistas em capitais (São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e Curitiba).
Mais: a hora é agora, pensa a cúpula do PT, a fim de tentar tirar proveito do momento no qual diversos candidatos do partido melhoram suas posições nas pesquisas de intenção de voto.
Em São Paulo, por exemplo, a prefeita Marta Suplicy, candidata à reeleição, está tecnicamente empatada com o tucano José Serra (PSDB). Ela amargou até há pouco tempo um terceiro lugar nas pesquisas. Em Belo Horizonte, o prefeito Fernando Pimentel também saiu do segundo lugar para uma situação de empate técnico com o líder João Leite (PSB). Reação parecida a favor do PT aconteceu em outras cidades, como em Recife (PE), por exemplo.

Meirelles e Casseb
Há, porém, outras razões que motivam o Planalto. O atual bombardeio sobre os presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, e do Banco do Brasil, Cássio Casseb, estariam ofuscando a agenda do crescimento sobre a qual o governo deseja lançar luz.
Se a oposição continuar a bater duro, insistindo nas demissões de Meirelles e de Casseb -o que começou a arrefecer nos últimos dias-, Lula poderia até fazer uma espécie de advertência ao país. Mas não em tom de confronto, diz um interlocutor do presidente. No máximo, pode dizer que nem a luta política vai minar o "bom momento da economia". "Se a economia não estivesse tão bem, essa crise seria muito maior", disse Lula em conversas reservadas ao longo da semana.
Os presidentes do BC e do Banco do Brasil são alvos de reportagens recentes que colocam sob suspeição a lisura de suas operações patrimoniais.
A última quinta-feira, o dia mais tenso para Meirelles, quando saiu reportagem no site da revista "Veja" que abalou o mercado (queda da Bolsa e altas do dólar e do risco-país), foi o dia em que Lula disse a interlocutores que demitir o presidente do Banco Central equivaleria à confissão de um governo administrado por "fracos".
Na sexta-feira, quando o mercado percebeu que Lula decidiu de fato manter Meirelles, os indicadores econômicos se comportaram bem. A avaliação do governo é que, sem fatos novos de repercussão grave, a tendência dos casos Meirelles e Casseb é definhar.
Também o debate dos candidatos a prefeito de São Paulo contribuiu para o bom humor de Lula. A chamada "federalização" das eleições ocupou um lugar discreto na dinâmica das discussões.


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