São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ GRITO DOS EXCLUÍDOS

Stedile diz que sem-terra estão constrangidos com o presidente e que crise e movimento da direita podem levar ao impeachment

Para líder do MST, governo Lula "acabou"

Tuca Vieira/Folha Imagem
Missa do "Grito dos Excluídos", ontem, na Basilica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP)


FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM APARECIDA

Em seu mais duro discurso contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a principal liderança do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o economista João Pedro Stedile, amigo do presidente, afirmou ontem que "o governo acabou", que o MST se sente "constrangido" com a atuação de Lula e que os brasileiros foram "ingênuos" ao acreditar que o PT seria capaz de promover as mudanças políticas, econômicas e sociais desejadas.
"Aquele [governo] para o qual nós votamos em 2002 já acabou. Agora a composição de governo é Lula, Severino [Cavalcanti, presidente da Câmara], [Renan] Calheiros [presidente do Senado] e [o senador e ex-presidente José] Sarney. Bem diferente daquele que nós votamos", disse, durante a 11ª edição do Grito dos Excluídos, em Aparecida (SP).
"O lado bom dessa crise é que ela vai ajudar a conscientizar as pessoas de que não basta votar e esperar. As verdadeiras mudanças só vão acontecer se houver mobilização da sociedade", disse.
O coordenador nacional do MST afirmou que a manutenção do modelo econômico do governo anterior é responsável pelo aumento da desigualdade social no país e por gerar mais excluídos. E acusou Lula de não dizer à população, durante a campanha para as eleições de 2002, que manteria a política econômica do PSDB.
Stedile chegou a dizer que ele e o MST se sentem "constrangidos" com a atuação de Lula, apoiado pelo movimento nas eleições de 2002. Mas disse que os sem-terra não vão adotar o "Fora, Lula" porque, segundo ele, reduzir a crise à figura do presidente não resolve o problema do país.
"Nós nos sentimos constrangidos em relação ao presidente porque ele é amigo nosso e porque ele tem uma trajetória pessoal de compromisso com o povo. Mas nós também não podemos ser reducionistas e colocar nele toda a culpa da crise do nosso país, porque seria fazer o jogo da direita."
Para Stedile, a crise e o "movimento de sangria do PT promovido pela direita e pelos conservadores" podem levar ao impeachment do presidente.

Esvaziamento
Aparecida assistiu neste ano a um esvaziamento do Grito dos Excluídos, movimento liderado pela Igreja Católica. De acordo com a direção do Santuário Nacional de Aparecida, onde aconteceu o evento, cerca de 5.000 pessoas participaram diretamente das manifestações, entre as cerca de 100 mil que passaram ontem pela basílica de Nossa Senhora Aparecida.
"É fato que a edição deste ano tem bem menos gente que nos anos anteriores", disse o coordenador, Ary Alberti.
As bandeiras do PT, tradicionais nas edições anteriores, também não foram vistas neste ano. A organização evitou fazer críticas diretas ao presidente Lula, mas pediu justiça e a punição dos corruptos envolvidos na crise.


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