São Paulo, terça-feira, 08 de outubro de 2002

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Votação não traz segurança sobre eleição de 2006

RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO

Os cerca de 18% de votos de Anthony Garotinho (PSB) em sua primeira eleição presidencial, embora "surpreendentes", não lhe garantem vantagem na disputa à Presidência em 2006.
Para os cientistas políticos Renato Lessa, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro), e Fábio Wanderley Reis, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o perfil social restrito dos eleitores do pessebista e a tendência ao fortalecimento dos partidos no país limitam a possibilidade de vôos solos maiores de Garotinho.
Já para o cientista político Alberto Almeida, da FGV-RJ (Fundação Getúlio Vargas), ele é um "fortíssimo candidato" à Presidência em 2006. Seu sucesso dependeria de um possível governo de Luiz Inácio Lula da Silva terminar mal avaliado e Garotinho surgir como alternativa de esquerda.
Garotinho, por ser populista e ter base partidária frágil, é "o candidato menos adequado ao país mais sofisticado politicamente" que o Brasil vem se tornando, diz Reis. Para o analista mineiro, "o jogo político" tem se tornado "mais estruturado, se referindo mais aos partidos, ainda que o grosso do eleitorado não tenha orientação ideológica".
Reis diz que o espaço do pessebista é limitado mesmo no campo da esquerda. "Se não tivéssemos os contendores dele no campo popular, um partido como o PT com penetração, uma figura como Lula nesse partido, pode ser que eventualmente uma figura como o Garotinho tivesse um desempenho melhor."
"Ele não tem cacife para disputar uma eleição presidencial para vencer, dada a restrição sociológica de sua base eleitoral", diz Lessa, referindo-se aos evangélicos e às pessoas "na periferia do debate político brasileiro, com vínculo precário com o mundo do trabalho". "É difícil pensar a entrada de Garotinho num cenário urbano mais organizado e politizado. Esse é um cenário em que o PT e o PSDB têm hegemonia clara."
Alberto Almeida usa o PT para contradizer Lessa e Reis. Para o analista, os evangélicos estariam eleitoralmente para Garotinho como o PT para Lula. "É como o Lula: ele tem como ponto de partida o PT, mas o discurso é mais amplo." Almeida diz que Garotinho, para crescer, "depende de um governo Lula não ir bem".
"A adesão dele [a um governo do PT" vai sempre depender do cálculo de como estará daqui a quatro anos. Vai barganhar, mas, dependendo de como for o governo, pode abandonar o barco. No Rio, quando o PT deixou de ser conveniente, ele entrou em conflito e tirou o partido do governo."



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