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Votos coincidem com percentual de evangélicos
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O discurso político-religioso de
Anthony Garotinho (PSB), candidato derrotado a presidente, deu
resultados eleitorais concretos:
seus 15,1 milhões de votos, que
passam a ser decisivos no segundo turno, coincidem, em grande
parte, com a distribuição da população evangélica Brasil afora.
É o que mostra o cruzamento da
proporção de votos de Garotinho
com os percentuais de população
evangélica nos Estados brasileiros, a partir dos dados do Censo
do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
Garotinho obteve, por exemplo,
grande votação na região Norte,
onde ficou em segundo lugar, à
frente de José Serra (PSDB), em
quatro Estados -Rondônia, Roraima, Amazonas e Amapá. Na
região, os evangélicos representam hoje 18,3% da população.
Em Rondônia, o Estado com
maior proporção de evangélicos
do país, 27,75%, Garotinho teve
24,49% dos votos válidos. E conseguiu 25,97% dos votos em Roraima, onde os evangélicos são
23,65% da população.
Em vários outras unidades da
federação a proporção de votos de
Garotinho ficou próxima da de
evangélicos: no Distrito Federal,
onde ele teve 18,10% dos votos,
18,73% da população é evangélica. Em Minas Gerais, seu patamar
de votos ficou em 14,43% -os
evangélicos são 14,22%.
Além da óbvia exceção do Rio
de Janeiro, onde o patamar de votos de Garotinho (42,14%) ultrapassou em muito a população
evangélica (21,13%), há outros Estados, como Alagoas, Rio Grande
do Norte e Pernambuco, em que a
realidade regional catapultou a
votação do candidato do PSB.
No Espírito Santo, Garotinho
teve 27,05% dos votos -num
universo de 27,52% de evangélicos. Foi beneficiado também pela
eleição de Paulo Hartung (PSB)
para o governo. Em Alagoas, onde os evangélicos são 8,61%, a reeleição de Ronaldo Lessa (PSB) assegurou a Garotinho 26,02%.
Para a socióloga Regina Novaes,
pesquisadora do Iser (Instituto de
Estudos da Religião) e professora
da UFRJ, é significativo que a votação de Garotinho se distribua
acompanhando a população
evangélica. "Isso mostra que ele,
mesmo onde não tinha um palanque forte, tinha um púlpito", diz,
alertando, porém, que não se pode esquecer o quadro nos Estados
e simplesmente igualar o voto em
Garotinho ao voto do evangélico.
Novaes questiona como será, no
segundo turno, a disputa pelo voto dos evangélicos eleitores de Garotinho. "A identidade evangélica
se mostrou uma moeda política
forte. Garotinho a acionava e
mostrou que, nesse nicho, há capital político a ser disputado."
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