São Paulo, terça-feira, 08 de outubro de 2002

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Votos coincidem com percentual de evangélicos

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O discurso político-religioso de Anthony Garotinho (PSB), candidato derrotado a presidente, deu resultados eleitorais concretos: seus 15,1 milhões de votos, que passam a ser decisivos no segundo turno, coincidem, em grande parte, com a distribuição da população evangélica Brasil afora.
É o que mostra o cruzamento da proporção de votos de Garotinho com os percentuais de população evangélica nos Estados brasileiros, a partir dos dados do Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Garotinho obteve, por exemplo, grande votação na região Norte, onde ficou em segundo lugar, à frente de José Serra (PSDB), em quatro Estados -Rondônia, Roraima, Amazonas e Amapá. Na região, os evangélicos representam hoje 18,3% da população.
Em Rondônia, o Estado com maior proporção de evangélicos do país, 27,75%, Garotinho teve 24,49% dos votos válidos. E conseguiu 25,97% dos votos em Roraima, onde os evangélicos são 23,65% da população.
Em vários outras unidades da federação a proporção de votos de Garotinho ficou próxima da de evangélicos: no Distrito Federal, onde ele teve 18,10% dos votos, 18,73% da população é evangélica. Em Minas Gerais, seu patamar de votos ficou em 14,43% -os evangélicos são 14,22%.
Além da óbvia exceção do Rio de Janeiro, onde o patamar de votos de Garotinho (42,14%) ultrapassou em muito a população evangélica (21,13%), há outros Estados, como Alagoas, Rio Grande do Norte e Pernambuco, em que a realidade regional catapultou a votação do candidato do PSB.
No Espírito Santo, Garotinho teve 27,05% dos votos -num universo de 27,52% de evangélicos. Foi beneficiado também pela eleição de Paulo Hartung (PSB) para o governo. Em Alagoas, onde os evangélicos são 8,61%, a reeleição de Ronaldo Lessa (PSB) assegurou a Garotinho 26,02%.
Para a socióloga Regina Novaes, pesquisadora do Iser (Instituto de Estudos da Religião) e professora da UFRJ, é significativo que a votação de Garotinho se distribua acompanhando a população evangélica. "Isso mostra que ele, mesmo onde não tinha um palanque forte, tinha um púlpito", diz, alertando, porém, que não se pode esquecer o quadro nos Estados e simplesmente igualar o voto em Garotinho ao voto do evangélico.
Novaes questiona como será, no segundo turno, a disputa pelo voto dos evangélicos eleitores de Garotinho. "A identidade evangélica se mostrou uma moeda política forte. Garotinho a acionava e mostrou que, nesse nicho, há capital político a ser disputado."


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