São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2000

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Denúncias não abalam, diz general

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O comandante do Exército, general Gleuber Vieira, disse ontem que as recentes revelações de que ex-oficiais da Força acusados de praticar tortura durante o período militar ainda ocupam cargos de confiança no governo "incomodam, respingam, mas não abalam" a instituição.
"O Exército é muito maior e mais sério que quaisquer dessas acusações. Essas denúncias são casos isolados e nada têm a ver com os que estão hoje na ativa. Somos cobrados hoje pelo que não fizemos", disse o general, durante almoço com jornalistas. Ele classificou esses casos como "soluços" que de vez em quando retornam ao noticiário.
"Mas até quando?", questionou o comandante, respondendo ele próprio em seguida: "Vai demorar mais um pouco". "Ficam remexendo o passado, sem necessidade, para fazer muitas acusações sem provas e sem fundamento."
Semana passada, foi afastado do cargo de diretor de Organização Criminosa da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) o ex-tenente Carlos Alberto Del Menezzi. Anteontem, foi a vez de o ex-coronel Rubens Robine Bizerril deixar o cargo de coordenador de Planejamento e Segurança Pública do Ministério da Justiça. Os dois são acusados de prática de tortura no relatório "Brasil: Nunca Mais".
Segundo o general Gleuber, o Exército não tem responsabilidade na indicação desses dois nomes. "Eu nunca indiquei ninguém que não fosse para uma função militar", afirmou. "O ministro da Justiça e o chefe da Abin que cuidem desse assunto."
Para o comandante do Exército, há dois tipos de pessoas que ficam alimentando esse tipo de noticiário. "Até entendo aqueles que trazem alguma revolta ou alguma mágoa por terem sido atingidas diretamente, por causa de um familiar. Mas a maioria fica fazendo proselitismo, pois nem têm idade para ter vivido as consequências daquela época."
Gleuber Vieira disse ainda que "acha até graça" da informação de que há uma lista com 27 mil nomes de pessoas ligadas à repressão no período militar. "Se no Exército tivessem sido 2.700, é muito", disse o general, afirmando que isso até põe em dúvida a credibilidade do trabalho.


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