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JUDICIÁRIO
Assessoria da Câmara diz que mudanças feitas pelo Senado na emenda da reforma do Poder exigem nova votação
João Paulo tentou excluir controle externo
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia antes da sua promulgação, marcada para as 11h de hoje,
a emenda constitucional da reforma do Judiciário quase perdeu o
seu principal ponto: a criação dos
conselhos nacionais de Justiça e
do Ministério Público, os órgãos
de controle externo.
O presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), decidiu
ontem à tarde que essa parte da
emenda precisaria ser novamente
votada pelos deputados, porque
teria sofrido mudanças substanciais no Senado. A decisão provocou uma crise política. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
ministro Márcio Thomaz Bastos
(Justiça) e o presidente do STF
(Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim, conversaram entre si e
com João Paulo e o presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP),
para tentar reverter o quadro. Eles
temiam que, excluída agora, essa
parte terminasse arquivada.
No início da noite, após reunião
entre Sarney, João Paulo e a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), relatora da reforma na Câmara, o
Congresso decidiu recuar e promulgar a reforma com o controle
externo. A polêmica sobre a validade do rito de tramitação da
emenda deverá ser explorada pelos juízes que resistem ao controle
externo. Pela jurisprudência do
STF, o Senado pode suprimir expressões do texto aprovado na
Câmara, mas não pode fazer alterações no mérito das normas.
A AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) já anunciou
que prepara ação direta de inconstitucionalidade contra o
Conselho Nacional de Justiça, argumentando que ele fere a independência do Judiciário, porque
tem a participação de pessoas que
não integram esse Poder.
O presidente da Câmara foi advertido das falhas por sua assessoria técnica e tomou a decisão de
excluir o controle externo da promulgação ontem à tarde, após se
reunir com deputados que integram a Comissão de Constituição
e Justiça. Em seguida, foi ao gabinete de Sarney para anunciá-la. A
promulgação é um ato conjunto
das duas Casas.
Se a decisão dele prevalecesse,
para que os dois conselhos fossem
instalados, a Câmara teria de
aprovar uma nova proposta de
emenda específica sobre o controle externo, e a grande maioria
dos deputados (60%) teria de referendar mudanças feitas pelos
senadores, como a retirada do poder dos conselhos de decretar a
perda do cargo do juiz, procurador ou promotor que cometer falta grave.
Em 2000, a Câmara aprovou o
texto da reforma dando esse poder aos conselhos. O governo defendeu a sua manutenção, mas o
Senado alterou a norma porque
entendeu que juízes, procuradores e promotores só podem perder o cargo por decisão judicial.
O receio é que não houvesse os
308 votos necessários na Câmara
para referendar a mudança. Se a
Câmara a rejeitasse, obrigaria o
arquivamento de todo o texto sobre o controle externo até o ano
seguinte, por causa de normas de
regimento sobre tramitação de
proposta de emenda.
O texto aprovado pelo Senado
fixa o prazo de 180 dias para a instalação dos dois órgãos de controle externo. Eles poderão punir juízes e membros do Ministério Público acusados de corrupção ou
negligência com medidas administrativas, como advertência e
aposentadoria compulsória.
Dos 15 membros, nove são juízes, dois são advogados, dois são
do Ministério Público e dois são
cidadãos que serão indicados pelo
Congresso. A reforma do Judiciário tramita há quase 13 anos. Ela
promove várias mudanças no
funcionamento da Justiça para
torná-la mais ágil e transparente.
O artigo que cria a súmula vinculante, outro importante ponto
da emenda, também esteve sob
risco de cair, por causa da inclusão da palavra "constitucional"
pelo Senado, mas os deputados
não chegaram a se opor à sua promulgação. Por ele, juízes das instâncias inferiores ficarão obrigados a seguir determinadas orientações do STF, para reduzir o volume de recursos a esse tribunal.
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