São Paulo, quarta-feira, 08 de dezembro de 2004

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JUDICIÁRIO

Assessoria da Câmara diz que mudanças feitas pelo Senado na emenda da reforma do Poder exigem nova votação

João Paulo tentou excluir controle externo

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia antes da sua promulgação, marcada para as 11h de hoje, a emenda constitucional da reforma do Judiciário quase perdeu o seu principal ponto: a criação dos conselhos nacionais de Justiça e do Ministério Público, os órgãos de controle externo.
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), decidiu ontem à tarde que essa parte da emenda precisaria ser novamente votada pelos deputados, porque teria sofrido mudanças substanciais no Senado. A decisão provocou uma crise política. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim, conversaram entre si e com João Paulo e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para tentar reverter o quadro. Eles temiam que, excluída agora, essa parte terminasse arquivada.
No início da noite, após reunião entre Sarney, João Paulo e a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), relatora da reforma na Câmara, o Congresso decidiu recuar e promulgar a reforma com o controle externo. A polêmica sobre a validade do rito de tramitação da emenda deverá ser explorada pelos juízes que resistem ao controle externo. Pela jurisprudência do STF, o Senado pode suprimir expressões do texto aprovado na Câmara, mas não pode fazer alterações no mérito das normas.
A AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) já anunciou que prepara ação direta de inconstitucionalidade contra o Conselho Nacional de Justiça, argumentando que ele fere a independência do Judiciário, porque tem a participação de pessoas que não integram esse Poder.
O presidente da Câmara foi advertido das falhas por sua assessoria técnica e tomou a decisão de excluir o controle externo da promulgação ontem à tarde, após se reunir com deputados que integram a Comissão de Constituição e Justiça. Em seguida, foi ao gabinete de Sarney para anunciá-la. A promulgação é um ato conjunto das duas Casas.
Se a decisão dele prevalecesse, para que os dois conselhos fossem instalados, a Câmara teria de aprovar uma nova proposta de emenda específica sobre o controle externo, e a grande maioria dos deputados (60%) teria de referendar mudanças feitas pelos senadores, como a retirada do poder dos conselhos de decretar a perda do cargo do juiz, procurador ou promotor que cometer falta grave.
Em 2000, a Câmara aprovou o texto da reforma dando esse poder aos conselhos. O governo defendeu a sua manutenção, mas o Senado alterou a norma porque entendeu que juízes, procuradores e promotores só podem perder o cargo por decisão judicial.
O receio é que não houvesse os 308 votos necessários na Câmara para referendar a mudança. Se a Câmara a rejeitasse, obrigaria o arquivamento de todo o texto sobre o controle externo até o ano seguinte, por causa de normas de regimento sobre tramitação de proposta de emenda.
O texto aprovado pelo Senado fixa o prazo de 180 dias para a instalação dos dois órgãos de controle externo. Eles poderão punir juízes e membros do Ministério Público acusados de corrupção ou negligência com medidas administrativas, como advertência e aposentadoria compulsória.
Dos 15 membros, nove são juízes, dois são advogados, dois são do Ministério Público e dois são cidadãos que serão indicados pelo Congresso. A reforma do Judiciário tramita há quase 13 anos. Ela promove várias mudanças no funcionamento da Justiça para torná-la mais ágil e transparente.
O artigo que cria a súmula vinculante, outro importante ponto da emenda, também esteve sob risco de cair, por causa da inclusão da palavra "constitucional" pelo Senado, mas os deputados não chegaram a se opor à sua promulgação. Por ele, juízes das instâncias inferiores ficarão obrigados a seguir determinadas orientações do STF, para reduzir o volume de recursos a esse tribunal.


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