São Paulo, quarta-feira, 08 de dezembro de 2004

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CAMPO MINADO

Foram 538 ocupações em 23 meses, contra 497 entre 2000 e 2002

Invasões no governo Lula superam três anos de FHC

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O número de invasões de terra nos 23 primeiros meses do governo Luiz Inácio Lula da Silva já superou o total registrado nos últimos três anos da gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
De acordo com a Ouvidoria Agrária Nacional, entre janeiro de 2003 e novembro de 2004 ocorreram 538 invasões a propriedades rurais, contra 497 entre janeiro de 2000 e dezembro de 2002. A média mensal de ações desse tipo no governo Lula é de 23,3 casos, contra 13,8 nos três últimos anos do ex-presidente FHC.
Em 2002, durante a campanha eleitoral, Lula disse que era o único candidato a presidente capaz de fazer uma reforma agrária tranqüila e pacífica. À época, prometeu ainda: "Você, que tem a sua terra e produz, saiba que um governo do PT não vai tolerar desrespeito à sua propriedade".
Criada em 1999 para prevenir e controlar conflitos no campo, a ouvidoria passou a computar o número de invasões e de mortes no campo a partir de 2000. Antes disso, o governo usava dados da CPT (Comissão Pastoral da Terra), cuja metodologia é diferente. Em 2003, por exemplo, o braço agrário da Igreja Católica registrou 73 mortes no campo, contra 42 apontados pela ouvidoria.
Segundo balanço divulgado ontem à noite pela ouvidoria, entre janeiro e novembro deste ano ocorreram 316 invasões, contra 209 no mesmo período do ano passado, ou seja, um avanço de 51%. Neste ano, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) foi o responsável por 66,7% das ações, totalizando 211 invasões de terra.
Em novembro, quando o movimento anunciou uma onda de ações para pressionar a equipe econômica do governo federal, ocorreram 27 casos, contra 7 no mesmo mês do ano passado. O recorde do ano continua com o mês de abril, com 109 invasões.
Neste ano, as ações estão concentradas no Nordeste, com 131 casos, seguido das regiões Sudeste (91), Centro-Oeste (47), Sul (38) e Norte (9). Entre os Estados, a liderança está com Pernambuco, 76 casos. Atrás aparecem São Paulo (47) e Minas Gerais (30).
O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, não falou ontem sobre os números.
Apesar dos seguidos recordes de invasões, o número de assassinatos decorrentes de conflitos no campo tem caído em relação ao ano passado. Em 2003, ocorreram 42 mortes por tal motivo, contra 16 entre janeiro e novembro deste ano, incluindo a chacina de cinco sem-terra ligados ao MST, no mês passado, em Felisburgo (MG). Outros 16 assassinatos ocorridos no campo estão sob investigação policial e, portanto, não podem ser incluídos no balanço (a motivação dos crimes ainda é desconhecida oficialmente).
Desde 2000, quando passou a computar os dados, a ouvidoria registrou 1.035 invasões de terra no país, uma média mensal de 17,5 casos por mês. Os Estados de Pernambuco (205) e São Paulo (125) registraram o maior número de ações.


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