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DOSSIÊ CARIBE
Receita e Polícia Federal enviaram documentação e informações para a Justiça de Nova York
Governo instigou FBI a prender brasileiro
MARCIO AITH
enviado especial a Miami
O governo brasileiro instigou a
polícia norte-americana a investigar e a prender em Miami o empresário Oscar de Barros, suspeito de ter, em 1998, fabricado e negociado o dossiê Caribe.
O dossiê era um conjunto de papéis sem autenticação que sugeria
a existência de contas secretas no
exterior ligando o presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Mário Covas, o ministro da Saúde, José Serra, e Sérgio Motta, que foi ministro das Comunicações e morreu
em abril de 1998.
Embora Barros tenha sido detido no dia 26, em Miami, sob acusação de lavar dinheiro do tráfico
de drogas, a Folha apurou que
sua prisão decorre diretamente de
documentos e informações da
Receita e da Polícia Federal, enviadas para uma investigação secreta da Justiça criminal de Nova
York e que, curiosamente, investiga corrupção no Brasil.
A investigação, conduzida pelo
promotor especial Steven R.Peikin, abriu em novembro um processo que foi determinante para a
prisão de Barros.
Conduzido pelo rígido sistema
judicial dos EUA e centrado em
Barros, esse processo se dispõe a
investigar, nos EUA, a veracidade
de documentos do dossiê Caribe e
da atuação de Barros em supostos
casos de corrupção no Brasil.
Apesar do objetivo específico,
há indicações de que a investigação assumiu dinâmica própria e
de que há chances de atingir diversos brasileiros.
O motivo pelo qual os EUA investigam corrupção no Brasil é
prosaico. Uma lei de 1970 (o "Foreign Corrupt Act") proíbe que
qualquer empresa norte-americana pague ou tente pagar propina a
governos estrangeiros.
Como a principal empresa de
Barros, a Overland Advisory Services, é norte-americana, Steven
Peikin encontrou nessa lei a principal alavanca para tentar processar Barros, um brasileiro que há
20 anos (desde o regime militar)
ajuda políticos e empresários brasileiros a abrir contas e transferir
recursos no exterior.
A Folha apurou que, ao menos
seis meses antes da prisão de Barros, o promotor Peikin, do distrito criminal Sul de Nova York, não
só investigava Barros por sua suposta participação no dossiê Caribe, mas temia que ele saísse do
país antes do fim de um processo.
Na manhã de 28 de janeiro,
agentes do FBI, a pedido de Peikin, invadiram o escritório da
Overland, na avenida Brickell,
1101, centro de Miami, e apreenderam a "caixa-preta" de Barros.
Documentos e disquetes com
nomes de clientes, empresas, número de contas, impressões digitais e papéis assinados foram
transferidos pelo FBI para Nova
York. Uma semana depois, julgando a apreensão insuficiente
para esclarecer as investigações, o
FBI pediu documentos adicionais. Barros entregou três pastas.
Em março, um outro promotor,
Joseph Capone, que atua em Miami, chegou ao nome de Barros em
outra investigação, sobre lavagem
de dinheiro do narcotráfico. Seu
nome era mencionado numa gravação telefônica suspeita, de um
grupo liderado por um inglês que
havia trazido US$ 500 mil do narcotráfico aos EUA e que, em tese,
poderia trazer muito mais.
Capone checou o nome de Barros no sistema de computadores
de sua divisão e descobriu que o
brasileiro também estava sendo
investigado em Nova York.
Telefonou para Peikin e perguntou sua opinião. Municiado
de documentos fornecidos pelo
governo brasileiro, Peikin sugeriu
que novos grampos fossem feitos
e que a prisão fosse determinada
o mais rápido possível.
Em 26 de março, agentes do FBI
prenderam Barros e José Maria
Teixeira Ferraz, outro brasileiro
que, embora não mencionado no
dossiê Caribe, tinha em Miami
negócio semelhante ao de Barros.
Em princípio, Barros achou que
a prisão fosse relacionada ao processo de Nova York, que já conhecia pela apreensão dos documentos em janeiro.
Questionado pela Folha se a
prisão de Barros deveu-se à investigação do dossiê Caribe, em Nova York, Capone disse: "Não posso dizer que sim nem que não".
Em Nova York, o processo ainda não consta do sistema de distribuição da corte por ser absolutamente sigiloso. O promotor Peikin não quis dar declarações.
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