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EM CAMPANHA
Geraldo Alckmin faz visitas à periferia da cidade no fim do dia em busca de votos
Vice adota dupla jornada de trabalho
LYDIA MEDEIROS
da Reportagem Local
Diariamente, no final da tarde,
depois de encerrado o expediente como vice-governador, Geraldo Alckmin se dirige à periferia
de São Paulo para tentar convencer os eleitores que merece mais
que os 2% das intenções de voto
registrados pelo Datafolha. Na
quinta-feira passada, o primeiro
destino foi a Vila Nova Esperança, distrito de São Domingos, zona noroeste da cidade.
Num barraco de tábuas castigadas, cerca de cem pessoas estão à espera das palavras do homem magro, algo calvo, de gestos contidos e leve sorriso. Geraldo Alckmin entra sob aplausos
na sede do Centro Comunitário.
Pedir votos, como fez ali, tem
sido rotina na vida do médico
anestesista Geraldo José Rodrigues Alckmin, 47. A primeira
eleição, para vereador, foi aos 19
anos. Teve a maior votação da
Câmara Municipal de Pindamonhangaba, onde nasceu e foi prefeito 23 anos depois. Prepara-se
para a oitava disputa em outubro. Quer a cadeira de Celso Pitta
no Palácio das Indústrias.
Geraldinho, como gosta de
chamá-lo o governador Mário
Covas, é um político que prefere
ouvir a falar. "Quais suas maiores necessidades?", pergunta,
pronto para anotar a lista de problemas num grosso caderno espiral gasto pelo manuseio.
A platéia elege como porta-vozes Cleusa Ramos, 45, seu marido Marcos Zerbini, 38, e Carlos
Antonio de Souza, 33, o Carlão, o
líder da comunidade. "O Marcos
é nosso pai, a Cleusa é nossa mãe,
e você agora entrou para a família", decreta Carlão.
Marcos, candidato a vereador
pelo PSDB, e Cleusa, cicerones de
Alckmin naquele dia, comandam o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo,
que reúne cerca de 3.000 pessoas.
São populares. É ela quem enumera as carências das 270 famílias do local, ali há cinco anos.
Elas tiveram sorte. O proprietário doou-lhes a terra. A maioria
das casas é de alvenaria, há luz
elétrica e esgoto. Barracos como
o do centro comunitário não
passam de 70, calcula Carlão.
Cleusa reclama iluminação para as ruas, creche, transporte coletivo. Outras vozes abafadas
completam as queixas: faltam asfalto, coleta de lixo, posto de saúde, segurança. Geraldo conclui:
"Falta prefeitura aqui".
Ele tenta empolgar a audiência:
"Nossa candidatura será uma
grande surpresa". Caminhando
pelo bairro, sempre fala de futebol. É santista, como Covas.
Já é noite quando ele chega a
Sol Nascente, bairro de 6.000 habitantes no distrito vizinho de
Anhanguera, quase na divisa noroeste de São Paulo.
A conversa é de médico com o
farmacêutico Juvenal Hilário de
Aguiar, 40. Indaga dos maiores
problemas de saúde -são respiratórios, segundo o dono da farmácia. Juvenal jamais vira uma
fotografia de Alckmin. "Parece
ser uma pessoa disposta."
No açougue, o assunto é a violência. "Organizar a comunidade
é o melhor caminho", ensina. O
aposentado Luiz Correia, 65,
desconcerta o candidato: "O melhor é jogar bandido no oceano".
O encontro vira comício. No
tablado que improvisa um palanque estão também Celino
Cardoso, secretário-chefe da Casa Civil do governo Covas, e Walter Feldman, deputado estadual.
Celino empolga-se: "É o primeiro comício da campanha. Só
falta um forrozinho". Mais uma
vez, Cleusa comanda a pequena
multidão, cerca de 300 pessoas.
"Tínhamos uma prefeita honesta
em 1990. O que ela fez pela gente?
E os outros?", pergunta. A resposta, um uníssono "nada".
Adelaide Barbosa, 40, está ali
com os quatro filhos e a neta de
colo. "Se ele ganhar vai ser uma
benção." Alckmin aproveita o
entusiasmo. Termina a festa com
aplausos vigorosos e uma previsão: "A gente tem sensibilidade.
Disputei sete eleições, não perdi
nenhuma. É um dia histórico".
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