São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


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EM CAMPANHA
Geraldo Alckmin faz visitas à periferia da cidade no fim do dia em busca de votos
Vice adota dupla jornada de trabalho

LYDIA MEDEIROS
da Reportagem Local

Diariamente, no final da tarde, depois de encerrado o expediente como vice-governador, Geraldo Alckmin se dirige à periferia de São Paulo para tentar convencer os eleitores que merece mais que os 2% das intenções de voto registrados pelo Datafolha. Na quinta-feira passada, o primeiro destino foi a Vila Nova Esperança, distrito de São Domingos, zona noroeste da cidade.
Num barraco de tábuas castigadas, cerca de cem pessoas estão à espera das palavras do homem magro, algo calvo, de gestos contidos e leve sorriso. Geraldo Alckmin entra sob aplausos na sede do Centro Comunitário.
Pedir votos, como fez ali, tem sido rotina na vida do médico anestesista Geraldo José Rodrigues Alckmin, 47. A primeira eleição, para vereador, foi aos 19 anos. Teve a maior votação da Câmara Municipal de Pindamonhangaba, onde nasceu e foi prefeito 23 anos depois. Prepara-se para a oitava disputa em outubro. Quer a cadeira de Celso Pitta no Palácio das Indústrias.
Geraldinho, como gosta de chamá-lo o governador Mário Covas, é um político que prefere ouvir a falar. "Quais suas maiores necessidades?", pergunta, pronto para anotar a lista de problemas num grosso caderno espiral gasto pelo manuseio.
A platéia elege como porta-vozes Cleusa Ramos, 45, seu marido Marcos Zerbini, 38, e Carlos Antonio de Souza, 33, o Carlão, o líder da comunidade. "O Marcos é nosso pai, a Cleusa é nossa mãe, e você agora entrou para a família", decreta Carlão.
Marcos, candidato a vereador pelo PSDB, e Cleusa, cicerones de Alckmin naquele dia, comandam o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo, que reúne cerca de 3.000 pessoas. São populares. É ela quem enumera as carências das 270 famílias do local, ali há cinco anos.
Elas tiveram sorte. O proprietário doou-lhes a terra. A maioria das casas é de alvenaria, há luz elétrica e esgoto. Barracos como o do centro comunitário não passam de 70, calcula Carlão.
Cleusa reclama iluminação para as ruas, creche, transporte coletivo. Outras vozes abafadas completam as queixas: faltam asfalto, coleta de lixo, posto de saúde, segurança. Geraldo conclui: "Falta prefeitura aqui".
Ele tenta empolgar a audiência: "Nossa candidatura será uma grande surpresa". Caminhando pelo bairro, sempre fala de futebol. É santista, como Covas.
Já é noite quando ele chega a Sol Nascente, bairro de 6.000 habitantes no distrito vizinho de Anhanguera, quase na divisa noroeste de São Paulo.
A conversa é de médico com o farmacêutico Juvenal Hilário de Aguiar, 40. Indaga dos maiores problemas de saúde -são respiratórios, segundo o dono da farmácia. Juvenal jamais vira uma fotografia de Alckmin. "Parece ser uma pessoa disposta."
No açougue, o assunto é a violência. "Organizar a comunidade é o melhor caminho", ensina. O aposentado Luiz Correia, 65, desconcerta o candidato: "O melhor é jogar bandido no oceano".
O encontro vira comício. No tablado que improvisa um palanque estão também Celino Cardoso, secretário-chefe da Casa Civil do governo Covas, e Walter Feldman, deputado estadual.
Celino empolga-se: "É o primeiro comício da campanha. Só falta um forrozinho". Mais uma vez, Cleusa comanda a pequena multidão, cerca de 300 pessoas. "Tínhamos uma prefeita honesta em 1990. O que ela fez pela gente? E os outros?", pergunta. A resposta, um uníssono "nada".
Adelaide Barbosa, 40, está ali com os quatro filhos e a neta de colo. "Se ele ganhar vai ser uma benção." Alckmin aproveita o entusiasmo. Termina a festa com aplausos vigorosos e uma previsão: "A gente tem sensibilidade. Disputei sete eleições, não perdi nenhuma. É um dia histórico".


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