São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


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PRÉVIAS
Raul Pont, Tarso Genro e José Fortunati fracionam as tendências tradicionais do partido no Estado
Dividido, PT escolhe candidato no RS

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre

O PT realiza hoje uma eleição prévia para escolher, entre Tarso Genro, Raul Pont e José Fortunati, o candidato que tentará, em outubro, o quarto mandato consecutivo do partido na Prefeitura de Porto Alegre (RS).
Caso nenhum dos pré-candidatos consiga 50% mais um dos votos, haverá segundo turno, no próximo domingo, envolvendo os dois primeiros colocados.
O partido chega a essa disputa sob uma forte divisão interna, que atinge até mesmo as suas tradicionais tendências, fracionadas no apoio aos três postulantes.
A única grande tendência que manteve uma certa unidade é a DS (Democracia Socialista, de "esquerda"), que apóia a reeleição do prefeito Pont. Ele também conta com o apoio do governador Olívio Dutra (Articulação).
Mesmo assim, a DS sofreu defecções importantes, como a do chefe da Casa Civil do governo do Estado, Flávio Koutzii. Ele era alinhado à DS, mas agora apóia o ex-prefeito Genro, do movimento Rede (moderado).
As outras tendências mais expressivas estão subdivididas. O PT Amplo e Democrático (moderado) tem entre suas principais lideranças o vice-prefeito Fortunati. Outros dos seus líderes, porém, apóiam Genro abertamente.
No caso da Articulação de Esquerda, a maior parte dos militantes está com Genro, enquanto a parcela restante quer a vitória de Pont. Esses dois pré-candidatos travam uma "guerra santa" e o "pau está comendo" entre eles, de acordo com Fortunati.
Três motivos principais ampliaram as disputas internas no PT: a acirrada prévia estadual para o governo gaúcho, em 1998, quando Dutra derrotou Genro; a mágoa de Fortunati com Genro, que em um primeiro momento apoiaria sua candidatura a prefeito; e a hegemonia da DS na administração estadual, com cargos de peso, como o de vice-governador e de secretário da Fazenda.
Dutra ajudou a botar lenha na fogueira, há poucos dias, quando anunciou o apoio a Pont. O governador fez críticas veladas a Genro, relacionando-o com a "vaidade", o "egoísmo" e o "individualismo", além de ter lembrado que o ex-prefeito não foi um dos fundadores do PT.
Vereadores favoráveis a Genro e a Fortunati reagiram ao discurso de Dutra com a publicação de uma nota. Conforme os vereadores, que não citaram o governador nominalmente, ele usou de "destempero verbal" e demonstrou "incapacidade de viver com a adversidade".
Outro fato que contribuiu para a ebulição petista foi a recente greve do magistério estadual, conduzida por tendências contrárias à DS e marcada por forte polêmica. A greve durou 32 dias e, para muitos militantes, teve nos desacertos domésticos uma forte motivação.
Durante a greve, a deputada estadual Luciana Genro, filha de Tarso Genro, posicionou-se contra o governo e foi punida pela bancada petista na Assembléia. Ela foi proibida de se manifestar pela bancada durante um mês e afastada da vice-presidência da comissão de educação.
Em meio às desavenças, os pré-candidatos do PT têm dois objetivos marcantes: buscar a unidade após a prévia e garantir a hegemonia na Prefeitura de Porto Alegre, espelhando-se no exemplo de cidades européias, como Saint Denis (França), onde a "esquerda" está no poder há muitas décadas.
Estima-se que mil votantes da prévia são independentes (não têm vínculos com qualquer tendência), em um total de eleitores que deverá oscilar entre 4.000 e 5.000 filiados. Os independentes tendem a votar em Genro, principalmente, e em Fortunati. O chamado voto ideológico se direciona mais para Pont.
Genro pode ser favorecido pelos petistas que se deixam influenciar por pesquisa eleitoral. Conforme levantamento do Datafolha, em março, ele é o representante do PT que atinge maior índice (43%) para a prefeitura, seguido de Pont (34%). Ambos venceriam os adversários.


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