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PRÉVIAS
Raul Pont, Tarso Genro e José Fortunati fracionam as tendências tradicionais do partido no Estado
Dividido, PT escolhe candidato no RS
CARLOS ALBERTO DE SOUZA
LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre
O PT realiza hoje uma eleição
prévia para escolher, entre Tarso
Genro, Raul Pont e José Fortunati,
o candidato que tentará, em outubro, o quarto mandato consecutivo do partido na Prefeitura de
Porto Alegre (RS).
Caso nenhum dos pré-candidatos consiga 50% mais um dos votos, haverá segundo turno, no
próximo domingo, envolvendo
os dois primeiros colocados.
O partido chega a essa disputa
sob uma forte divisão interna, que
atinge até mesmo as suas tradicionais tendências, fracionadas no
apoio aos três postulantes.
A única grande tendência que
manteve uma certa unidade é a
DS (Democracia Socialista, de
"esquerda"), que apóia a reeleição
do prefeito Pont. Ele também
conta com o apoio do governador
Olívio Dutra (Articulação).
Mesmo assim, a DS sofreu defecções importantes, como a do
chefe da Casa Civil do governo do
Estado, Flávio Koutzii. Ele era alinhado à DS, mas agora apóia o ex-prefeito Genro, do movimento
Rede (moderado).
As outras tendências mais expressivas estão subdivididas. O
PT Amplo e Democrático (moderado) tem entre suas principais lideranças o vice-prefeito Fortunati. Outros dos seus líderes, porém,
apóiam Genro abertamente.
No caso da Articulação de Esquerda, a maior parte dos militantes está com Genro, enquanto
a parcela restante quer a vitória de
Pont. Esses dois pré-candidatos
travam uma "guerra santa" e o
"pau está comendo" entre eles, de
acordo com Fortunati.
Três motivos principais ampliaram as disputas internas no PT: a
acirrada prévia estadual para o
governo gaúcho, em 1998, quando Dutra derrotou Genro; a mágoa de Fortunati com Genro, que
em um primeiro momento apoiaria sua candidatura a prefeito; e a
hegemonia da DS na administração estadual, com cargos de peso,
como o de vice-governador e de
secretário da Fazenda.
Dutra ajudou a botar lenha na
fogueira, há poucos dias, quando
anunciou o apoio a Pont. O governador fez críticas veladas a Genro,
relacionando-o com a "vaidade",
o "egoísmo" e o "individualismo", além de ter lembrado que o
ex-prefeito não foi um dos fundadores do PT.
Vereadores favoráveis a Genro e
a Fortunati reagiram ao discurso
de Dutra com a publicação de
uma nota. Conforme os vereadores, que não citaram o governador nominalmente, ele usou de
"destempero verbal" e demonstrou "incapacidade de viver com a
adversidade".
Outro fato que contribuiu para
a ebulição petista foi a recente
greve do magistério estadual,
conduzida por tendências contrárias à DS e marcada por forte polêmica. A greve durou 32 dias e,
para muitos militantes, teve nos
desacertos domésticos uma forte
motivação.
Durante a greve, a deputada estadual Luciana Genro, filha de
Tarso Genro, posicionou-se contra o governo e foi punida pela
bancada petista na Assembléia.
Ela foi proibida de se manifestar
pela bancada durante um mês e
afastada da vice-presidência da
comissão de educação.
Em meio às desavenças, os pré-candidatos do PT têm dois objetivos marcantes: buscar a unidade
após a prévia e garantir a hegemonia na Prefeitura de Porto Alegre,
espelhando-se no exemplo de cidades européias, como Saint Denis (França), onde a "esquerda"
está no poder há muitas décadas.
Estima-se que mil votantes da
prévia são independentes (não
têm vínculos com qualquer tendência), em um total de eleitores
que deverá oscilar entre 4.000 e
5.000 filiados. Os independentes
tendem a votar em Genro, principalmente, e em Fortunati. O chamado voto ideológico se direciona mais para Pont.
Genro pode ser favorecido pelos
petistas que se deixam influenciar
por pesquisa eleitoral. Conforme
levantamento do Datafolha, em
março, ele é o representante do
PT que atinge maior índice (43%)
para a prefeitura, seguido de Pont
(34%). Ambos venceriam os adversários.
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