São Paulo, sábado, 09 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÕES

Partido e empresário negaram e voltaram atrás; Genoino disse que "dever para o sistema financeiro não é imoral nem crime"

PT diz que Valério avalizou empréstimo

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de negar, o PT divulgou nota oficial ontem na qual admite que o publicitário Marcos Valério de Souza foi avalista de empréstimo obtido pelo partido no Banco Rural em maio de 2003, no valor de R$ 3 milhões.
No dia 28 de junho, a assessoria de imprensa do PT negou que Valério fosse avalista deste ou de qualquer outro empréstimo, em resposta a questionamento feito pela Folha. Na quarta-feira, em depoimento na CPI dos Correios, o publicitário também sustentou que não havia sido avalista na operação com o Banco Rural.
A participação de Valério neste empréstimo foi revelada anteontem pelo site da revista "Época". Há uma semana, a revista "Veja" divulgou que o publicitário havia sido avalista em financiamento obtido pelo PT no BMG, em fevereiro de 2003.
Até a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência, em 2003, o PT só tinha financiamentos no Banco do Brasil, no valor de R$ 750 mil. No poder, o partido obteve empréstimo de R$ 2,4 milhões no BMG e de R$ 3 milhões no Rural, apesar de registrar patrimônio líquido negativo em R$ 4,2 milhões. As operações foram possíveis graças ao aval de Valério.
Na nota, o PT informou que não pagou nenhuma parcela da dívida junto ao Banco Rural, que no dia 13 de junho era de R$ 6 milhões.
Quando negou à Folha que Valério fosse avalista dos empréstimos, o PT informou que a garantia das operações eram as receitas do partido, que passaram de R$ 13,53 milhões, em 2002, para R$ 32,74 milhões, em 2003, e R$ 48 milhões no ano seguinte.
Ontem, o PT afirmou que Valério deixou de ser avalista dos financiamentos do BMG e do Rural quando eles foram renovados. Segundo o partido, o débito com o BMG está hoje em R$ 2,9 milhões. O partido também reconheceu que Valério pagou uma das parcelas de juros do empréstimo, no valor de R$ 351,5 mil.
Segundo a nota, o débito junto ao BMG vencerá no dia 22 de agosto. "Nesta data, o PT deverá efetuar o pagamento do empréstimo junto ao BMG e também o pagamento do empréstimo do sr. Marcos Valério (...), acrescido de juros e correção monetária."
O partido disse ainda que tem um contrato de leasing de R$ 20 milhões com o Banco do Brasil para aquisição de computadores e softwares, nos quais os próprios equipamentos funcionam como garantia. Além disso, afirmou ter um "crédito rotativo" de R$ 3,5 milhões no banco estatal.
O presidente do PT, José Genoino, alegou ontem que "dever para o sistema financeiro não é nem imoral, nem é crime", repetindo que não conhecia Marcos Valério à época do empréstimo. Genoino afirmou ainda que só na quinta-feira foi informado que o empresário era um de seus avalistas. Segundo Genoino, o ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, "informou à Executiva [em reunião na terça-feira] que tinha dúvida se [Marcos Valério] era avalista ou não" e foi encarregado de consultar o Banco Rural. "Ontem chegou a resposta". Genoino argumentou ainda que "a face do empréstimo não tem o nome de Marcos Valério, tem o espaço destinado às assinaturas de avalista". Sua versão não confere com a de outros integrantes da Executiva. O secretário sindical João Felício disse que foi surpreendido e que está "chateado" por não ter sido informado. O assessor especial da presidência da República, Marco Aurélio Garcia, também disse que a Executiva tinha que ser informada sobre a operação.

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