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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÕES
Partido e empresário negaram e voltaram atrás; Genoino disse que "dever para o sistema financeiro não é imoral nem crime"
PT diz que Valério avalizou empréstimo
CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de negar, o PT divulgou
nota oficial ontem na qual admite
que o publicitário Marcos Valério
de Souza foi avalista de empréstimo obtido pelo partido no Banco
Rural em maio de 2003, no valor
de R$ 3 milhões.
No dia 28 de junho, a assessoria
de imprensa do PT negou que Valério fosse avalista deste ou de
qualquer outro empréstimo, em
resposta a questionamento feito
pela Folha. Na quarta-feira, em
depoimento na CPI dos Correios,
o publicitário também sustentou
que não havia sido avalista na
operação com o Banco Rural.
A participação de Valério neste
empréstimo foi revelada anteontem pelo site da revista "Época".
Há uma semana, a revista "Veja"
divulgou que o publicitário havia
sido avalista em financiamento
obtido pelo PT no BMG, em fevereiro de 2003.
Até a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência, em 2003,
o PT só tinha financiamentos no
Banco do Brasil, no valor de R$
750 mil. No poder, o partido obteve empréstimo de R$ 2,4 milhões
no BMG e de R$ 3 milhões no Rural, apesar de registrar patrimônio líquido negativo em R$ 4,2
milhões. As operações foram possíveis graças ao aval de Valério.
Na nota, o PT informou que não
pagou nenhuma parcela da dívida
junto ao Banco Rural, que no dia
13 de junho era de R$ 6 milhões.
Quando negou à Folha que Valério fosse avalista dos empréstimos, o PT informou que a garantia das operações eram as receitas
do partido, que passaram de R$
13,53 milhões, em 2002, para R$
32,74 milhões, em 2003, e R$ 48
milhões no ano seguinte.
Ontem, o PT afirmou que Valério deixou de ser avalista dos financiamentos do BMG e do Rural
quando eles foram renovados. Segundo o partido, o débito com o
BMG está hoje em R$ 2,9 milhões.
O partido também reconheceu
que Valério pagou uma das parcelas de juros do empréstimo, no
valor de R$ 351,5 mil.
Segundo a nota, o débito junto
ao BMG vencerá no dia 22 de
agosto. "Nesta data, o PT deverá
efetuar o pagamento do empréstimo junto ao BMG e também o pagamento do empréstimo do sr.
Marcos Valério (...), acrescido de
juros e correção monetária."
O partido disse ainda que tem
um contrato de leasing de R$ 20
milhões com o Banco do Brasil
para aquisição de computadores e
softwares, nos quais os próprios
equipamentos funcionam como
garantia. Além disso, afirmou ter
um "crédito rotativo" de R$ 3,5
milhões no banco estatal.
O presidente do PT, José Genoino, alegou ontem que "dever para
o sistema financeiro não é nem
imoral, nem é crime", repetindo
que não conhecia Marcos Valério
à época do empréstimo. Genoino
afirmou ainda que só na quinta-feira foi informado que o empresário era um de seus avalistas. Segundo Genoino, o ex-tesoureiro
do partido, Delúbio Soares, "informou à Executiva [em reunião
na terça-feira] que tinha dúvida se
[Marcos Valério] era avalista ou
não" e foi encarregado de consultar o Banco Rural. "Ontem chegou a resposta". Genoino argumentou ainda que "a face do empréstimo não tem o nome de
Marcos Valério, tem o espaço destinado às assinaturas de avalista".
Sua versão não confere com a de
outros integrantes da Executiva.
O secretário sindical João Felício
disse que foi surpreendido e que
está "chateado" por não ter sido
informado. O assessor especial da
presidência da República, Marco
Aurélio Garcia, também disse que
a Executiva tinha que ser informada sobre a operação.
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