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SUCESSÃO
Eventual 2º mandato de FHC prevê funcionalismo sem aumento e aperto em benefícios da Previdência
Reajuste de aposentado pode ser de 3%
VIVALDO DE SOUSA
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Um eventual segundo mandato
do presidente Fernando Henrique
Cardoso começará antes de 1º de
janeiro, data marcada para a posse
no Palácio do Planalto.
Para manter de pé o Plano Real,
o governo planeja novo aperto salarial para o funcionalismo, reajustes pequenos para as aposentadorias e a redução da taxa anual de
juros para até 17% em dezembro,
além de investir no aumento das
exportações para evitar mexer na
taxa de câmbio.
A proposta de Orçamento, que
deve ser fechada até o final da semana, conterá estimativas de um
reajuste moderado para o salário
mínimo e para os benefícios da
Previdência Social.
Os reajustes deverão ficar muito
próximos do índice da inflação, algo entre 2% e 3%. Isso ajudará a
conter os gastos públicos federais,
dos Estados e dos municípios.
Está prevista ainda para o primeiro ano do próximo governo a
suspensão de reajuste salarial geral para o funcionalismo público.
A medida será incluída na proposta de lei orçamentária para 1999
que FHC enviará ao Congresso até
o final do mês.
Rombo
A agenda pós-eleição estabelece
como prioridade máxima mais
uma tentativa de pôr ordem nas
contas públicas, que devem fechar
o ano com um rombo próximo a
7% do PIB (Produto Interno Bruto), um recorde desde o início do
Plano Real.
Uma das metas do Orçamento,
de crescimento da economia a
uma taxa de 4% no próximo ano,
dependerá de um conjunto de medidas, como a queda dos juros,
uma tendência a ser mantida mesmo após as eleições.
Na equipe econômica, avalia-se
que a TBC (Taxa Básica do Banco
Central) poderá chegar ao final de
98 entre 17% e 18% anuais, até três
pontos percentuais abaixo da taxa
que vigorava antes da crise asiática, em outubro passado.
Apesar das turbulências externas estarem longe de um desfecho,
o governo está sem muita opção.
Se não reduzir ainda mais os juros,
comprometerá cada vez mais a
meta de equilibrar suas contas.
O peso dos juros nas contas está
se tornando alto demais. Entre janeiro e maio, o Banco Central
contabilizou gastos equivalentes a
7,36% do PIB do período com o
pagamento dos juros.
Com a redução das taxas nos últimos meses, as despesas com juros ainda deverão representar cerca de 6,2% do PIB anual, segundo
estimativa do economista Raul
Velloso, especialista em finanças
públicas.
Se a projeção se confirmar, o governo poderá desembolsar com a
rolagem de seus títulos mais do
que o dobro do dinheiro obtido
com a privatização do Sistema Telebrás, arrematado por R$ 22,058
bilhões.
Reservas
Segundo a Folha apurou, a determinação do governo em reduzir os juros admite até a diminuição das reservas internacionais.
Não é apenas por causa do déficit:
sem a redução dos juros, também
ficará difícil chegar perto da meta
de crescimento do PIB já definida
pelo governo para 1999.
Outro vilão do déficit a ser enfrentado, em um esforço concentrado depois das eleições, é o custo
do pagamento das aposentadorias
e benefícios.
A agenda preparada pelo Palácio
do Planalto não admite deixar para o próximo ano o final da votação da polêmica reforma da Previdência Social.
Derrotado na tentativa de reduzir o custo das aposentadorias dos
servidores públicos, sobrou ao governo a alternativa de economizar
com as aposentadorias dos trabalhadores do setor privado que já
contribuem com a Previdência.
A emenda constitucional diz que
os trabalhadores terão de optar
entre a idade mínima (de 53 anos
para homens ou 48 anos para as
mulheres) e tempo de contribuição (de 35 anos para homens e 30
anos para mulheres).
Somente com o pagamento de
aposentadorias e pensões do setor
privado, o Ministério da Previdência calcula um rombo de R$ 7 bilhões até o final do ano. Sem a reforma, o rombo tende a crescer no
primeiro ano do próximo mandato.
Convocação
Para tentar tirar do papel as reformas administrativa e da Previdência, o governo pretende pôr o
Congresso para trabalhar pesado
logo depois do segundo turno das
eleições. A estratégia prevê também a convocação extraordinária
em janeiro.
A pauta de votações deverá incluir a nova prorrogação da cobrança da CPMF (o imposto do
cheque), uma emenda constitucional que ainda é objeto de divergências internas no governo.
O governo arrecadará mais de
R$ 7 bilhões com a contribuição
neste ano e terá dificuldades para
fechar as contas no próximo ano
sem ela.
Exportar: bóia salvadora
O cenário pós-eleitoral traçado
durante a semana por interlocutores de FHC exclui mudanças bruscas no câmbio (cotação do real em
relação ao dólar) para combater
outra ameaça ao Plano Real, o déficit nas contas externas.
A saída traçada por FHC para
evitar mexer no câmbio, uma das
âncoras do Plano Real, é uma política mais agressiva de exportação,
comandada pelo secretário-executivo da Câmara de Comércio
Exterior, José Roberto Mendonça
de Barros.
O futuro programa de governo
de FHC prevê que o aumento das
exportações será não apenas a alavanca para o crescimento da economia, mas o principal eixo do
projeto de desenvolvimento do
país.
A meta de FHC até o final de um
eventual segundo mandato é exportar US$ 100 bilhões por ano.
No ano passado, o Brasil exportou
US$ 52,986 bilhões.
Como as exportações cresceram
apenas 6,9% nos primeiros sete
meses do ano, o esforço para aumentar as vendas externas terá de
ser bem maior daqui para a frente,
para recuperar uma taxa média de
crescimento de 14% ao ano, com
chances remotas de ser atingida
em 1998.
Colaborou
Shirley Emerick, da Sucursal de Brasília
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