São Paulo, domingo, 9 de agosto de 1998

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PRIVATIZAÇÕES
Espanhóis destinam R$ 9,8 bilhões; em segundo lugar no ranking vêm os EUA, com R$ 9,6 bilhões
Espanha lidera investimentos estrangeiros

CLÁUDIA TREVISAN
da Reportagem Local

A Espanha, seguida de perto pelos Estados Unidos, lidera os investimentos de países estrangeiros nas privatizações federais e estaduais realizadas no Brasil desde 1991, quando começou o processo de desestatização.
Levantamento feito pela Folha indica que empresas espanholas destinaram R$ 9,8 bilhões aos leilões de estatais brasileiras. As norte-americanas estão logo atrás, com R$ 9,6 bilhões.
Entre 1991 e 1998, a União e Estados brasileiros arrecadaram R$ 63,2 bilhões com a venda de estatais, dos quais R$ 27 bilhões vieram de empresas estrangeiras.
O alvo preferencial dos espanhóis foram as companhias de telecomunicações, enquanto os norte-americanos investiram mais no setor de energia elétrica.
Essas duas áreas praticamente monopolizaram os recursos estrangeiros destinados às privatizações no Brasil.
Preferências
As telecomunicações receberam R$ 15,5 bilhões, e as companhias energéticas, R$ 11 bilhões. São cifras bastante superiores aos R$ 407 milhões destinados ao setor de transportes, que ocupou o terceiro lugar na preferência dos estrangeiros.
Das 14 estatais de energia elétrica leiloadas desde 1991, 8 foram compradas por empresas de outros países. Em outras 2, o capital estrangeiro divide com o nacional o controle da companhia.
A presença estrangeira é ainda mais forte na telefonia. O capital nacional conseguiu comprar apenas 2 das 12 empresas do Sistema Telebrás leiloadas em 29 de julho.
Outras 5 ficaram totalmente sob o controle de companhias estrangeiras. Empresas brasileiras dividem com investidores de outros países o controle das 5 restantes.
Crise asiática
Nem a crise asiática, que sacudiu a economia mundial em outubro do ano passado, acabou com a disposição dos estrangeiros de comprar estatais no Brasil.
Menos de dois meses depois do início da crise, o Rio Grande do Norte vendeu sua estatal de energia elétrica (Cosern) a um consórcio da espanhola Iberdrola com brasileiros por R$ 717 milhões -um ágio de 73,61% sobre o preço mínimo.
Em abril de 1998, foi a vez de o Ceará vender sua estatal elétrica a um grupo de empresas do Chile, Portugal e Espanha por R$ 995,6 milhões (ágio de 27,2%).
No mesmo mês, o Estado de São Paulo privatizou -sem ágio- a Eletropaulo Metropolitana. A empresa ficou com o mesmo grupo que controla a Light: as norte-americanas AES e Houston Industries Energy e a francesa EDF (Électricité de France).
O entusiasmo foi muito maior na venda da Elektro, a distribuidora de energia paulista arrematada pela Enron (EUA) por R$ 1,48 bilhão e ágio de 98,9% -um recorde no setor elétrico.
Europeus
Mas nada pode ser comparado à disposição dos estrangeiros na privatização da Telebrás.
Com a compra de empresas do setor de telefonia, os europeus suplantaram os norte-americanos em volume de investimentos nas privatizações brasileiras.
Os portugueses, que até então tinham destinado apenas R$ 272,8 milhões ao setor elétrico, passaram a ocupar o terceiro lugar no ranking dos maiores investidores em privatizações no país, com um total de R$ 4,3 bilhões.
A Itália, que ainda não havia investido em leilões de estatais brasileiras, gastou R$ 1 bilhão com empresas da Telebrás e ocupa agora o quarto lugar no ranking. Todos os investimentos foram feitos pela Italia Telecom.
Telefónica
A Telefónica (Espanha), que comprou a Telesp (Telecomunicações de São Paulo), é a lider absoluta em investimentos. Sozinha, aplicou R$ 6,7 bilhões em empresas da Telebrás e na gaúcha CRT (Companhia Riograndense de Telecomunicações).
Sua parceira Portugal Telecom aparece em seguida, com investimentos de R$ 4 bilhões.
Duas norte-americanas ocupam o terceiro e quarto lugares no ranking: a MCI, que comprou a Embratel por R$ 2,7 bilhões, e a AES, que destinou R$ 2,6 bilhões à área de energia elétrica.
Explosão
Os investimentos estrangeiros em privatizações brasileiras explodiram em 1996, quando representaram 49,12% dos R$ 5,7 bilhões arrecadados pela União e por governos estaduais.
No ano seguinte, a presença dos estrangeiros diminuiu em relação ao volume total obtido, mas cresceu em números absolutos.
Empresas de outros países destinaram, em 1997, R$ 4,8 bilhões a leilões de estatais brasileiras, R$ 2 bilhões a mais que em 1996. A cifra representou 26,22% dos R$ 18,3 bilhões arrecadados.
Recorde
Em 1998, a presença estrangeira atingiu seu ápice. Nos sete primeiros meses do ano, empresas de outros países investiram R$ 19 bilhões nas privatizações brasileiras. O valor equivale a 66,66% dos R$ 28,5 bilhões obtidos no período.
Nos leilões realizados entre 1991 e 1995, a presença estrangeira não ultrapassou o percentual de 7,30% do total arrecadado. Em 1995, a presença estrangeira chegou a seu índice mais baixo, tanto em números absolutos quanto relativos: 0,43% de R$ 1,1 bilhão.



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