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Telesp foi negócio do século, diz comprador
enviada especial a Lisboa
Uma semana depois do leilão da
Telebrás, os portugueses ainda comemoram a compra da Telesp Celular. O presidente do grupo Portugal Telecom, Francisco Murteira
Nabo -ex-ministro das Comunicações de seu país e ex-governador
de Macau- diz que a oportunidade de comprar o controle de uma
empresa como a Telesp só acontece uma vez no século.
Em entrevista exclusiva à Folha,
Murteira Nabo contou que soube
na véspera do leilão que o consórcio BellSouth/Safra havia desistido
e esse fato, segundo ele, mudou o
rumo da disputa.
A Portugal Telecom tinha uma
estratégia articulada com a Telefónica de España. O leilão começava
pelas quatro empresas de telefonia
fixa, e os espanhóis apresentariam
propostas para a Telesp e para a
Tele Centro Sul. Onde os espanhóis vencessem na telefonia fixa,
os portugueses apostariam tudo
para arrematar a celular.
A vitória em São Paulo alterou a
estratégia de internacionalização
da Portugal Telecom, que desistiu
temporariamente de ampliar sua
presença na África.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
(ELVIRA LOBATO)
Folha - A Portugal Telecom venceu o leilão da Telesp Celular oferecendo R$ 700 milhões a mais do
que o segundo colocado. Não terá
feito um mau negócio? O que pode
acontecer com a companhia se o
investimento no Brasil der errado?
Murteira Nabo - Não dará errado. O mercado brasileiro tem uma
das maiores taxas de crescimento
do mundo e São Paulo é a região
com maior potencial para a telefonia celular, com apenas três celulares instalados por cem habitantes
no Estado. Em Portugal, temos 20
telefones celulares por cem habitantes e em pouco tempo vamos
chegar a 30. Portanto, não há como dar errado no Brasil. Comprar
o controle de uma empresa como a
Telesp é algo que só acontece uma
vez no século, em termos da dimensão do negócio e da janela de
oportunidades que se abre.
Folha - É como ganhar na loteria?
Murteira/ Nabo - O leilão é um
jogo. Nunca se sabe qual é a jogada
do adversário, não é?
Folha - A Portugal Telecom tem
1,1 milhão de clientes de telefonia
celular em seu país. A Telesp tem
1,5 milhão de usuários e uma fila
de espera por atender com mais
de 2 milhões de pessoas. Os srs. se
acham em condições técnicas para
enfrentar tal desafio?
Murteira Nabo - Nossa empresa de telefonia celular, a TMN (Telecomunicações Móveis Nacionais), é pequena, mas estamos entre os melhores da Europa. O grande desafio em São Paulo será migrar a rede analógica da Telesp para o sistema digital.
Folha - Em quanto tempo acabam as filas para a compra do celular em São Paulo?
Murteira Nabo - Nosso plano é
instalar 1 milhão de terminais digitais em um ano. Os detalhes serão
definidos nas próximas semanas
pelo novo presidente da Telesp Celular, Romão Mateus, que dirigiu a
TMN e fez uma verdadeira revolução na companhia.
Folha - Já definiram seus sócios
na Telesp Celular?
Murteira Nabo - A Telefónica
de España ficará com 35,8% do capital da Portelcom Participações,
que controlará a Telesp. Vamos ficar com 51% e vender os 13,2% que
sobram. Procuramos um parceiro
preferencialmente brasileiro, fundos de pensão ou bancos, que possam nos apoiar nesse processo.
Folha - Por que os srs. compraram 23% do capital da telefônica
CRT (telefônica do Rio Grande do
Sul), se iriam comprar a Telesp?
Agora, terão que se desfazer das
ações da empresa gaúcha.
Murteira Nabo - Compramos
porque era um bom negócio e porque não tínhamos certeza de que
iríamos vencer o leilão da Telesp.
Uma de nossas opções com a Telefónica era comprar o controle da
Tele Centro Sul, cuja área de concessão pode se juntar à da CRT.
Acontece que o leilão da Telesp foi
definido primeiro e nós ganhamos. Se não tivéssemos vencido
em São Paulo, iríamos ganhar a
Tele Centro Sul, com certeza.
Folha - Os srs. foram ao leilão
com uma estratégia previamente
acertada com a Telefónica?
Murteira Nabo - Somos parceiros dos espanhóis e nossa estratégia para a compra de uma telefônica celular dependia do desempenho deles na compra de uma telefônica fixa. É muito mais fácil administrar uma telefônica celular
quando se tem a rede de telefonia
fixa na mesma região.
Folha - Esperava-se que a disputa pela Telesp se daria entre a Telecom Italia e a BellSouth, mas os
americanos desistiram.
Murteira Nabo - O fato de a
BellSouth não ter concorrido mudou tudo. Soubemos da desistência na véspera, à noite.
Folha - Como os srs. vão financiar
suas aquisições no Brasil?
Murteira Nabo - Fizemos um
empréstimo-ponte de cerca de
US$ 1 bilhão e agora, com calma,
vamos substituí-lo por um financiamento auto-sustentável.
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