São Paulo, domingo, 9 de agosto de 1998

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Telesp foi negócio do século, diz comprador

enviada especial a Lisboa

Uma semana depois do leilão da Telebrás, os portugueses ainda comemoram a compra da Telesp Celular. O presidente do grupo Portugal Telecom, Francisco Murteira Nabo -ex-ministro das Comunicações de seu país e ex-governador de Macau- diz que a oportunidade de comprar o controle de uma empresa como a Telesp só acontece uma vez no século.
Em entrevista exclusiva à Folha, Murteira Nabo contou que soube na véspera do leilão que o consórcio BellSouth/Safra havia desistido e esse fato, segundo ele, mudou o rumo da disputa.
A Portugal Telecom tinha uma estratégia articulada com a Telefónica de España. O leilão começava pelas quatro empresas de telefonia fixa, e os espanhóis apresentariam propostas para a Telesp e para a Tele Centro Sul. Onde os espanhóis vencessem na telefonia fixa, os portugueses apostariam tudo para arrematar a celular.
A vitória em São Paulo alterou a estratégia de internacionalização da Portugal Telecom, que desistiu temporariamente de ampliar sua presença na África.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
(ELVIRA LOBATO)

Folha - A Portugal Telecom venceu o leilão da Telesp Celular oferecendo R$ 700 milhões a mais do que o segundo colocado. Não terá feito um mau negócio? O que pode acontecer com a companhia se o investimento no Brasil der errado?
Murteira Nabo -
Não dará errado. O mercado brasileiro tem uma das maiores taxas de crescimento do mundo e São Paulo é a região com maior potencial para a telefonia celular, com apenas três celulares instalados por cem habitantes no Estado. Em Portugal, temos 20 telefones celulares por cem habitantes e em pouco tempo vamos chegar a 30. Portanto, não há como dar errado no Brasil. Comprar o controle de uma empresa como a Telesp é algo que só acontece uma vez no século, em termos da dimensão do negócio e da janela de oportunidades que se abre.
Folha - É como ganhar na loteria?
Murteira/ Nabo
- O leilão é um jogo. Nunca se sabe qual é a jogada do adversário, não é?
Folha - A Portugal Telecom tem 1,1 milhão de clientes de telefonia celular em seu país. A Telesp tem 1,5 milhão de usuários e uma fila de espera por atender com mais de 2 milhões de pessoas. Os srs. se acham em condições técnicas para enfrentar tal desafio?
Murteira Nabo -
Nossa empresa de telefonia celular, a TMN (Telecomunicações Móveis Nacionais), é pequena, mas estamos entre os melhores da Europa. O grande desafio em São Paulo será migrar a rede analógica da Telesp para o sistema digital.
Folha - Em quanto tempo acabam as filas para a compra do celular em São Paulo?
Murteira Nabo -
Nosso plano é instalar 1 milhão de terminais digitais em um ano. Os detalhes serão definidos nas próximas semanas pelo novo presidente da Telesp Celular, Romão Mateus, que dirigiu a TMN e fez uma verdadeira revolução na companhia.
Folha - Já definiram seus sócios na Telesp Celular?
Murteira Nabo -
A Telefónica de España ficará com 35,8% do capital da Portelcom Participações, que controlará a Telesp. Vamos ficar com 51% e vender os 13,2% que sobram. Procuramos um parceiro preferencialmente brasileiro, fundos de pensão ou bancos, que possam nos apoiar nesse processo.
Folha - Por que os srs. compraram 23% do capital da telefônica CRT (telefônica do Rio Grande do Sul), se iriam comprar a Telesp? Agora, terão que se desfazer das ações da empresa gaúcha.
Murteira Nabo -
Compramos porque era um bom negócio e porque não tínhamos certeza de que iríamos vencer o leilão da Telesp. Uma de nossas opções com a Telefónica era comprar o controle da Tele Centro Sul, cuja área de concessão pode se juntar à da CRT. Acontece que o leilão da Telesp foi definido primeiro e nós ganhamos. Se não tivéssemos vencido em São Paulo, iríamos ganhar a Tele Centro Sul, com certeza.
Folha - Os srs. foram ao leilão com uma estratégia previamente acertada com a Telefónica?
Murteira Nabo -
Somos parceiros dos espanhóis e nossa estratégia para a compra de uma telefônica celular dependia do desempenho deles na compra de uma telefônica fixa. É muito mais fácil administrar uma telefônica celular quando se tem a rede de telefonia fixa na mesma região.
Folha - Esperava-se que a disputa pela Telesp se daria entre a Telecom Italia e a BellSouth, mas os americanos desistiram.
Murteira Nabo -
O fato de a BellSouth não ter concorrido mudou tudo. Soubemos da desistência na véspera, à noite.
Folha - Como os srs. vão financiar suas aquisições no Brasil?
Murteira Nabo -
Fizemos um empréstimo-ponte de cerca de US$ 1 bilhão e agora, com calma, vamos substituí-lo por um financiamento auto-sustentável.



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